EXPOSIÇÃO
Vik Muniz estreia maior retrospectiva da carreira com mais de 200 obras
A Olho Nu revela os primeiros trabalhos de Vik Muniz

Por Eugênio Afonso

Tudo em Vik Muniz é grandioso: suas telas, suas fotografias, seu talento. Hoje, às 17h, o artista plástico paulistano de 63 anos (faz 64 no próximo dia 20) inaugura, no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_Bahia), a maior retrospectiva de sua história.
A Olho Nu reúne mais de 200 obras de diferentes fases da carreira de Muniz, distribuídas em 37 séries, com quatro obras ainda inéditas: Queijo (Cheese), Patins (Skates), Ninho de ouro (Golden nest) e Suvenir #18. A visitação é gratuita, começa amanhã e a exposição permanece em cartaz até 29 de março de 2026.
Segundo Vik, esta retrospectiva abrange quase 40 anos de trajetória, atravessando transições que vão da escultura à imagem fotográfica e do processo analógico ao digital. “Ela delineia o percurso do crescimento – ou do desenvolvimento criativo – de um artista, desde a juventude, e os primeiros experimentos até a fase de maturidade”.
Ele garante que um dos propósitos da mostra é a oportunidade de rever sua trajetória. “Como as peças resistiram às mudanças de comportamento em relação à mídia, e testar essa história com o público. Isso não só me dá uma perspectiva mais completa do corpo da minha obra como também me ajuda a me direcionar para projetos futuros”.
Realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e com curadoria de Daniel Rangel, A Olho Nu ocupará mais dois espaços: o ateliê do artista no bairro de Santo Antônio Além do Carmo (onde ocorrerão encontros e visitas), e a Galeria Lugar Comum (do próprio Vik), na Feira de São Joaquim, onde será apresentada uma instalação específica, inédita e pensada para o espaço.
“Meu objetivo é que o encontro entre espectador e trabalho resulte em uma experiência única e individual, uma experiência de discernimento que cria um espaço interno no qual cada pessoa possa refletir, de maneira autônoma e livre, sobre sua própria relação com o universo das imagens”, especifica Vik.
Leia Também:
Obras inéditas

O público ainda vai conhecer outras três obras até então nunca exibidas no Brasil – Oklahoma, Menino 2 e Neurônios 2. Elas só tinham participado de uma exposição em Nova York, em 2022, e recentemente no Instituto Ricardo Brennand (Recife).
“A mostra contempla diferentes estratégias de criação e, por isso, considero-a particularmente completa. O que me interessa, mais do que o material ou o processo em si, é a diversidade de técnicas e abordagens que empreguei ao longo dos anos para mapear, de certa forma, aquilo que entendo como a história da influência da representação durante o meu tempo de vida até agora”, ressalta Vik.
A Olho Nu também vai apresentar, pela primeira vez, os mais antigos trabalhos do artista. “Objetos realizados antes da transição definitiva para a fotografia – que nunca haviam sido exibidos em conjunto com as imagens fotográficas. A curadoria de Daniel Rangel permitiu construir essa visão ampla, articulada e reveladora do meu percurso”, conta Muniz.
Referência artística

Rangel diz que a retrospectiva tem um recorte pensado para criar um diálogo entre as obras de Muniz e a cultura popular. Diz ainda que a mostra itinerante segue uma linha do tempo que revela a evolução de sua criação artística: das esculturas iniciais à transição para a fotografia, chegando às séries atuais.
“É um recorte da produção de Vik em que ele usa elementos do cotidiano, deslocando a função deles para a função pictórica, para a função visual, criando a partir da utilização de lixo, sucata, chocolate, caviar, diamante, recortes de papel, pigmento, enfim, os mais diversos materiais que estão disponíveis”, detalha o curador.
Considerado um ilusionista gráfico, Vik Muniz trabalha com diversos materiais, indo literalmente do lixo ao dinheiro. A poética da ilusão e da mimetização marcam sua produção, sempre permeada por humor, crítica social e surpresa.
“É uma exposição muito completa. Para quem gosta de Vik Muniz, é imperdível, e para quem não conhece, é uma oportunidade única de conhecer um dos nossos maiores artistas com projeção internacional”, convida Daniel.
O público vai poder imergir na trajetória de um artista que, também através do humor, captura muita gente.
“Mas com um processo muito rigoroso, um processo técnico formal incrível. Eu acho que ele é uma referência fundamental para a fotografia contemporânea também”, reconhece o curador.
Relação soteropolitana

Com ateliê montado em Salvador, Vik mantém uma relação de relativa intimidade com a Bahia, especialmente com a capital do dendê. “Para alguém como eu, que nasceu em São Paulo e passou a maior parte da vida em Nova York, esse encontro representa uma diferença profunda”.
“O estranhamento inicial diante de uma cultura nova e riquíssima, somado ao exercício constante de me posicionar como um eterno aprendiz, faz de Salvador um ambiente extremamente fértil. Tenho visitado, habitado e participado dessa cidade ao longo de mais de 25 anos de convivência”, alinhava o artista.
Vik revela ainda que seus planos incluem continuar vindo anualmente, “permanecendo mais de dois meses por ano, para seguir vivenciando e dialogando com essa cultura tão abundante e inspiradora”.
E com relação à sua própria obra, o artista gráfico acredita que ela tem funcionado como um instrumento para medir e articular a relação entre sua vida interior e o mundo físico ao redor. Que ela ajuda a compreender seu papel como intelectual no mundo atual.
“Além dos meus interesses pessoais, meu trabalho busca proporcionar às pessoas uma experiência de conhecimento e discernimento – um espaço para refletirem sobre como o universo imagético, em constante transformação, influencia pensamentos, sensações e memórias no contexto de uma experiência de vida no século XXI”, finaliza.
Minibio analítica

A obra de Vicente José de Oliveira Muniz (nome de batismo) questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate e até lixo, o artista compõe paisagens, retratos e imagens icônicas retiradas da história da arte e do imaginário da cultura visual ocidental, propondo outros significados.
Seu trabalho explora a natureza da imagem e da memória, forçando o espectador a questionar a realidade e a ilusão através de um processo de descoberta visual e conceitual, transformando o efêmero em algo tangível e também provocando reflexão social.
O artista ainda se destaca pelos projetos sociais que coordena, partindo da arte e da criatividade como fator de transformação em comunidades brasileiras carentes, criando trabalhos que buscam dar visibilidade a grupos marginalizados.
Exposição A Olho Nu / MAC_BAHIA (Rua da Graça, 284 - Graça) / 13 de dezembro a 29 de março de 2026 / gratuito / Visitação: de terça a domingo, das 10h às 20h
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes



