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CULTURA

Terra e emoção: exposição coletiva propõe mergulho sensível na pintura

Mostra reúne seis pintores na Casa Cabus

Manoela Santos*

Por Manoela Santos*

21/12/2025 - 13:07 h
Exposição coletiva transforma a Casa Cabus em espaço de escuta e sensibilidade
Exposição coletiva transforma a Casa Cabus em espaço de escuta e sensibilidade -

A Casa de Cultura Eduardo Cabus inaugurou a Exposição Coletiva de Pinturas, reunindo obras de Fernando Bernardes, Ney Costa, Antonio Figueiredo, Albano D’Ávila, Rodolpho Caramundo e Bruno Vandystadt (BV). A mostra evidencia a pluralidade de trajetórias, linguagens e sensibilidades que atravessam a produção contemporânea, propondo ao público uma experiência estética marcada por memória, emoção, crítica e liberdade criativa.

As obras estão disponíveis para venda, com valores sob consulta.

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Mais do que uma reunião de estilos, a exposição se constrói como um espaço de diálogo entre diferentes formas de pensar a arte e o mundo, em que cada artista apresenta uma poética própria, atravessada por questões existenciais, territoriais, simbólicas e afetivas. A exposição abriu no dia 03 último e fica em cartaz por tempo indeterminado.

Memória e resistência

Imagem ilustrativa da imagem Terra e emoção: exposição coletiva propõe mergulho sensível na pintura
| Foto: Divulgação

Natural de São Felipe, no Recôncavo Baiano, Fernando Bernardes desenvolve uma pesquisa artística que transita entre pintura, desenho, escultura e performance. Mestrando pela Escola de Belas Artes da Ufba, o artista utiliza pigmentos de terra coletados na zona rural de sua cidade natal como elemento central de sua produção. Para ele, a matéria carrega significados que extrapolam o campo estético. “Terra para mim é muito mais que cor, é vida, resistência e memória. É como se o uso desses pigmentos revelasse não apenas a minha memória, mas transmitisse uma resistência temporal e coletiva”, afirma.

As pinturas Raspando Mandioca e Embate partem do contato direto com mulheres trabalhadoras do campo, muitas delas familiares do artista. Bernardes conta que sempre teve uma relação de admiração com essas mulheres que ocupam espaços de trabalho para além do doméstico. “Elas são guerreiras”, resume.

Algumas foram fotografadas durante o trabalho na roça, enquanto outras posaram para os registros que mais tarde seriam transpostos à tela.

Os tons terrosos e a monocromia, recorrentes em sua obra, não buscam suavizar a cena, mas intensificar a percepção do espectador. Segundo o artista, trata-se de uma estratégia para “sensibilizar o olhar a partir de uma realidade dura”, sem perder de vista a dimensão poética. Essa investigação dialoga diretamente com sua pesquisa acadêmica, voltada para questões de natureza, ancestralidade e resistência.

Bernardes destaca a importância de pensar, no contexto contemporâneo, corpos que seguem sendo historicamente negligenciados. “Acredito que é fundamental refletir sobre esses corpos que sofrem negação de direitos o tempo todo e que, ainda assim, são essenciais para manter o alimento na mesa de todos”, diz.

Ao se apropriar de contextos hegemônicos da arte, simbologias e processos diversos, ele constrói uma linguagem que tensiona o campo intelectual e elitista da arte a partir de uma experiência profundamente pessoal. “Pensar no território e na ancestralidade é como olhar para dentro de mim mesmo”, completa.

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Inquietações do presente

Imagem ilustrativa da imagem Terra e emoção: exposição coletiva propõe mergulho sensível na pintura
| Foto: Divulgação

Com trajetória reconhecida em salões e espaços culturais do país, o artista Antonio Figueiredo, natural de Maracás, apresenta desenhos em nanquim sobre papel da série Híbridos.

As obras trazem figuras siamesas, seres alados e corpos em constante transformação entre o humano e o animal, compondo imagens que evocam instabilidade, ambiguidade e tensão.

Segundo o artista, questões como inquietações existenciais, violência e a transitoriedade da vida atravessam o pensamento cotidiano e acabam se manifestando na obra, ainda que de forma subjetiva. “Essas questões não são exatamente o motor da criação, mas estão presentes”, explica. Para Figueiredo, os desenhos funcionam como alegorias dos tempos em que vivemos, abertas a múltiplas leituras e interpretações.

O uso recorrente do nanquim está ligado à relação de longa data do artista com a técnica. Embora transite por outros meios, ele afirma que sempre retorna ao nanquim, especialmente nos pequenos formatos, que exigem maior atenção aos detalhes. “Os pequenos desenhos demandam minúcias e também exigem maior proximidade do espectador, para que ele possa fruir melhor o trabalho”, observa.

Infância e consciência

Para Rodolpho Caramundo, pintar é um processo complexo, que não se resume à ideia de libertação ou aprisionamento. “Essas coisas são de difícil definição”, afirma, ao relacionar sua criação à noção de “sombra”, conceito desenvolvido por Carl G. Jung. Sua recusa não se limita às normas acadêmicas, mas ao engessamento imposto por regras que, segundo ele, pouco dialogam com a liberdade criativa.

Com passagem pelo teatro como ator, Caramundo carrega para a pintura uma dimensão tragicômica que atravessa seu processo criativo. Essa influência aparece na maneira como lida com o inacabado, o caos e o improviso. O artista afirma criar a partir de um “eu criança que sonha com mundos inalcançáveis”, transformando o ato de pintar em uma experiência lúdica e profunda ao mesmo tempo.

Com mais de cinco décadas dedicadas às artes plásticas, Caramundo define sua obra como espontânea, mutilada e próxima do surreal. Para ele, a arte busca despertar o espectador para o bem e para a consciência. “A arte é apenas um resultado, um tentáculo. O que importa mesmo é a vida e o comportamento do artista”, reflete, ressaltando a importância de não cair nas armadilhas da vaidade.

Unidos pela arte

Imagem ilustrativa da imagem Terra e emoção: exposição coletiva propõe mergulho sensível na pintura
| Foto: Divulgação

Além de Fernando, Rodolpho e Figueiredo, a exposição também conta com obras de Bruno Vandystadt, conhecido como BV, que desenvolveu uma trajetória autodidata influenciada desde cedo pelo pai, o arquiteto e artista Nelson Philippe. Sua pintura é marcada pelo expressionismo intuitivo e pela valorização da emoção como força motriz do processo criativo.

Na série The Art of Dancing by BV, apresentada na exposição, o artista transforma a cor em movimento. Executadas em acrílico sobre tela, as obras apresentam uma realidade filtrada pela emoção, em que as cores não se pretendem literais. Ao contrário, funcionam como extensões do estado emocional do artista, criando uma espécie de dança visual que convida o público a uma experiência sensorial intensa e visceral.

Já o ator e artista plástico Albano D’Ávila, representante da geração 70, apresenta obras de sua fase expressionista, parte de seu acervo pessoal. Trabalhando de forma multimídia, o artista explora a força do gesto, o impacto das cores e uma construção dramática que reflete inquietações individuais e coletivas.

Sua produção dialoga com o contexto histórico de uma geração marcada por rupturas e experimentações, mas permanece atual ao abordar conflitos humanos universais. Nas obras expostas, a pintura surge como campo de tensão e expressão, em que emoção e crítica se entrelaçam.

Representante da pintura naïf brasileira, Ney Costa constrói sua obra guiado pela intuição e pela emoção. Suas telas são marcadas por cores intensas, contrastes vibrantes e uma linguagem que oscila entre o ingenuamente expressivo e o simbolicamente profundo. Na obra VIDA, apresentada na exposição, o artista aposta na abstração em tons de amarelo e verde, criando uma composição que se apresenta como celebração cromática.

A pintura convida o público a uma leitura sensorial e aberta, em que a experiência visual se sobrepõe à narrativa fechada, reforçando a dimensão afetiva do gesto pictórico.

Ao reunir seis artistas com percursos, técnicas e poéticas distintas, a Exposição Coletiva de Pinturas reafirma a Casa de Cultura Eduardo Cabus como um espaço de encontro, reflexão e diálogo. A mostra evidencia que a arte contemporânea se constrói a partir de múltiplas vozes e experiências, convidando o público não apenas a observar, mas a sentir, questionar e se reconhecer nas obras apresentadas

Exposição Coletiva de Pinturas / Casa de Cultura Eduardo Cabus (Av. Sete de Setembro, 1530) / Gratuito

* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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