DANÇA
Espetáculo com dançarinos surdos tem apresentação gratuita em Salvador
'Movimento de Escuta' mistura coreografia, funk, Libras e histórias de vida
Por Eugênio Afonso

No palco, dançarinos surdos contam histórias sobre suas vidas, a relação com a cidade e com a comunicação entre surdos e ouvintes. Falam também de machismo, preconceito, racismo. Tudo isso através da dança.
Baseado neste roteiro, Movimento de Escuta – espetáculo dançado e falado em Libras – estreia amanhã, às 19h, no teatro do Goethe-Institut (Ex-Icba), e tem mais duas apresentações: 6 e 7 de junho com duas sessões em cada dia. E para encerrar o projeto, acontece, no dia 7, às 20h, um debate performático.
Idealizado pela diretora Clara Kutner – filha de Paulo José (1927-2021) e Dina Sfat (1938-1989), dois grandes artistas da cena nacional –, o espetáculo nasceu com a criação da companhia carioca de dança SOM, grupo de jovens bailarinos surdos fundado pela própria Clara em 2018.
Composto pelos dançarinos e intérpretes criadores Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thayssa Araújo e Thaís Souza, Movimento de Escuta é gratuito, tem direção de Kutner e mistura elementos da experiência de cada um deles, enquanto questiona a falta de comunicação.
“Quando comecei o projeto SOM, que é um projeto de pesquisa, de arte sonora, arte surda e dança, eu fiz dois trabalhos, e o Movimento de Escuta é o terceiro trabalho nosso e o primeiro profissional do grupo. Então, a ideia do espetáculo é a gente começar uma vida, uma estrada com esse grupo de bailarinos surdos e com a minha direção”, especifica Kutner.
Clara diz que o público vai ver em cena uma mistura de arte surda com dança. “É muito interessante, porque a recepção dos ouvintes também é sempre muito positiva. Porque mesmo não entendendo Libras, o espetáculo é sobre percepção e comunicação”.
“Então, as pessoas viajam, porque tudo é uma grande dança dentro do espetáculo. Então, é muito interessante. As pessoas gostam muito, independente de serem surdas ou ouvintes”, complementa.
Com destaque para o gênero musical oriundo da favela carioca, a trilha sonora é composta por músicas feitas especialmente para o espetáculo e ganha a assinatura do diretor musical Luciano Câmara.
“É um repertório que mistura funk, passinho e músicas do Rio. E como o espetáculo fala também um pouco da relação com a cidade [Rio de Janeiro], eu escolhi o funk como motor do nosso espetáculo”, detalha a diretora.
E, quando o assunto é se apresentar na Bahia, Clara diz que sua relação com Salvador é basicamente de trabalho. “Na verdade, eu amo o sul da Bahia e Salvador também. Ano passado, fui ao Fiac (Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia). Agora, estou voltando para apresentar o espetáculo. E eu amo, acho que é muito rico. Salvador é muita poesia misturada com muita música. É uma cidade de muita arte. E muita fé, muita religião. É uma cidade muito forte”, pontua.
Leia Também:
Desafiador e gratificante

Para o dançarino carioca Luiz Augusto, o propósito do espetáculo é refletir sobre a importância da empatia e da convivência em sociedade, sobretudo com relação aos grupos minorizados. “É um tema relevante e atual”, defende Augusto.
Ele conta ainda que a participação dos integrantes da companhia é sempre como personagem principal. “O que é um papel desafiador e gratificante”. E diz que a apresentação em Salvador será uma experiência maravilhosa, “com um público caloroso e acolhedor”.
Já o integrante Lucas Guilherme – que apesar de carioca cresceu na capital baiana – acredita que o intuito do espetáculo é também compartilhar as experiências do cotidiano e questionar a falta de comunicação. Ele informa que sua participação se dará através de três personagens.
“Um homem e uma mulher que se encontram e têm um relacionamento. Conforme passa o tempo, a mulher fica grávida e daí nasce um menino surdo que veio pra dançar no mundo”. Lucas conta que é um prazer enorme se apresentar em Salvador “porque cresci aqui e espero entregar tudo”, alinhava.
Também como parte da programação, no dia 5, às 14h, acontecerá o workshop Mergulho em Dança e Arte Surda. Gratuito, o encontro será ministrado por Clara Kutner e os bailarinos da Cia SOM.
Com inscrição através do e-mail [email protected], a oficina abordará improvisação em dança flamenca, funk e passinho, estudo rítmico e percepção melódica, dança com Libras e visual vernacular.
Movimento de Escuta é uma realização de Rede das Artes, Funarte, MinC e Governo Federal, A Arte Nunca Dorme Produções e Projeto SOM; Patrocínio do Circuito Funarte de Dança Klauss Vianna 2023 e conta com o apoio do Goethe-Institut Salvador.
Movimento de Escuta / 5 de junho às 19h, 6 às 15h e 19h, e 7 às 17h e 19h / teatro do Goethe-Institut / Gratuito / Distribuição das senhas, uma hora antes de cada sessão / Sujeito à lotação do espaço
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes