CÊNICAS
Espetáculo ‘Rainha Ratilho’ estreia no Teatro Sesi
Atriz e cantora Lilica Rocha protagoniza peça que traz discussão sobre invisibilidade
Por Elis Freire*
Muitos vêm se movimentando, se unindo e se fortalecendo e as pessoas se negam a ver. Esta é a premissa da peça Rainha Ratilho, que estreia, hoje, às 16h, no Teatro SESI, no Rio Vermelho. Com a atriz, cantora e multi-instrumentista Lilica Rocha, de apenas 10 anos de idade, o espetáculo trata da invisibilidade social, a partir de um universo distópico do imaginário infantil.
Inspirada em um personagem imaginário criado pela própria Lilica, a montagem fica em cartaz até o dia 25 de agosto, com sessões às sextas-feiras, 16h, e aos sábados e domingos, 20h.
O texto e a direção são do artista Leo Rocha, pai da protagonista, que encarna a Rainha Ratilho, uma espécie de mulher rato que, por vezes, parece uma vilã, mas poderá se tornar uma grande heroína. Acompanhada pelo ator Fernando Alves, que interpreta o Bobo, a peça mergulha no mundo da imaginação que é uma espécie de refúgio diante do caos que a humanidade gerou no planeta.
“Eu aprendi várias coisas, porque, apesar de eu ter várias experiências com o cinema, artes visuais e algumas experiências com teatro, esta experiência me deu vários aprendizados. Foram muitas coisas que eu aprendi nesse processo de interpretar Ratilho, que é uma rainha que parece ser má, mas ela não é. É uma experiência muito maravilhosa”, destaca Lilica Rocha sobre o espetáculo, estreia dela no teatro.
“Desde pequenininha, eu também tenho interesse sobre o teatro. Quando eu era menor, eu ia para vários teatros, ia ver e queria participar. Eu amava, e, assim como a música, desde a barriga da minha mãe o teatro já estava presente”, afirma Lilica.
Distopia possível
A narrativa de Rainha Ratilho se passa em 2250, em um tempo distante em que a desigualdade e a escassez de recursos naturais ainda são uma realidade. Com histórias que estimulam reflexões sobre o presente e as possíveis consequências, a montagem convida o público a olhar com mais cuidado para os outros e para a natureza.
“Acima de tudo, a peça traz uma reflexão para a gente pensar que, hoje, em 2024, a gente vive uma realidade que a gente já precisava ter superado, mas ainda não superou. Certamente chegaremos em 2250, que é o tempo que acontece a história do espetáculo, e teremos muitos desafios ainda para melhorarmos enquanto seres humanos”, explica o diretor e dramaturgo Leo Rocha, que já atuou em mais de 25 montagens teatrais.
“É um espetáculo que traz à luz muitas reflexões, é lúdico, tem canções, tem um imaginário infantil muito presente, mas também faz a gente refletir muito sobre quem nós somos em 2024 e como nós vamos estar quando chegarmos em 2250”, completa.
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Invisíveis entre nós
Movido por conhecimentos e indagações adquiridas em um trabalho de mais de dois anos, junto a pessoas em situação de rua, o diretor Leo Rocha buscou evidenciar a importância de se olhar para aqueles que vivem nas profundezas da desigualdade em Salvador.
A partir do universo lúdico da imaginação infantil e da musicalidade pulsante, o espetáculo se relaciona com a realidade brasileira, colocando em questão a invisibilidade que se dá ao outro e ao diferente. A ideia de que “os invisíveis” também fazem cultura, arte e podem ensinar e aprender é uma premissa que move os ideais da peça.
“A peça traz esses dois personagens num lugar de pessoas que vivem em situação de alta vulnerabilidade. Ou seja, eles vivem nas ruas que vivem, nos esgotos, vivem em lugar de submundo de fato. Essas pessoas estão na nossa sociedade no lugar de invisíveis que geram questões sociais e questões humanas, mas nós simplesmente passamos por eles todos os dias e não notamos essa existência de fato, enquanto seres humanos”, ressalta Leo Rocha.
“A humanidade está presente nessas pessoas que a gente olha como menos humanos. Eles são ricos de muito conhecimento, ricos de muita vivência, de muita sabedoria, são pessoas incríveis e muito inteligentes, que, por algum motivo da vida ou de questões sociais, pararam na rua. Eles precisam ter um olhar tanto da sociedade quanto dos poderes públicos”, destaca.
Para todas as idades
Livre para todos os públicos, Rainha Ratilho tem o figurino de Maurício Martins, adereços de Maurício Pedrosa, maquiagem de Weel, desenho de luz de Marcos Oliveira e trilha original de Adrian Estrela. As canções são de Lilica Rocha, Leo Rocha e Adrian Estrela.
“Eles vão poder ver várias coisas ligadas ao mesmo tempo e que eles venham, porque ela será uma experiência tão boa e eu acredito que eles vão sair muito felizes”, afirma a atriz Lilica Rocha.
“Eu quero convidar todo mundo, artistas e a sociedade de forma geral, mas também aqueles que têm uma vontade de viver o teatro, mas que ainda não foram. É um espetáculo de censura livre e também é um espetáculo que vai comunicar para aqueles que já gostam de teatro e para aqueles que nunca foram ao teatro”, completa o músico e escritor Leo Rocha.
O projeto, realizado pela Coletivo Cacos, foi contemplado pelo edital Territórios Criativos, com recursos via Fundação Gregório de Mattos e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (prefeitura de Salvador), pela Lei Paulo Gustavo (Ministério da Cultura, governo federal).
‘Rainha Ratilho’ / de hoje a 25 de agosto / Sextas-feiras, às 16h, sábados e domingos, às 20h / R$ 30 e R$ 15 / Teatro SESI Rio Vermelho / Classificação: Livre
*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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