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LITERATURA

O dia em que a ditadura entrou no jornalismo baiano e nunca saiu

Jornalista abre arquivos da repressão

Eugênio Afonso

Por Eugênio Afonso

25/11/2025 - 5:25 h
Autor de livro acredita que a ditadura brasileira é um assunto inesgotável
Autor de livro acredita que a ditadura brasileira é um assunto inesgotável -

A sombria ditadura brasileira e seus desdobramentos tem sido, há muito, um tema caro para o professor Emiliano José, que está lançando amanhã, às 17h30, no Museu de Arte da Bahia (Corredor da Vitória), o livro Os comunistas estão chegando (Edufba) –, já lançado em e-book.

Jornalista, professor, escritor imortal e ex-preso político – quatro anos de detenção – Emiliano conhece bem, até por experiência própria, os subterrâneos desta triste página da história do Brasil que durou penosos 21 anos (1964-1985).

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Agora, o autor faz um mergulho no universo do jornalismo baiano, durante o período que vai de meados dos anos 1970 ao início dos 80, para contar as trajetórias de 18 jornalistas – contemporâneos de Emiliano nas redações –, baseadas em rascunhos de um incompetente e desconhecido agente da ditadura militar que trabalhava para o SNI (Serviço Nacional de Informações) e vivia infiltrado nas redações do extinto Jornal da Bahia e na resistente Tribuna da Bahia.

Finalmente, os relatórios secretos deste espião foram descobertos e serviram de fonte de inspiração e informação para o jornalista escrever seu segundo livro da série #MemóriasJornalismoEmiliano.

“Eu fui garimpando e chegando a personagens muito ricos, companheiros de jornada, porque sempre fui jornalista, sou até hoje, que marcaram a minha existência, efetivamente”, informa Emiliano.

Em mais de 600 páginas, o autor fala de colegas que foram essenciais na consolidação de sua caminhada profissional. “São figuras extraordinárias da história do jornalismo baiano. Não é um trabalho propriamente acadêmico, é um trabalho que fiz como reportagem, de perseguir a trajetória desses companheiros e revelar qual foi a passagem deles pelo jornalismo”, ressalta o professor.

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Tema inesgotável

Imagem ilustrativa da imagem O dia em que a ditadura entrou no jornalismo baiano e nunca saiu
| Foto: Divulgação

Com prefácio do também jornalista Ernesto Marques, ex-presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI-BA), a publicação resgata um período da imprensa na Bahia, com cada um dos protagonistas abrindo o baú da memória e revelando curiosidades e verdadeiras batalhas contra a censura da época.

Tema recorrente em suas obras, Emiliano acredita que a ditadura brasileira é um assunto inesgotável porque, além de ser um espectro de terror que nos ronda, grande parte do que aconteceu ainda está por ser revelada.

“Nós não sabemos quantas pessoas foram mortas, quantas foram desaparecidas. A Comissão da Verdade apontou 400 e alguma coisa, mas depois veio o trabalho de tanta gente a demonstrar que milhares de indígenas, camponeses e sindicalistas foram mortos pela ditadura, e nós não temos essa contabilidade”, complementa o autor.

Para Emiliano, é explícito que a ditadura deixou um legado terrível, semeando um pensamento conservador capaz de eleger um sujeito como Bolsonaro, por exemplo. “Eu costumo lembrar que se algum mérito o Bolsonaro teve, seria o de ter revelado os monstros da sociedade brasileira”.

“Mas não há o que se lamentar, há que se lutar para mudar essa concepção de mundo, e a vitória do Lula na última eleição demonstrou que nós demos passos nessa direção. No entanto, a verdade é que há um pensamento de extrema direita no Brasil com relativa força ainda. É uma luta dura junto ao povo brasileiro para disseminar a ideia de democracia, liberdade, fraternidade”, arremata o escritor.

Com 20 livros publicados, que giram principalmente em torno do tenebroso período do regime militar, Emiliano afirma que sua literatura tem como objetivo expor o maléfico legado da ditadura e a honrosa postura política de diversos profissionais da imprensa.

“É uma literatura que transita entre a revelação do que foi o terror da ditadura e a beleza da atuação dos jornalistas. Também há uma parte em que me baseio no meu mestrado e doutorado. São livros em que trato do jornalismo brasileiro e de suas mazelas e dificuldades”, detalha o mestre.

O autor aproveita para convidar o público a ler Os comunistas estão chegando, chama atenção para a importância das histórias vividas em um contexto de ditadura militar, sobretudo em um momento de ameaça à democracia brasileira, e garante que “espiões rendem boas histórias, especialmente quando desmoralizados e ridicularizados pela história, essa velha senhora”.

Na capa do livro, Emiliano aparece ao lado de colegas do jornalismo baiano entrevistando Luís Carlos Prestes (1898-1990), que foi secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro de 1943 a 1980, e é considerado um dos maiores ícones do movimento de luta conta os regimes autoritários no País. “A própria capa é um grande documento histórico porque o Prestes não é um qualquer”, finaliza o escritor.

Jadson Oliveira, Alex Ferraz, José de Jesus Barreto, José Carlos Menezes, José Sérgio Gabrieli, Quintino de Carvalho, Césio Oliveira, Gustavo Falcón, Luiz Manfredini, Aécio Pamponet e Hamilton Almeida Filho são alguns dos jornalistas/personagens da obra, cujo título foi inspirado no filme estadunidense Os russos estão chegando.

Completam o time: Marcos Palácios, Oldack de Miranda, Mirtes Semeraro de Alcântara Nogueira, Sóstrates Gentil, Othon Jambeiro, Joca – João Carlos Teixeira Gomes – e Fred Matos.

Lançamento de Os comunistas estão chegando / 26 de novembro / 17h30 / Museu de Arte da Bahia (Corredor da Vitória)

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