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07/01/2024 às 7:00 - há XX semanas | Autor: Bianca Carneiro

ENTREVISTA

"Vamos espalhar ações de arte e cultura pela Bahia", diz Piti Canella

Diretora da Funceb, que vai completar 50 anos de criação, quer expandir trabalho pelo interior do estado

Iniciando o seu segundo ano à frente da Funceb, Piti Canella quer cruzar as fronteiras de Salvador e levar o acesso à Cultura ao interior da Bahia
Iniciando o seu segundo ano à frente da Funceb, Piti Canella quer cruzar as fronteiras de Salvador e levar o acesso à Cultura ao interior da Bahia -

Se tem uma característica que poderia definir muito bem Piti Canella, gestora da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), é a inquietação por novos desafios. Produtora cultural com experiência em arte e música há mais de 25 anos, ela já coordenou grandes eventos no Brasil, organizou turnês internacionais para artistas estrangeiros e brasileiros como Gilberto Gil, Djavan e Margareth Menezes, e até foi professora. A atuação vasta inclui ainda a função de produtora master da cerimônia de encerramento das Paralimpíadas no Rio 2016.

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Agora, iniciando o seu segundo ano à frente da Funceb, Piti segue trabalhando em diversas ações simultâneas para concretizar aquilo que considera ser a missão maior do órgão: a territorialização de ações e projetos para cruzar as fronteiras de Salvador e levar o acesso à Cultura ao interior da Bahia. No ano passado, a instância, que é responsável pelas políticas de sete linguagens artísticas (Artes Visuais, Literatura, Dança, Música, Circo, Audiovisual e Teatro), além da gestão do Teatro Castro Alves (TCA) e da Sala Walter da Silveira, chegou a 100 municípios, fora Salvador, de forma diversa.

Mas se 2023 começou com um grande susto para a Funceb, graças ao incêndio que atingiu o TCA no final de janeiro, 2024 deve ser de festa. Isso porque, a instituição tem pelo menos dois motivos para celebrar: primeiro, pelo seu aniversário de 50 anos, e ainda os 40 anos da Escola de Dança, a qual Piti define como sendo o "coração pulsante" da Fundação.

Em meio à corrida rotina de inúmeras tarefas de planejamento, Piti Canella recebeu a reportagem de A TARDE na sede da Funceb para conversar sobre comemorações, projetos e sonhos, entre eles, o de tornar a Sala Principal do TCA a “sala mais moderna da América Latina”. Nas paredes de um dos gabinetes, um mapa do estado da Bahia [veja abaixo], repleto de alfinetes com os lugares por onde a Fundação já passou, se traduz em um bolo de aniversário para as comemorações do ano, que, segundo ela, serão compartilhadas com o interior. “Ele vai ser separado em 28 pedaços, bem recheados, bem doces”, garante.

Confira a entrevista:

Piti, você é uma multiprofissional, não só na área da cultura, como também, na própria educação. Dirigiu grandes eventos, atuou na produção executiva de cinema e televisão, produziu conteúdo para museus e exposições e também foi professora. Dentro desta trajetória profissional, tem alguma vivência cultural que seja a sua preferida?

Eu gosto muito de fazer produção. Eu acho que eu nasci para fazer isso. Uma das experiências mais legais foi ter sido a produtora master de uma cerimônia olímpica. Foi muita honra para mim. Em 2023, a grande marca aqui na Funceb, eu acredito, foram nossos projetos de formação. Nessa nova gestão do secretário Bruno Monteiro, a gente tem ampliado essa capacitação para os artistas do interior, essa cultura que está no interior. Então, isso pode até não agradar muita gente, porque hoje tem uma profissionalização muito grande dos editais, né? Muita gente já sabe como fazer os editais, já sabe como ganhar. Não é que a gente não queira que essas pessoas continuem fazendo editais e ganhando editais. A gente quer que essa oportunidade seja aberta e ampliada. A gente quer que os artistas do interior também aprendam a fazer edital.

Piti, a Funceb é a instância que lida com o TCA. No início do ano, houve um certo burburinho com relação ao aumento do valor dos ingressos do TCA. Por que houve esse reajuste? Qual a importância disso para os agentes culturais? E ao mesmo tempo, como também não deixar de democratizar o acesso à programação?

Quem faz show no Teatro, na Concha Acústica, é o produtor, que assina um termo de uso daquele espaço. O valor de tabela da Concha agora custa R$ 15 mil, é um valor que não muda desde 2016. Se a gente fosse cobrar baseado no tamanho da Concha, esse valor seria de R$ 70 mil, mas o TCA é subsidiado, então o Governo do Estado quem banca o custeio. Mas quando o produtor assina esse valor de R$ 15 mil, além disso, ele tem que pagar outros custos: cachê do artista, produção, passagem aérea…O que acontece é que o valor depende do produtor, não depende do Estado. O produtor coloca todas as despesas dele e a gente não pode interferir no lucro desse valor de ingresso. O que a gente faz é pedir que o produtor faça o mais barato possível. A conta que a gente faz é que R$ 15 mil, que é o valor da lotação, dividido por 5 mil lugares, logo, o custo do Teatro dentro do ingresso, seja de qual show for, é de R$ 3,33. Então, não é o valor do espaço que encarece a produção. Mas estamos sempre fazendo projetos para a população, o Domingo no TCA, o TCA itinerante.

Todo mundo tem direito ao recurso da cultura na Lei Paulo Gustavo

Qual é a ideia do TCA itinerante?

Quando o incêndio aconteceu, a gente falou muito disso, de pegar o Teatro Castro Alves, o capital humano, tudo que a gente tem no teatro, e levar isso para o interior da Bahia. Era uma forma de continuar. A gente tem um centro técnico, figurinos, costureiras e tudo isso proporcionamos para a cena cultural. Então, muita gente do teatro da Bahia inteira vem fazer seus figurinos dentro do Teatro Castro Alves, e não paga nada por isso, não paga nada pra usar as máquinas de costura do teatro. É essa rodada, esse fazer cultural que a gente sai por aí. É rodar com os profissionais para que eles possam levar essa experiência toda de engenharia do espetáculo a outras cidades do interior.

E como está o andamento das obras após o incêndio?

Há alguns anos, houve um concurso e um projeto ganhou para ser o novo TCA. A gente pegou ele e está agora fazendo o projeto executivo em disciplinas. Quem trabalha com arquitetura sabe que quando se faz um projeto executivo, você precisa dividir as disciplinas: de climatização, que é o ar-condicionado, de iluminação, etc…Tivemos também a escuta crítica, são muitas camadas a serem tratadas para fazer a licitação da obra. Além de tudo isso, o Teatro Castro Alves é tombado como patrimônio da Arquitetura Moderna pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), então, temos que ter, além disso tudo, um cuidado dobrado. A gente não pode nem trocar um azulejo por outro que a gente queira, tem que ter um azulejo específico, um piso específico. Então, a obra já começou, mas não fisicamente, com quebradeira. O Foyer vai ser entregue junto da obra da Sala Principal no primeiro semestre de 2026.

Pode detalhar um pouco sobre como foi o processo de Escuta Crítica, com a participação de artistas como Daniela Mercury e Lazzo Matumbi?

A gente convidou não só esses artistas, como a atriz Hebe Alves, que recitou um poema, para falar, para que a gente pudesse fazer essa escuta. E aí todos esses saberes vão se juntar para que a gente possa ter um tratamento acústico perfeito para nossa Sala Principal para ser a sala mais moderna da América Latina, que é esse nosso nosso desejo. Ele já era um teatro bem moderno, apesar dos 30 anos da última obra. Quem esteve lá com a gente no dia da escuta crítica, viu que a sala está intacta. Mas ela precisa agora de uma reforma, porque o telhado não dá para ficar como está, por exemplo, aberto.

Para além da Piti gestora da Funceb, imagino que você devia ter uma certa proximidade com o Teatro Castro Alves devido a sua atuação como produtora cultural. Qual a sua relação com o equipamento?

Nós estamos trabalhando todos os dias para que o Teatro Castro Alves volte mais lindo do que ele já é. Que é uma paixão esse teatro, que todo mundo é apaixonado. Eu, quando comecei a fazer produção, há 30 anos atrás, eu fiz muita coisa nesse teatro. Eu trouxe grandes peças de teatro para cá. Eu fiz muitos shows, então, eu tenho uma história de vida com esse teatro muito grande. Meu filho fez 29 anos, e ele, pequeno, já andava de crachá dentro desse teatro. Ele dizia: ‘vamos trabalhar, mamãe no Teatro Castro Alves’. Então, eu tenho essa paixão pelo teatro também. Hoje, estar sentada em uma cadeira que cuida desse teatro é uma honra.

A Funceb tem muitas comemorações em 2024 para fazer. São 40 anos de existência da Escola de Dança, mais 35 anos do Centro Técnico do TCA e ainda o aniversário de 50 anos da própria Funceb. Como é que vão ser essas festas?

A gente quer celebrar da melhor maneira possível, estamos ainda na fase de planejamento, mas não posso dar muitos spoilers [risos]. Eu e o secretário temos pensado em como comemorar esses 50 anos da Fundação, não como uma festa única, mas espalhando o repertório de projetos pelo interior. O bolo de aniversário da Funceb vai ser compartilhado por todo o estado da Bahia. A gente vai pensar em ampliar nossos projetos de capacitação e formação e levar ele aí para os para os quatro cantos dessa Bahia, para os 28 territórios. Então, vamos ter o bolo de aniversário em separado em 28 pedaços, bem recheados, bem doces.

Cidades da Bahia por onde a Funceb já passou, separadas por Macroterritórios (De 1 a 6)
Cidades da Bahia por onde a Funceb já passou, separadas por Macroterritórios (De 1 a 6) | Foto: Divulgação | Funceb

Um dos recursos desses projetos de territorialização é a Lei Paulo Gustavo, que tem se destacado na Bahia de forma especial. Foi aqui que ela foi regulamentada e também foi o estado que recebeu o maior número de propostas [mais de 9 mil] e teve prazos prorrogados. Quais são os principais desafios de se aplicar uma lei como essa?

O desafio é você tentar ser o mais justo possível, porque a gente teve que montar muitas comissões para dar tempo de ler todas as propostas, dar nota de mérito e avaliar para não deixar ninguém, nenhuma linguagem, nenhuma cidadezinha ou território esquecido. E esse é o grande desafio: fazer com que seja justo para todo mundo.

Dentro dessas linguagens artísticas tem algo que seja mais disputado nos editais?

Música é sempre o mais escutado, é sempre onde a gente tem muita inscrição. E a música ainda tem a questão da filarmônica, que foram esquecidas durante muito tempo. Então, hoje o que a gente tem feito é separar um pedaço específico para as filarmônicas dentro dos editais de música para que elas possam ser atendidas porque a filarmônica faz um trabalho relacionado à juventude que é muito importante. As filarmônicas não formam só músicos, mas cidadãos também. Nas cidades do interior tem filarmônicas que têm mais de 100 anos. Tem músicos que não têm a oportunidade de estudar música nas suas escolas ou não tem universidade de música no interior, mas aprende a tocar e aprende a cantar nas filarmônicas e, a partir dali se cria essa identidade musical.

Ainda falando da Lei Paulo Gustavo, o que chama muita atenção é justamente o fato de a Bahia ter sido o estado a enviar mais propostas. A que você atribui isso?

Muita gente já disse que o baiano não nasce, estreia. Eu acho que a gente tem muito artista e muito artista que não foi contemplado, que não teve oportunidades. Quando teve essa mudança de governo, nesses últimos seis anos antes de Lula, a cultura sofreu muito. O povo foi achando a oportunidade e entendendo que esse dinheiro da cultura agora é para ser usado. Todo mundo tem direito a esse recurso da cultura. Então, o que eu acho que aconteceu foi um grande acordar. Foi um despertar com coragem, com vontade, que fez com que 9 mil projetos fossem acionados nessa lei.

Nosso desejo é tornar a Sala Principal do TCA a sala mais moderna da América Latina

E diante desse cenário, o que significa, na prática, a prorrogação da Lei para 2024, sancionada no mês passado pelo presidente Lula?

Não só para a Funceb, mas significa para os projetos, porque a gente deveria pagar até 31 de dezembro [de 2023] tudo, e os projetos tinham que ser executados até junho. Então, o que acontece agora é que os projetos podem ser executados até final de dezembro. Então, a gente tem um ano para os projetos serem executados e depois mais um ano para prestar conta desses projetos. Quando você ganha mais tempo, você consegue fazer as coisas com mais calma, mais zelo, mais respeito à arte que está se propondo a fazer.

Em entrevista à rádio A TARDE FM, você definiu a Escola de Dança como sendo o coração mais pulsante da Funceb. Como surgiu essa tradição dentro da instituição?

Eu falo coração pulsante porque a Escola de Dança tem 40 anos e atende mais de 1.500 alunos. É uma política pública muito bem feita e ela praticamente anda sozinha, já tem a fila de gente querendo entrar para estudar. Os cursos livres, por exemplo, a cada ano, a gente tem mais pedidos de mais modalidades de dança, o último foi o K-pop, agora, que é coreano, e a gente tenta atender. E o que a gente tem feito é, inclusive, conversar bastante com as prefeituras e com as pessoas de dança do interior. Quando a gente tem passado pelas cidades ou quando os prefeitos vêm aqui pedir ações, a gente tem dito, se a prefeitura apoiar a gente com estrutura física, conseguimos levar nosso capital humano, nossos profissionais. Olhe, eu vou te dizer, eu já viajei esse mundo inteiro com vários artistas da Bahia, e toda vez que a gente chega em qualquer lugar no mundo, sempre tem um bailarino profissional que dançou na Escola de Dança.

O bolo de aniversário da Funceb vai ser compartilhado por todo o estado da Bahia. A gente vai pensar em ampliar nossos projetos de capacitação e formação e levar ele aí para os para os quatro cantos dessa Bahia

E por falar em festa e dança, Piti, o Carnaval já é logo ali, no próximo mês. Como se dá a atuação da Funceb na folia momesca?

A gente não cuida do Carnaval, mas servimos de apoio às ações que a Secretaria de Cultura, como o Ouro Negro, que é um projeto lindo e na gestão do secretário Bruno Monteiro foi bastante ampliado, inclusive na territorialização. E a gente vai servir de sede aqui para esse apoio do Carnaval, de uma forma geral, que a nossa sede, fica em um lugar muito central.

2023 acabou e agora estamos iniciando 2024. Dentro de tudo que já promoveu neste período, qual a avaliação que você faz do seu primeiro ano de gestão?

Eu acho que eu estou muito orgulhosa do ano que a gente fez. Acho que foi um ano muito produtivo. Conseguimos atender e fazer ações formativas muito importantes. A gente conseguiu chegar em mais de 100 municípios desse estado, tão enorme e rico. A gente conseguiu vencer esse grande desafio que foi botar a para funcionar a reforma do Teatro Castro Alves, e acho que a gente conseguiu operar a Lei Paulo Gustavo, que era um grande desafio para a gente também. Em 2024, a gente tem muitas coisas boas para acontecer, vai ter muita transversalidade nesses 50 anos da Fundação, a gente vai passear pelo centro de cultura, vamos estar nas escolas novas que foram inauguradas. A gente sabe que nesses espaços todos foram pensados espaços de transformação através da arte, que são auditórios pequenos. O que a gente quer esse ano é que todos esses centros de cultura e todas essas escolas sejam ocupadas pelas artes da Bahia, pela cultura local e que aconteçam também esses intercâmbio entre os territórios de identidade da Bahia. Eu acho que a grande marca que a gente quer fazer é acordar, é despertar a cultura da Bahia inteira e fazer com que ela se movimente agora.

Então esse vai ser o eixo da sua administração da Funceb.

Sim, é o que eu tenho vontade, de realmente, em quatro anos, chegar nos 417 municípios. Quem sabe?

Gestora da Funceb tem o sonho de levar projetos culturais aos 417 municípios baianos
Gestora da Funceb tem o sonho de levar projetos culturais aos 417 municípios baianos | Foto: Divulgação | Amanda Moreno

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