Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > CULTURA
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CULTURA GEEK

Heróis em dobro: mães geeks mostram que maternidade também é superpoder

Mulheres equilibram maternidade, paixões e mostram que não é preciso abrir mão da própria identidade para ser mãe

Por Beatriz Santos

11/05/2025 - 7:00 h
Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo de produtos culturais
Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo de produtos culturais -

O Dia das Mães, além de todas as celebrações clássicas, é também um momento para lembrar que a maternidade não precisa significar abrir mão da própria identidade. No universo geek, onde paixões por animes, jogos, filmes e cosplay se entrelaçam com identidade e expressão pessoal, mulheres mostram que maternidade e cultura pop podem (e devem) caminhar juntas.

Nesse universo, personagens e histórias fantásticas moldam a identidade de muitos fãs, mas quando mães se tornam protagonistas desta narrativa, surge uma conexão ainda mais marcante. Para elas, a maternidade e o amor pelo universo geek são aspectos que se entrelaçam de forma especial, criando uma realidade onde o cuidado, a presença e o imaginário se tornam inseparáveis.

O que é ser geek?

A cultura geek ou nerd é um universo diversificado, que engloba uma ampla gama de interesses, das histórias em quadrinhos aos filmes, videogames, ficção científica, fantasia e tudo o que se relaciona com o "imaginário popular". Ao longo das últimas décadas, o que antes era considerado um nicho de um público restrito se expandiu e se transformou em um fenômeno global, abraçado por pessoas de todas as idades e origens.

Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo desses produtos culturais. Trata-se de uma imersão profunda em mundos ficcionais, uma paixão por aprender e discutir detalhes sobre personagens, histórias, universos paralelos e tecnologias avançadas. O cosplay, uma das vertentes mais visíveis da cultura geek, é um exemplo de como essa cultura pode ser uma forma de expressão e pertencimento. Ao se fantasiar de personagens, os fãs demonstram não apenas sua dedicação, mas também uma conexão emocional com os universos que representam.

Nos últimos anos, a popularização de filmes de super-heróis, séries de fantasia e eventos como a Comic-Con tornaram essa cultura ainda mais acessível e visível. A ideia de "ser geek" ou "nerd" já não é mais estigmatizada, mas celebrada, e muitos de seus símbolos e ícones passaram a ser parte do mainstream.

Leia Também:

Mães que desafiam os padrões

Quando o estigma da "supermãe" se mistura com a liberdade de se expressar por meio do cosplay do fandom e dos personagens que amam, elas rompem com a ideia de que há um único caminho para a maternidade. São mães que vestem o manto de heróis, exploram mundos alternativos e, ao mesmo tempo, oferecem aos filhos o suporte necessário para a construção de suas próprias identidades.

Em entrevista ao Portal A TARDE, cinco mulheres que, além de mães, são verdadeiras heroínas da cultura pop, mostram como compartilham suas paixões com seus filhos e, ao mesmo tempo, garantem que os laços familiares sejam fortalecidos através do afeto, da diversão e da fantasia.

Larissa Bacelar da Silva Macêdo

Família de Larissa Bacelar: Charlie, Fred, Sarah, Larissa e Dante
Família de Larissa Bacelar: Charlie, Fred, Sarah, Larissa e Dante | Foto: Arquivo pessoal

Diretora de arte com mais de 10 anos de experiência, Larissa Bacelar, 37, é mãe de três crianças: Charlie (13), Dante (10) e Sarah (6). Sua trajetória na cultura nerd começou ainda na infância, quando os pais estimularam seu gosto por livros, filmes da Disney e a franquia Star Trek. "Amo tanto Jornada nas Estrelas que não tenho action figures ou fantasias, tenho livros e estudos", conta.

Larissa chegou a apresentar trabalhos sobre ficção científica e direitos humanos a partir de Star Trek, e nunca abandonou o gosto pela fantasia. "Amo ver universos novos ou representações maravilhosas do nosso", explica.

Após se tornar mãe, o impacto foi grande: "Depois que a maternidade chegou, tudo isso começou a parecer meio impossível. A culpa não foi dos filhos, e sim da falta de suporte e da má divisão de tarefas."

Com o tempo, Larissa conseguiu se reconectar com esse lado. "Nunca mais foi como antes, mas deu pra resgatar bastante coisa". As noites de sexta viraram sessões de cinema com a família. Mesmo com o retorno, ela destaca que muitos eventos ainda não são acolhedores para mães.

Ainda assim, os eventos continuam não sendo tão family friendly quanto dizem. Muitos espaços não acolhem bem as crianças, mesmo quando pequenas adaptações resolveriam isso facilmente e, mesmo não sendo mãe atípica, entendo que isso é um tópico no qual devemos nos debruçar, até para o bem-estar da comunidade geek a longo prazo.
Larissa Bacelar da Silva Macêdo

A culpa materna e os julgamentos externos também são constantes. “Ainda sinto uma pressão, tanto interna quanto externa, para ‘amadurecer’, como se ser uma adulta completa exigisse abandonar tudo que remete à minha infância e adolescência. Como se gostar de coisas nerds fosse sinal de imaturidade — mas somente se você for mulher, e pior ainda se for mãe.”

A sociedade ainda acha que, pra ser uma boa mãe, você precisa estar acabada, exausta e sem direito a ter hobbies. Se estiver minimamente feliz e inteira, é porque está ‘fazendo algo errado’.
Larissa Bacelar da Silva Macêdo

Apesar disso, o universo geek é parte fundamental da criação dos filhos de Larissa. "Eles acabam chegando nos animes, séries, filmes e afins que eu gosto de forma bem natural. A gente apresentou esse mundo a eles, e eles simplesmente se apaixonaram."

Charlie, o mais velho, é politizado e fã de ilustração. Dante é "gamer nato", enquanto Sarah é apaixonada por cosplay e já participou de três edições da CCXP. Para Larissa, quebrar as barreiras impostas pela sociedade também é honrar sua identidade. “Como mulher, muitas vezes me senti pressionada a “separar” os meus gostos e a minha identidade para me encaixar em padrões ou expectativas, principalmente na maternidade.”

Uma educação de qualidade, de acordo com Larissa, também é mostrar para os filhos a importância de se ter amor próprio. “Se expressar, manter seus gostos, vestir um cosplay, maratonar sua série ou jogar seu game favorito não é egoísmo — é identidade. Quando você se cuida e se respeita, você mostra pros seus filhos como é importante ter amor-próprio, autonomia e alegria por ser quem se é.”

Ser nerd/geek nesse contexto é um lembrete constante de que podemos ser multidimensionais. Podemos ser mães dedicadas, mulheres complexas, profissionais competentes e apaixonadas por histórias fantásticas, tudo ao mesmo tempo, sem que uma coisa invalide a outra.
Larissa Bacelar da Silva Macêdo

Stephanie Soares Nereu

Stephanie Nereu e Dimitri
Stephanie Nereu e Dimitri | Foto: Caio Lírio

Para Stephanie Soares Nereu, 35 anos, a cultura nerd não é apenas um passatempo — é um elo afetivo que une gerações. Mãe de Dimitri, 14, ela começou sua trajetória no universo geek ainda na infância, quando assistia aos animes que passavam na extinta TV Manchete, como Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon e Dragon Ball. Mais tarde, a conexão com o universo pop japonês foi aprofundada graças ao acesso a canais fechados como Locomotion e Cartoon Network.

“Cresci assistindo Star Wars com o meu pai e sempre me interessei muito por livros de fantasia e ficção científica. O gosto veio de casa, e eu só fui expandindo conforme tive mais acesso”, conta. Entre os títulos que marcaram sua formação, ela destaca Sailor Moon, por trazer representações femininas poderosas. “Tem uma mensagem legal sobre não precisar deixar de ser uma garota para salvar o mundo.”

A entrada no mundo dos eventos começou cedo. “Frequento convenções desde os 15 anos. Acho que o que muda hoje é que eu não preciso mais ser a primeira a entrar nem a última a sair — de resto, curto tudo igual”, afirma. Com a maternidade precoce, algumas atividades ficaram em pausa, como tocar em bandas e fazer parte de grupos de dança. “Mas nunca deixei de jogar videogames e manter meus hobbies em casa”, completa.

Ao lado de Dimitri, Stephanie manteve viva sua paixão, desta vez como parte de uma dupla. Quando ele era menor, os dois se fantasiavam e participavam juntos de eventos e concursos. “Gosto muito de lembrar do nosso primeiro cosplay juntos, numa edição produzida pela 42 do Sauipe Geek! Eu fui de Charizard e ele de Ash, do anime Pokémon! Foi muito legal porque todo mundo reconheceu e ficou bem divertido”, recorda com carinho.

Hoje, o filho é um adolescente nerd que compartilha com a mãe o interesse por animes, séries e jogos. Em 2023, estiveram juntos na Comic Con Experience (CCXP), um dos maiores eventos da cultura pop do país. “Ele sempre participou de tudo comigo", afirmou.

É uma forma de mostrar que a maternidade não precisa ser o fim do indivíduo mulher. A gente não precisa deixar de gostar das nossas coisinhas só porque temos uma responsabilidade a mais. Ninguém pega no pé dos pais que não largam o baba [futebol] do fim de semana, né?”
Stephanie Soares Nereu

Mesmo com a crescente aceitação da cultura nerd no mainstream, ela ainda sente o peso do julgamento. “Já senti muita gente me julgando quando eu faço um cosplay ou quando vou para eventos, mesmo quando meu filho não vai. É impressionante como as pessoas acham que mães devem deixar de ter hobbies e paixões fora da maternidade.”

Stephanie também reflete sobre o machismo presente no meio nerd. Apesar de considerar o cenário baiano mais acolhedor, reconhece que é preciso estar atenta. “O machismo está em todas as esferas da nossa sociedade, e no meio nerd isso não seria diferente. Apesar disso, acho a comunidade nerd de Salvador até bastante respeitosa nesse sentido. São muitos anos ‘educando’ esse público em eventos”, observa.

Nossos filhos são nosso reflexo. Quanto mais você se mostrar feliz, bem resolvida — não importa com o quê —, melhor vai ser essa relação entre vocês. Então, ao invés de abandonar seus hobbies, torne-os uma atividade para vocês dois.
Stephanie Soares Nereu

Fernanda Almeida de Sousa

Fernanda Sousa e Ezio
Fernanda Sousa e Ezio | Foto: Danilo de Oliveira

Para Fernanda Almeida de Sousa, 32, a cultura nerd não é apenas um estilo de vida — é também uma ferramenta de conexão. Mãe de Ezio, de 4 anos, ela começou sua jornada geek ainda na infância, quando assistia animes ao lado do irmão mais velho, responsável por apresentá-la a esse universo. “Meu envolvimento com a cultura geek começou com meu irmão, que já gostava e me inseriu nesse mundo. Fui no meu primeiro evento em 2010, em Salvador, e lá conheci o universo cosplay. Fiquei encantada.”

Cosplayer ativa e gamer assumida, Fernanda destaca que a maternidade transformou sua rotina, mas não apagou seus interesses. “A gente não precisa abandonar quem somos quando viramos mães”, afirma.

Hoje, ela compartilha esse universo com o filho, que desde muito pequeno se mostra fascinado por jogos eletrônicos, tecnologia e personagens de animes. “Meu filho ama. Desde os seis meses de idade, eu colocava lente e peruca para ele se acostumar e não me estranhar. Ele fica quietinho quando estou vestindo ou preciso tirar medidas para um cosplay.”

Juntos, os dois frequentam diversos eventos da cena nerd baiana, como o AniCam, GameCam, AGF (Alternative Geek Festival) e o WOG (World of Geek), em Candeias, onde participaram pela primeira vez como mãe e filho cosplayers.

“Fui jurada no concurso e ele ficou prestando atenção em tudo. Sempre que sou convidada para eventos, ele adora se vestir de cosplay e até escolhe o personagem que vai usar”, conta. Um dos momentos mais marcantes foi durante o Bon Odori: “Ele estava de Naruto e, na hora da foto, fez a pose do personagem. Todo mundo achou fofo. Depois, subimos no palco com o grupo dos Cavaleiros do Zodíaco e ele ficou fazendo as poses dos cavaleiros. Foi lindo de ver.”

Para ela, ocupar esse espaço enquanto mulher, mãe e nerd é uma forma de reafirmar sua identidade e abrir caminhos para outras.

Mesmo sendo mãe, não preciso deixar de ser quem eu sou ou de fazer o que gosto. Posso ser livre e mostrar isso ao meu filho.
Fernanda Almeida de Sousa

Aos olhos de Fernanda, incentivar o filho a ser ele mesmo é parte essencial da educação que deseja transmitir. “Devemos mostrar aos nossos filhos que eles devem ser eles mesmos. Nunca vamos agradar a todos, então precisamos nos preocupar com a nossa própria felicidade. Se o que fazemos não machuca ninguém e não é contra a lei, por que deveríamos parar?”

Tatiana Dantas

Tatiana Dantas e Stella
Tatiana Dantas e Stella | Foto: Arquivo pessoal

Tatiana Dantas, mãe da pequena Stella, de 2 anos, carrega no currículo afetivo uma longa trajetória de envolvimento com a cultura nerd. Seu primeiro contato com esse universo veio ainda na adolescência, por influência de amigos que frequentavam exposições de anime. “Uma amiga minha tinha um irmão mais velho, e eles se reuniam em pequenas exposições. Acabei começando por aí. Hoje, esse evento cresceu e acontece anualmente com grandes proporções.”

Ao longo dos anos, Tatiana mergulhou em diversas vertentes da cultura pop. “Gosto de tudo um pouco. Filmes, HQs, games, mangás, animes, action figures, doramas, cosplay, séries... Difícil até acompanhar”, resume. Entre suas memórias afetivas está a imagem da mãe jogando Diablo e uma estante de ferro recheada de quadrinhos na casa da avó — um legado familiar que ajudou a moldar sua identidade geek.

Com a chegada da maternidade, o ritmo naturalmente mudou. “Depois que virei mãe, reduzi bastante. A demanda se tornou outra e as prioridades também. Mas está voltando aos poucos, só não vejo voltar com a mesma frequência de antes”, reconhece. Ainda assim, ela tem buscado formas de reintegrar essa paixão à sua rotina, agora compartilhada com Stella.

A filha, que está dando os primeiros passos no consumo de cultura pop, já demonstra afinidade com o que a mãe apresenta. “Ela gosta de pelúcia e está começando a assistir televisão. A princípio, ela curte personagens que eu gosto, porque é o que eu mostro. Eu era apaixonada por Hello Kitty quando pequena, então ela tem roupa de cama, vestido... E é um gato, ela ama animais, então já se identificou.”

Amanda Isabela Oliveira

Amanda Isabela e Eric
Amanda Isabela e Eric | Foto: Arquivo pessoal

Com 39 anos, Amanda Isabela Oliveira de Menezes é mãe de Eric, 17, e carrega uma vida inteira de paixão pela cultura geek. Desde a infância, ela já se via imersa em universos de ficção, super-heróis e jogos eletrônicos. “Sempre gostei de videogames, filmes de super-heróis e obras voltadas para a cultura geek, como Star Wars e Matrix. Com o passar dos anos, meu interesse só foi aumentando”, conta.

A maternidade chegou cedo, aos 21 anos, mas não interrompeu essa conexão com o mundo nerd — pelo contrário, fortaleceu. “Mesmo grávida, zerei uns três jogos”, relembra, com bom humor. Após o nascimento de Eric, veio a decisão de investir em uma televisão nova e um PlayStation 2, dando início a uma nova fase: jogar ao lado do filho. “Tenho muitas recordações desses anos. Era tão bom ver ele curtindo tudo que eu gosto — seriados, músicas, animes, filmes. Ele é minha cópia!”

Esse vínculo afetivo se expandiu para além do controle do videogame. O gosto em comum se desdobra em trocas constantes. “Depois que virei mãe, quis passar todo esse amor que tenho por videogames, animes e seriados de zumbis pra ele. E deu certo! Até hoje ele ama. Nós trocamos figurinhas sobre todo assunto geek. Ele é meu amigo para o resto da vida.”

Apesar do entusiasmo, ela já enfrentou julgamentos e estigmas — muitos, inclusive, dentro da própria família. “Já falaram que eu deveria ser mais adulta, parar de jogar, deixar de assistir filmes de super-heróis. Dizem que já estava na hora de crescer. Mas isso não tem nada a ver com amadurecimento. Sigo gostando cada vez mais e ensinando meu filho, e ele me ensinando de volta.”

O machismo, como em outros espaços da cultura pop, também é uma barreira que ela já enfrentou. “Infelizmente ainda existe muito preconceito. Quando digo que jogo videogame, sempre vem aquele comentário: ‘O videogame é do seu filho, né?’ Eu respondo na hora: ‘Ele joga graças a mim, pois fui eu que coloquei ele nesse caminho.’”

Com convicção, Amanda defende que ser mãe não significa anular a própria identidade.

Não é porque você virou mãe que vai deixar de curtir o que sempre curtiu. Você pode continuar sendo gamer, fã de super-heróis, lendo quadrinhos... E o melhor: pode apresentar tudo isso aos seus filhos. Será um vínculo eterno — e ainda vão se divertir juntos.
Amanda Isabela Oliveira

*Sob supervisão de Bianca Carneiro

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

cultura pop dia das mães

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo de produtos culturais
Play

Lobão 'incendeia' a Concha com Rock em estado bruto e celebra 50 anos de carreira

Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo de produtos culturais
Play

VÍDEO: Fernanda Torres chega ao tapete vermelho do Globo de Ouro

Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo de produtos culturais
Play

Web resgata Claudia Leitte trocando hit de Saulo: "Canto pra Javé"

Ser "geek" ou "nerd" vai além do simples consumo de produtos culturais
Play

Tony Salles confirma primeiro ensaio de verão; saiba detalhes

x