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CÊNICAS

Peça sobre violência contra a mulher percorre escolas de Salvador

“Sobejo” emociona plateias em Cajazeiras, Arenoso e mais bairros

Por Maria Raquel Brito*

08/07/2025 - 8:00 h
Sobejo estreou em 2016 e se mantém atual como nunca
Sobejo estreou em 2016 e se mantém atual como nunca -

No dicionário, a palavra “sobejo” é definida como um excesso, algo que sobra. As migalhas dos outros. Assim era a vida de Georgina Serrat, protagonista do espetáculo Sobejo, estrelado pela atriz Eddy Veríssimo e escrito pelo ator, cenógrafo e figurinista Luiz Buranga. Sonhadora incurável, Georgina devaneava com um grande amor, mas, com a chegada da vida adulta, de repente se viu num casamento cruel, em que só recebia a face mais violenta do marido e os fragmentos de atenção que ele a oferecia.

Um retrato da violência de gênero no Brasil em forma de monólogo, Sobejo estreou em 2016 e se mantém atual como nunca: só em 2024, em média, 13 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência a cada 24 horas, de acordo com um levantamento da Rede de Observatórios de Segurança.

Por isso, com a proposta de discutir e conscientizar sobre essa questão por meio do teatro, da poesia e do audiovisual, nasceu o projeto Sobejo Arte e Empoderamento - As Vozes que ecoam na periferia, iniciativa d’A Outra Companhia de Teatro, que retorna em sua segunda edição a partir desta quinta-feira, 10, circulando por escolas públicas dos bairros de Arenoso, Cajazeiras 5, Paripe e Uruguai. Todas as ações são gratuitas.

O projeto estará, respectivamente, no Colégio Estadual Clarice Santiago dos Santos (quinta-feira, 10), na Casa do Sol Padre Luís Lintner (no dia 24), Colégio Estadual Barros Barreto (dia 7 de agosto) e Espaço Cultural Alagados (21 de agosto).

Para Luiz Buranga, o intuito da iniciativa é, desde o início, garantir que o discernimento em relação a diferentes formas de violência contra as mulheres chegue na base, onde acontece o processo formativo.

“Levamos o projeto para as escolas justamente para despertar desde cedo essa reflexão, porque sabemos que essa violência existe, mas as pessoas precisam ser preparadas. Às vezes o menino ou a menina cresce num ambiente violento, presenciando aquelas cenas entre pai e mãe, e começa a encarar com normalidade uma coisa que não é normal. A agressão é um lugar muito perverso”, diz o diretor do espetáculo Sobejo e coordenador técnico do projeto.

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Saraus poéticos

Segundo Eddy, era essencial para a Companhia levar Sobejo Arte e Empoderamento - As Vozes que ecoam na periferia para crianças e adolescentes de bairros periféricos, de forma a democratizar o acesso à arte e, acima de tudo, levar a conscientização para a parcela da população que mais sofre com a violência de gênero. Na primeira edição, o projeto passou por escolas do Subúrbio.

“Quando a gente compreende a violência contra a mulher, ela está em toda parte, em toda classe social, mas o maior índice está entre as mulheres pretas e periféricas. Isso significa que é muito necessário que a gente consiga levar um projeto desse para além de um espaço convencional, que seja dentro de um teatro. O teatro, as artes, têm esse olhar político. E não existe educação sem arte. Quando a gente propõe trazer o projeto para uma comunidade escolar, é para somar com o processo formativo de cada discente”, defende.

Nas visitas aos colégios, a iniciativa inclui apresentações do espetáculo Sobejo, debates sobre o combate à violência doméstica e feminicídio e saraus poéticos com apresentação de mulheres negras poetas da periferia. Cada encontro terá um time diferente de convidadas, que vão de estudantes dos colégios a poetisas e pesquisadoras. Entre elas, estão a estudante e poetisa de 16 anos Clara Almeida, a multiartista Dellen Azevedo, a psicopedagoga e mestra em estudos sobre mulheres (PPG / NEIM / UFBA) Neia Bastos e a advogada criminalista Thais Bandeira.

“Quando a gente traz o sarau poético, é para oportunizar essas artistas negras da comunidade para mostrar o seu fazer, seja qual for a linguagem artística: dança, teatro, música, literatura. É um espaço que também fala sobre o empoderamento feminino através da arte. A gente não mostra só a violência contra a mulher. É o eixo central do projeto, mas a gente traz também esse rompimento do celeiro através da arte”, diz Eddy.

Além dessas atividades, será exibida para o público a Websérie Sobejo - Processo Indeferido, que trata, ao longo de cinco episódios, das variadas violências sofridas por mulheres – física, moral, patrimonial, sexual e psicológica –, seguido de atividades pedagógicas a partir das práticas metodológicas da mediação cultural, realizadas por Eddy Veríssimo.

Violência, vizinha silenciosa

Imagem ilustrativa da imagem Peça sobre violência contra a mulher percorre escolas de Salvador
| Foto: Divulgação | Waldson Alves

Idealizado por Luiz, o espetáculo Sobejo nasceu a partir de inquietações provocadas por lembranças de sua infância. Assim como muitos outros brasileiros, o ator cresceu com a sombra da violência de gênero ao redor da sua família, que muitas vezes passava despercebida. Mas, algumas dessas situações ficaram marcadas em sua mente – mesmo quando não entendia o que estava presenciando, sabia que era anormal.

“Muitas vezes eu percebia coisas com a minha tia. O esposo dela falava algumas coisas que eu não gostava, como ‘você não sabe fazer comida’, ‘não sabe lavar uma louça’, ‘não sabe varrer a casa’. Esse tipo de coisa já era uma agressão, na verdade. Mas, outra coisa que eu tenho viva na memória até hoje foi uma vez que eu presenciei pendurando sapos na porta e nas janelas de casa para que a minha tia não saísse, porque ela tinha muito medo de sapos. Isso para mim é uma tortura, é algo muito bizarro”, diz.

Apesar de entender a urgência em falar sobre isso, Luiz sempre soube também que era um assunto delicado, que demandaria uma sensibilidade redobrada para retratar. Por isso, todo o processo de preparação envolveu muito diálogo: “Desde o primeiro momento a gente sempre buscou abordar esse tema a partir de um lugar que não fosse um lugar de machucar. A gente sempre trouxe esse lugar de estar junto com a pessoa”.

“Consultamos alguns psicólogos para saber como poderíamos fazer isso sem abrir uma ferida. Começamos aos poucos, explicando sobre os assuntos. Muitas vezes, me questionavam, diziam ‘isso não acontece’. E foi um processo para as pessoas entenderem que aquilo, apesar de felizmente não acontecer com elas, era uma coisa que acontecia muito, mas estava longe da realidade delas. Mas, às vezes, está bem perto, ali do lado, e a gente não percebe”, diz.

Vai fazer o quê?

Depois do espetáculo, surgiu em 2022 a websérie Sobejo – Processo Indeferido, que reforça o intuito da Companhia de trabalhar a violência não só a partir do ato físico, mas como uma ameaça que também é moral, patrimonial, sexual e psicológica. Na série, cada episódio se debruça em uma forma de violência. Se a primeira definição do dicionário para “sobejo” remete a sobras, as que vêm abaixo oferecem outro sentido: ousado. Como uma mulher que atreve-se a recomeçar a vida depois de ser enclausurada e limitada pelas violências. A coragem de continuar a sonhar depois de dez anos recebendo migalhas de quem deveria receber amor, assim como Georgina Serrat.

“Sobejo vai completar 10 anos e é algo que é muito atravessador para mim, não só enquanto artista, que estou em cena dando a vida a essa personagem que sofreu todas essas atrocidades, mas nesse lugar de militância, desse espaço da arte onde a gente pode estar ecoando as nossas vozes e chamando a sociedade a não fechar os olhos perante isso que a gente sabe que infelizmente é real. E é um projeto político, um projeto em que a gente diz: 'essa violência ainda existe. E aí, o que vamos fazer?'”, reflete Eddy Veríssimo.

Projeto “SOBEJO Arte e Empoderamento - As Vozes que ecoam na periferia” / Entre julho e agosto / Sessões do espetáculo seguidas de debates e saraus em escolas públicas e centros culturais nos bairros de Arenoso, Cajazeiras 5, Paripe e Uruguai / Gratuito

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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