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José do Egito tem qualidade, mas texto didático prejudica

Publicado terça-feira, 05 de fevereiro de 2013 às 14:42 h | Atualizado em 05/02/2013, 14:43 | Autor: Murilo Melo
José do egito
José do egito -

A Record parece decidida a produzir cada vez mais minisséries bíblicas. A prova disso é que, após A História de Ester (2010), Sansão e Dalila (2011) e Rei Davi (2012), a emissora paulista continua a saga de minisséries com este tema em José do Egito, estreia da última quarta-feira, 30. E está certíssima no que faz. O resultado do investimento de R$ 23 milhões na produção da minissérie evidencia que é isso o que a emissora sabe fazer de melhor na dramaturgia. José do Egito apresenta direção ágil de Alexandre Avancini, com dinamismo ao utilizar a grua e o travelling, responsáveis pelas movimentações das câmeras; produção caprichada, vide nas ótimas escolhas cenográficas - principalmente as do deserto, o que a deixa com uma fotografia que impressiona; além de ter pontos positivos pela bela abertura, iluminação e figurinos de muito bom gosto.

A autora Vivian de Oliveira apresentou no capítulo de estreia, logo nas primeiras cenas, a inveja de Lia (Denise Del Vecchio) pela irmã Raquel (Mylla Christie), por ela ser a preferida de Jacó (Celso Frateschi), que vive o marido das duas. Adiante, Lia coloca seus filhos mais velhos contra o caçula José, que é filho de Raquel. Para piorar a situação, José ainda é o favorito de Jacó. Não demora e logo inicia o drama do personagem José, depois que ele é vendido pelos próprios irmãos a um mercador de escravos.

Vivian de Oliveira não pode reclamar da história que decidiu adaptar. José do Egito, pelo que pode ser lido na Bíblia, é um prato cheio de todos os itens fundamentais que um folhetim precisa ter para chamar atenção do público, ainda que tenha sido contada no Antigo Testamento. Tem muita rivalidade, intriga, mentira, vingança, romance, violência sexual, traição, ascensão do mocinho e redenção de vilões.

O primeiro capítulo, todo autor sabe, serve para introduzir personagens e, consequentemente, situar seus universos. Mas, Vivian e a equipe de produção e direção, além de trazer isso à tona, moldaram a trama em um ritmo acelerado e envolvente, sem deixar o público cair no sono.  A cena do estupro de Diná (Marcela Barrozo), por Siquém (Paulo Nigro), por exemplo, prova bem isso.  Foi ágil, inteligente, ao mesmo tempo  forte, sem exagerar e muito menos precisar abusar do sensacionalismo.

Entretanto, José do Egito tem um roteiro muito didático. A impressão que se tem, desde a primeira cena até a última, é de que os atores estão recitando versículos da bíblia. Não só pelo texto vez ou outra rebuscado, mas pela imposição que a autora faz para apresentar ao público costumes, época e regras, só para citar alguns. Às vezes, o telespectador pode confundir o seriado com um estudo da bíblia, e isso não pode acontecer.

Da mesma maneira, há problemas na direção de elenco. O protagonista José, vivido nesta fase pelo ator Ricky Tavares, não parece estar em sintonia com a trama. Não mostra a que veio. É visto com poucas expressões, ocasionando numa interpretação fraca. Fora Tavares, atrizes como Andréa Avancini e Carla Bila parece que apenas passam o texto e só.

É uma pena. José do Egito, marcada por inúmeras qualidades técnicas, se perde no que deveria ser mérito principal da obra: bom texto e ótimas atuações. O resto, deveria servir apenas para acrescentar.

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