ARTES CÊNICAS
Peça feminista com Gabriela Duarte entra em cartaz em Salvador
Inspirado em um conto de 1892, o monólogo dirigido por Alessandra Maestrini e Denise Stoklos aborda gênero, opressão e saúde mental no Teatro Faresi

Por Júlio Cesar Borges*

Diagnosticada com depressão e histeria, uma mulher é forçada por seu marido médico a manter-se em confinamento para evitar qualquer esforço físico ou mental.
No ambiente, ela tem sua subjetividade e autonomia negadas, enquanto cria uma obsessão pelo papel de parede amarelo do quarto. Esse é o enredo do espetáculo O papel de parede amarelo e Eu, que chega a Salvador nessa sexta-feira, 24, com sessões até domingo, 26, no Teatro Faresi. Os ingressos estão à venda no site ingressodigital.com e na bilheteria do teatro.
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Com direção de Alessandra Maestrini e Denise Stoklos, a montagem inspirada no conto feminista homônimo da romancista Charlotte Perkins Gilman, publicado em 1892, apresenta a atriz Gabriela Duarte em seu primeiro monólogo.
A peça propõe uma reflexão sobre papéis de gênero, controle dos corpos femininos e saúde mental.
Reflexões ancestrais
A ideia para o espetáculo partiu da própria atriz, que considera a temática tratada no conto pertinente aos dias atuais. “O texto ainda conversa com a gente, mesmo sendo escrito há mais de 100 anos. Isso me intriga como ser humano e artista”, diz Duarte.
Maestrini compartilha do mesmo pensamento. Ela exclama: “As questões permanecem as mesmas, o que mudou foi o cenário, o contexto atual. Isso tudo pode acontecer em qualquer tempo e espaço”.

Embora a discussão seja centrada nas dinâmicas de gênero, a interseccionalidade entre raça e classe não foi esquecida em O papel de parede amarelo e Eu. Por esse motivo, foi incorporado no final do espetáculo um texto manifesto, escrito por Alessandra, em que a atriz que dá vida à personagem questiona todos os tipos de opressão, inclusive as de cunho social e racial.
Gabriela defende que, embora a sua trajetória pessoal se confunda com a da personagem em vários momentos no monólogo, seu desejo não é falar exclusivamente de si.
“A ideia é falar para todas as mulheres. O artista deveria falar para toda a humanidade. A minha pretensão está neste lugar, de poder conversar com todo mundo, independente do gênero, religião e local”, afirma a atriz.
Essencial e estrutural
A produção da peça mistura elementos do Teatro Essencial – linguagem criada por Denise que valoriza a expressividade do ator por meio do corpo, voz e mente, ao olhar atento de Maestrini.
O espetáculo apresenta ao público uma performance que reúne diferentes expressões artísticas em um único palco, a “performance estrutural”, como define Maestrini.
O cenário também é um elemento vivo na peça. Criado por Márcia Moon, ela traz, em cima do palco, uma prisão transparente, retratada de forma minimalista.
Durante o monólogo, fragmentos de papel amarelo caem lentamente sobre a personagem, aumentando de tamanho e quantidade, representando, assim, um ambiente opressor.

A luz, por Cesar Pivetti, o figurino, assinado por Leandro Costa e a trilha sonora, comandada por Thiago Gimenes, foram pensados para criar uma atmosfera dominadora.
“A gente traz a dramaturgia em tudo, nada é só um artifício. Tudo é personagem, tudo atua”, explica Alessandra.
Para todos os gêneros
Apesar de feminista em sua essência, O papel de parede amarelo e eu, não é, de acordo com a diretora, feita apenas para o público feminino. Sua intenção é dialogar com cada pessoa da plateia, inclusive com os homens. Para ela, a montagem é, acima de tudo, humanista.
Denise concorda e complementa: “O espetáculo se reflete em todas as situações de opressão e toda a sociedade pode relacionar essa questão específica da peça com outras em que há um opressor e um oprimido”.
Serviço
O papel de parede amarelo e Eu
Data: sexta-feira (24) e sábado (25) às 20h, e domingo (26) às 18h
Local: Teatro Faresi
Ingressos: R$ 120 e R$ 60
Vendas: ingressodigital.com e bilheteria do teatro
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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