ESPETÁCULO
Daniela Mercury homenageia Chico Buarque em show acústico na Caixa
Espetáculo Uma CHICA celebra 80 anos de Chico Buarque e 40 anos de carreira de Daniela Mercury, em formato intimista

Por Maiquele Romero

A obra de Chico Buarque sempre foi um norte na trajetória de Daniela Mercury. É com esse farol que a cantora sobe ao palco da Caixa Cultural Salvador neste fim de semana – nestas sexta, 20, e sábado, 21 - para apresentar Uma CHICA.
O espetáculo celebra os 80 anos do compositor carioca, mas também marca quatro décadas de carreira de Daniela, que opta por um formato acústico e intimista para dar protagonismo à interpretação.
“Eu tentei fazer um grupo mais enxuto de músicos para que a voz e a interpretação fossem privilegiadas”, explica. Revisitar Chico neste momento é também uma revisitação dos 60 anos de vida da própria artista.
“Quando eu pensei em cantar para homenagear os 80 anos de Chico, eu percebi que, na verdade, eu estava me dando um presente porque eu sempre amei as canções de Chico, cantava muito nos barzinhos”, esclarece a cantora.
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No palco, Daniela divide o espetáculo com o filho Gabriel Mercury, cuja parceria se estende à direção musical. “Gabriel é um grande produtor, arranjador, músico e faz com que tudo aconteça de uma maneira mais rápida. Ele assumiu a direção desse espetáculo, porque as músicas de Chico são muito sofisticadas e precisam de muito cuidado”, conta a mãe coruja.
Acompanhando mãe e filho, o violonista e guitarrista Mou Brasil, presente desde os tempos do bloco Cuca Fresca, em 1983, garante a guitarra e o violão principais, enquanto Vitor Brasil assume a bateria para sustentar sambas e bossas.
Daniela também aproveita alguns arranjos de Gerson Silva, de shows anteriores, e cria novos, compondo um repertório que passeia por universos distintos da obra de Chico, mas que dialoga intimamente com sua própria história.
Forte influência
Sua relação com a obra do compositor atravessa décadas. Desde o início da carreira, ela gravou e interpretou canções de Chico. A primeira foi Cotidiano, no álbum O Canto da Cidade (1992), e depois gravada junto com Chico Buarque num programa especial de TV.
Ainda viriam muitas outras: O Que Será (A Flor da Terra), Atrás da Porta, Retrato em Branco e Preto, Sem Fantasia – todas gravadas no álbum Clássica (1999). A partir daí, surgiram parcerias, gravações e encontros memoráveis, sendo o primeiro quando Chico foi assistir ao show O Canto da Cidade, no Rio de Janeiro. “Foi dos melhores presentes que recebi na vida”, relembra a cantora.
No entanto, o contato da artista baiana com as canções de Chico começou bem antes. Quando ainda cantava em barzinhos, no início da carreira, o compositor carioca já embalava o público através da voz de Daniela, que se declara cria da obra dele.
“Eu ouço Chico desde pequenininha, desde bailarina, dançarina de contemporâneo, fazendo teatro, refletindo sobre o Brasil, vivenciando em casa as questões da ditadura e ouvindo as respostas e as músicas de resistência de Chico”, comenta a baiana.
Ela reforça ainda que a música que ouvimos em casa cria a nossa consciência de mundo e que a sua visão foi muito ampliada poeticamente, harmonicamente e politicamente pela obra de Chico.
Além do autor de Folhetim, a artista também cita Gilberto Gil e Caetano Veloso como grandes influências políticas e musicais, assim como os blocos afros, que trouxeram a percussão e suas letras como instrumentos de denúncia e luta. Essa influência, diz Daniela, está no cerne de sua identidade como artista engajada.
“Minhas músicas sempre falaram dessa dicotomia, de uma alegria, do sonho de uma democracia mais igualitária. Efetivamente, de uma democracia real e do que a gente tá precisando falar pra chegar nela. Era preciso falar de coisas duras, mesmo dançando. E eu fui encontrando meu jeito de dar os recados”, afirma.
Caráter político
Seu caráter revolucionário aparece de diferentes formas em Uma CHICA. Daniela nasceu durante a ditadura militar e afirma que desde cedo se indignou com o autoritarismo, e ao revisitar a obra de Chico, lembra também de sua própria trajetória.
Isso inclui decisões artísticas e políticas, como cantar samba-reggae, pois, para ela, o samba é afirmativo e inclusivo, a nossa grande música de protesto. “O samba é sempre revolucionário, é sempre do pobre para o rico, ele sempre tem um discurso, ele sempre faz um papel revolucionário e emancipador”.
Ao declarar que o axé é música popular brasileira (MPB), Daniela também faz questão de reafirmar a importância do gênero como manifestação artística e de protesto. Ela lembra que os blocos afros sempre protestaram, sempre foram resistência e ela inseriu a percussão na sua música como uma referência direta a essa música política.
Além disso, a cantora reforça que o axé também exerceu um papel fundamental na reconstrução da alegria coletiva após a redemocratização do Brasil, e lembra que a “alegria também é revolucionária, alegria cura”.
Essa dimensão engajada da música se entrelaça em todo o seu fazer artístico: cada samba, cada percussão, cada arranjo carrega camadas de significado. É esse equilíbrio entre emoção, mensagem e construção sonora que aproxima, naturalmente, sua trajetória artística da de Chico, que também combina poesia, política e uma rica estética musical.
A artista baiana comenta que as linhas de baixo, harmonias complexas e personagens que falam da realidade brasileira e compõem essa estética de Chico são referências constantes para o seu trabalho.
“Eu acho a obra de Chico sempre elucidativa, parece que conta a história de vários personagens do Brasil”. Ela cita como exemplo a música Geni, que considera extremamente atual e representativa de toda a história de luta LGBT+.
Fala ainda de Deus lhe pague, Cálice, Apesar de Você e destaca que o Brasil precisa e sempre precisou de “um grupo de artistas que continuasse a pontuar as mazelas na política, as mazelas sociais, as questões que tínhamos para vencer”, É isso que ela quer trazer para o palco este final de semana.
O espetáculo terá três apresentações: hoje, às 17h e 20h, e amanhã às 19h. Os ingressos já estão esgotados, mas a bilheteria da Caixa disponibiliza novas entradas, de acordo com a lotação do espaço, a partir de uma hora antes de cada apresentação.
Serviço
- Uma CHICA
- 20 e 21 de setembro
- CAIXA Cultural, Centro
- Sábado: duas sessões, às 17h e às 20h | domingo às 19h / Ingressos esgotados.
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