LITERATURA
Festival reúne 16 vozes da poesia baiana em Salvador
Livraria recebe poetas baianos e radicados na Bahia em uma tarde de leitura em voz alta, performances e debates

Por Maiquele Romero*

A poesia nasce do chão do povo. Ela não cabe em molduras, não é propriedade de elites, não se prende às paredes de bibliotecas. É viva, popular, feita de amor, afeto e ancestralidade.
No próximo sábado, 1º, essa poesia ecoa em Salvador, quando a Livraria LDM se tornará palco do Festival Onde se lê poesia. O evento será realizado na unidade do Shopping Bela Vista, das 15h às 19h, com entrada gratuita, reunindo 16 poetas baianos e radicados na Bahia.
Leia Também:
Mais do que um encontro literário, a proposta é celebrar a palavra viva, dita em voz alta, como quem firma os pés no chão para lembrar que poesia é corpo, memória e comunidade.
Do clube ao festival
Idealizado por Renata Ettinger e Maria Ávila, o festival nasce como desdobramento do clube de leitura homônimo. Criado no início do ano, o clube se tornou ponto de encontro mensal de leitores e poetas em Salvador, reunindo pessoas para ler em voz alta e transformar a experiência íntima da leitura em prática coletiva.
A vontade de ampliar esse espaço foi a semente do festival. “Geralmente, quando vamos para eventos literários, vemos o pouco espaço que é dado para a poesia. Quase sempre, são poucos os poetas convidados.
E perto da edição de setembro do Clube Onde se lê poesia’, combinamos de fazer uma edição especial para o Dia Nacional da Poesia”, conta Renata Ettinger.

Para Maria, a poesia é mais que texto: “Estive na Flica recentemente e, mediando uma mesa sobre prosa e poesia, tive o prazer de refletir coletivamente sobre a poesia enquanto uma insistência na beleza que há no mundo.
Para além do trabalho poético na palavra escrita, a poesia é uma fagulha de esperança e sensibilidade. Certa vez ouvi Maria Bethânia dizer que até cozinhando tem que ter poesia, e concordo”.
A curadoria, assinada pelas duas idealizadoras, reflete a pluralidade da cena baiana. “O Festival traz 16 poetas diversos, cujos livros dialogam com diferentes prismas da realidade do ser humano, para além do trabalho primoroso desenvolvido pelos poetas, prezamos por nomes cujo compromisso com a poesia é, assim como o nosso, torná-la popular e acessível”, afirma.
Coro poético
Entre os nomes confirmados, estão vozes que transitam entre diferentes estilos e perspectivas. A poeta e professora Ana Fátima, finalista do Jabuti, carrega em seus versos o amor, o afeto, a força do feminino, da mulher negra e da maternidade.
Suas leituras no festival vêm do lugar de quem planta diariamente ancestralidade africana e espiritualidade, fundamentos que marcam seus livros Já fui à água um dia (2024) e Oferenda ao mar (2025).
A professora e poeta acredita que “A poesia de fato é de todas as pessoas. E estar neste festival é a celebração deste popular, é a celebração desse lugar vivo que a poesia nasce e continua pulsando, que é estar com todos no meio do povo, falando de nossas realidades e crenças”.
A performance, para ela, é também um ato político: “É firmar os pés no chão e dizer ‘isso é nosso’ e vamos colocar os nossos lugares, nossos dizeres na rua, na praça, no parque, no mar, onde o nosso corpo estiver, a poesia vai estar”.
Diante dos desafios sociais e políticos, ela vê a poesia como abrigo e arma: “Diante dessas contradições sociais e políticas, a poesia ainda é aquilo que nos abraça, nos põe no colo, nos coloca para dormir diante dessa tragédia que é o racismo, a misoginia, os extermínios, o genocídio da comunidade negra e dos povos originários”.
Também participa do festival o poeta Moisés Alves, autor de Mangue. Ele leva ao encontro poemas do livro, além de composições inéditas, e vibra com a celebração da poesia em coletividade, pois na sua opinião, essa é a sua única forma de existir.
“Nós, que somos o povo, precisamos sempre abrir espaços coletivos para falar em voz alta o que nos afeta, e assim colocar toda espécie de pensamento e sensação em trânsito, em circulação”.
Moisés defende que “todo artista é, portanto, de alguma maneira um artista de rua, porque aquilo a que ele dá forma seja em palavra escrita, falada ou cantada, não pertence à sua subjetividade dita própria”.
As próprias curadoras também levarão seus poemas ao palco. Renata apresenta seu mais novo livro, ]não cabe nas mãos[, marcado pelo diálogo com mulheres poetas e pela potência do silêncio e da voz.
Maria, por sua vez, compartilha poemas de Frida Aqui Dentro, obra em que dialoga visceralmente com a pintora mexicana. “Eu escrevo sobre as experiências que me atravessam com maior impacto, que me tomam e me tocam sem possibilidade de escape”, afirma.
Fagulha, ou chama
O festival se desenha como uma celebração da poesia em sua forma mais viva: a oralidade, o encontro e a partilha. “Esperamos que cada pessoa leve consigo a ideia de que sim, qualquer pessoa pode ler poesia”, dizem as organizadoras. “E que, como diz o Ferreira Gullar, o poema ‘pode, às vezes, com sua energia, iluminar a avenida ou quem sabe uma vida’”.
Se depender dos poetas, será isso que ficará do encontro. A lembrança de que, quando a palavra encontra voz, ela não ilumina apenas uma vida, mas acende uma comunidade inteira.
Serviços
➡️ Festival Onde se lê poesia
▪️Data: Sábado (1º de novembro)
▪️Horário: das 15h às 19h /
▪️Local: Livraria LDM – Shopping Bela Vista
▪️Entrada gratuita
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes



