COMPORTAMENTO
Love bombing e Red pill: saiba identificar e evitar relações abusivas
Em filmes e séries, essas práticas têm ganhado espaço como forma de explicar e conscientizar sobre impactos emocionais

Entre elogios em excesso e discursos misóginos, práticas como o love bombing e o movimento red pilltêm ganhado espaço nas relações modernas e preocupado especialistas pelos impactos emocionais e sociais que causam. Em filmes e séries, esses termos vêm sendo representados como forma de explicação e conscientização.
Um exemplo é a série britânica “Adolescência”, lançada em 2025 pela Netflix, que aborda temas relacionados à violência on-line e à cultura de ódio contra as mulheres. Nesse sentido, a cultura pop colabora para que o público compreenda melhor os conceitos.
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A relação do red pill com o universo de Matrix é clara: o termo faz referência ao filme em que um personagem pode escolher entre tomar a “blue pill” (pílula azul) ou a “red pill” (pílula vermelha). A primeira manteria a pessoa na ignorância, acreditando nas mentiras propagadas pela sociedade, enquanto a segunda permitiria o acesso à verdade.
Grupos misóginos, no entanto, se apropriaram da metáfora para defender a ideia de que o “mundo verdadeiro”, visto a partir das red pills, seria aquele em que os homens são injustiçados.
Afinal, o que é Love Bombing e Red Pill?
Para explicar esses termos que circulam nas redes sociais, a psicóloga Helen Araújo, em entrevista ao Portal A TARDE, detalhou os seus significados e efeitos.
“O love bombing pode ser compreendido como uma estratégia manipulativa que utiliza gestos excessivos de afeto e atenção para criar uma dependência emocional na vítima”, destacou.
Sobre o movimento red pill, ela explicou que ele propaga a ideia de que os homens estariam sendo oprimidos pelas mulheres e pela sociedade moderna, justificando atitudes misóginas e comportamentos de dominação.
“No movimento red pill, os homens são incentivados a adotar posturas de poder e controle, enquanto as mulheres são socializadas para se submeterem a esses padrões”, afirmou.
Ainda segundo a psicóloga, essa prática explora expectativas culturais sobre o amor e o cuidado, especialmente em uma sociedade que historicamente atribui às mulheres o papel de cuidadoras e responsáveis pelas relações afetivas.
Impactos na saúde mental e no bem-estar
As vítimas de love bombing e do red pill podem desenvolver graves consequências psicológicas. “A vítima pode desenvolver baixa autoestima, dependência emocional [...] Esses efeitos são exacerbados por uma cultura que valoriza o sacrifício e a subordinação das mulheres em nome do amor, tornando-as mais vulneráveis à manipulação”, explica Helen.
Esses impactos emocionais podem ser percebidos no relato de Ana Luiza, de 19 anos, que vivenciou o love bombing.
“No começo parecia algo verdadeiro, mas depois percebi que eram sentimentos irreais. Isso me deixou insegura, fez com que eu questionasse meu próprio valor e ficasse com receio de acreditar nas demonstrações de afeto das pessoas”, contou em entrevista ao Portal A TARDE.
Ela também relata como se sentia diante das declarações amorosas do companheiro, antes de sofrer o chamado ghosting — quando a pessoa simplesmente desaparece do relacionamento sem explicações.
“Eu me sentia feliz e acreditava que estava realmente entrando em algo verdadeiro e duradouro. Para alguém como eu, que já passou por momentos difíceis em relacionamentos, todo aquele amor, que parecia genuíno, me enchia de expectativas e despertava esperança de algo futuro”, concluiu.
Um caso semelhante de impacto emocional é o da influenciadora Vanessa de Oliveira, que atua na área de autoestima e saúde feminina.
Após encontrar conteúdos do movimento redpill e receber relatos de mulheres que denunciavam o trabalho de um suposto “coach Thiago Schuz”, ela expôs a forma como o grupo defendia ideias como a de que mulheres com filhos ou com histórico de vários parceiros sexuais teriam baixo “Valor Sexual de Mercado” (VSM).
Após a denúncia, Vanessa passou a receber inúmeras ameaças, incluindo mensagens do próprio Thiago, que falava em “processo ou bala”.
Como se proteger?
Com a amplificação desses conteúdos pelas redes sociais, o acesso a discursos nocivos tem crescido. Para se prevenir, a psicóloga Helen Araújo destacou alguns sinais de alerta em relações amorosas. Confira:
- Excesso de controle disfarçado de cuidado: quando o afeto vem acompanhado de regras, exigências ou pressões sobre a vida da pessoa (como com quem ela se relaciona ou o que faz). O amor deixa de ser livre e passa a ser instrumento de domínio.
- Geração de culpa ou obrigação: gestos carinhosos usados para manipular, fazendo a vítima sentir-se culpada ou responsável pelo bem-estar do outro. Por exemplo: “Se você me amasse de verdade, faria isso por mim”.
- Pressa para criar dependência emocional: quando a pessoa tenta acelerar a intimidade, ignorando sinais de desconforto ou limites pessoais.
- Isolamento: o suposto cuidado se transforma em ferramenta para afastar a vítima da família e dos amigos.
- Inversão da responsabilidade emocional: a vítima é levada a acreditar que precisa constantemente provar seu amor para “merecer” o afeto recebido.
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