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Exposição leva fé e tradição sertanejas ao museu

‘Reiseiros, Vida de Sorte e Saúde’ celebra a tradição do reisado no MASB, em Caetité. Mostra virá a Salvador em 2025

Por Raquel Brito*

03/09/2024 - 10:33 h
Na exposição, 
os audiovisuais, textos e objetos se juntam às cerca de 40 imagens de Ricardo Prado
Na exposição, os audiovisuais, textos e objetos se juntam às cerca de 40 imagens de Ricardo Prado -

Em todo fim de dezembro e início de janeiro, famílias ao redor do Brasil abrem as portas das casas para uma manifestação de fé e cultura. No alto sertão baiano, os toques das flautas, triângulos e instrumentos de percussão inundam os lares quando os grupos de foliões de cada região vão de casa em casa nos chamados ‘giros’, levando mensagens de fé, devoção e votos de saúde por onde passam, um movimento que recria a visita dos Três Reis Magos ao Menino Jesus.

Essa tradição tão bonita vem sendo acompanhada desde 2010, quando a produtora Olho de Peixe Filmes começou a fazer incursões no território para registrar como a celebração mobiliza os moradores. Mais de uma década depois, a produção ganha um formato multilinguagem na mostra Reiseiros, Vida de Sorte e Saúde – A Exposição, que será lançada nesta quinta-feira, no Museu do Alto Sertão da Bahia (MASB), em Caetité.

A visitação é aberta ao público e se estenderá até o dia 6 de dezembro.

A história do Reisado na região, que já havia sido contada através de obras do audiovisual e da literatura, agora explora e conecta outros campos. Na exposição, as intervenções audiovisuais, textos e objetos que integram a pesquisa de 14 anos do projeto se juntam às cerca de 40 imagens de autoria do fotógrafo Ricardo Prado, que também pesquisa as expressões artísticas e religiosas da Bahia – sendo inéditas mais da metade das fotografias.

Já familiar ao território do Alto Sertão e a trabalhar ao lado da Olho de Peixe Filmes, Prado celebra a chance de participar do projeto. “Estou muito feliz de poder retornar a Caetité e reencontrar a comunidade. Isso permite que o trabalho possa continuar crescendo e acompanhando as mudanças naturais dos Ternos de Reis”, conta.

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Fotógrafo documentarista com foco em manifestações culturais, ele foi atraído de cara pelos registros da Folia de Reis. “Principalmente por eu já ter tido contatos anteriores com a região, o povo e as manifestações, eu já sabia que muita riqueza poderia vir dali. Outro fator que pesou foi o fato de eu já ter uma relação de amizade e afinidade com os trabalhos da produtora”, conta ele.

Além da parceria na fotografia, a equipe que trouxe o projeto à vida conta com nomes como o músico Anderson Cunha (da banda Sertanília), responsável pela pesquisa e produção musical de todo o projeto, a jornalista Luciana Accioly e o redator e montador de cinema Daniel Dourado.

Todo o acervo fotográfico e audiovisual foi produzido em 2017, durante a documentação do projeto Trilha de Reis, que, na época, contemplou três produtos da obra Reiseiros, vida de sorte e saúde: uma websérie com dez episódios, um livro com 128 páginas, homônimos, e o documentário Tudo Tem um Tempo, com cerca de 90 minutos, lançados pela Olho de Peixe em 2018.

Sabrina Alves, realizadora do Projeto Reiseiros e sócia da Olho de Peixe Filmes, conta que o pontapé inicial da produção teve uma orientação valiosa do radialista e professor Luiz Benevides. Entusiasta da tradição do Reisado, ele já realizou mais de 30 edições do Festival de Ternos de Reis em Caetité.

“Benevides nos levou a diversas comunidades reiseiras tradicionais da zona rural de Caetité, cujos Ternos estavam na estrada fazendo os seus ‘giros’ desde o dia 31 de dezembro, quando iniciam o seu ritual cantando de casa em casa”, relembra.

As visitas resultaram em um acervo bruto que passa de 800 fotografias e 60 horas de acervo audiovisual. O tesouro esteve sob a guarda da Olho de Peixe desde 2017. “Em 2023, em um retorno ao território para a realização de um outro projeto, nós, realizadores, estivemos em contato novamente com os grupos de Ternos de Reis retratados e surgiu a ideia de propor uma exposição que tivesse na sua curadoria parte desse acervo registrado em 2017, entre fotos e imagens já retratadas nos suportes livro e audiovisual e imagens ainda inéditas ao público”, conta Alves.

Museu: cultura popular

Seja nas fotografias ou nas entrevistas em vídeo, a devoção de cada folião protagoniza e garante a identidade de Reiseiros, vida de sorte e saúde. Através da exposição, esse pertencimento e a manifestação da cultura popular traçam novos limites, ao ocupar os espaços museológicos.

A memória está em todos os cantos da exposição, onde são exibidos desde instrumentos utilizados na manifestação cultural a objetos pessoais de integrantes da folia de Reis. A montagem da exposição segue o ritual andarilho dos reisados: o visitante inicia a incursão no MASB contemplando a Bandeira de Reis, objeto imantado de fé que representa a identidade de cada grupo, passando pelos registros fotográficos e vídeo-instalação das danças que dão vida à celebração profana da festa, até chegar à Sala dos Instrumentos, que traz objetos musicais como o bumba, o pandeiro, a flauta, chamada de gaita pelos reiseiros, o reco-reco ou rec, e a caixa, instrumentos obrigatórios da manifestação cultural.

Imagem ilustrativa da imagem Exposição leva fé e tradição sertanejas ao museu
| Foto: Divulgação

Depois de Caetité, a expectativa é que as cidades de Salvador, Vitória da Conquista, Ilhéus e Itabuna também recebam a exposição multilinguagem. A escolha de onde começar a expor o resultado dos anos de pesquisa, porém, não poderia ser outra, que não ao lado de quem faz a tradição acontecer. Segundo Sabrina Alves, o diferencial de instalar a mostra em Caetité é justamente a possibilidade de perceber de perto o olhar dos retratados.

“Estar com eles, celebrar a manifestação de forma genuína com a presença espiritual e também física do Reisado. Devolver a confiança das comunidades através da programação socioeducativa que envolve oficinas, rodas de conversa e apresentações concebidas junto a eles e para eles. A ideia inicial da exposição Reiseiros, vida de sorte e saúde é seguir para itinerância a partir de janeiro, mas é aqui, no MASB, no Alto Sertão, em meio aos Ternos de Reis, que ela nasce e ganha força para romper adiante pela Bahia, pelo Brasil e pelo mundo afora”, defende.

Reiseiros é uma realização Olho de Peixe Filmes, com parceria institucional do MASB e patrocínio da Neoenergia Coelba, Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.

‘Reiseiros, vida de sorte e saúde’ / Exposição multilinguage;, abertura: quinta-feira (05), 18h / Museu do Alto Sertão da Bahia (MASB), Caetité / Visitação até 6 de dezembro /

Entrada gratuita

*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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Tags:

agenda cultural exposição MASB Museu do Alto Sertão da Bahia Reiseiros Vida de Sorte e Saúde Salvador Sertão

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