LITERATURA
Zulu Araújo lança novo livro e revisita 50 anos de luta antirracista
Em estreia literária, ativista expõe enfrentamentos, memórias e críticas sobre a cidadania negra no Brasil

Por Beatriz Santos

A trajetória de mais de cinco décadas no movimento negro ganha novo capítulo com o lançamento de Apenas um Cidadão, primeiro livro de Zulu Araújo. A obra, editada pela Solisluna, será apresentada ao público nessa quarta-feira, 3, às 18h, no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), no Centro Histórico, em evento com bate-papo e sessão de autógrafos.
Embora não seja um livro de memórias, Zulu revela que o leitor encontrará fragmentos marcantes de sua vida: “Esse livro foi incentivado por alguns amigos que ouviam minhas histórias e viam nelas potencial para uma publicação. Nele, o leitor encontrará versões de histórias divertidas pelas quais passei, momentos familiares e os altos e baixos que todo baiano passa. Em particular no tocante à resiliência do racismo em nossa sociedade, e reflexões sobre momentos importantes da minha vida política e cultural”, afirma.
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A obra percorre desde a infância marcada pelo trabalho precoce — Zulu começou a trabalhar aos 10 anos — até o início da militância aos 18. O ingresso no Partido Comunista Brasileiro, em 1973, marca um divisor de águas.
“Foi uma verdadeira escola política e de vida”, lembra ele. Em plena ditadura, exercer a cidadania, especialmente sendo uma pessoa negra, significava enfrentar riscos diários.
Aos 73 anos, o autor reflete sobre o país atual e sobre o que ainda impede a cidadania plena: “Claro que os tempos são outros e muita coisa mudou positivamente, se compararmos com o período ditatorial, mas ainda existem fortes entraves para o exercício pleno da cidadania, ainda mais se você for uma pessoa preta no Brasil", analisa.
"Exemplo são as abordagens policiais nos bairros pobres do nosso país, onde meter o pé na porta substitui a autorização judicial e a bala substitui o devido processo legal. Lamentavelmente, ainda se faz presente no imaginário da população que ‘branco correndo é atleta, e preto correndo é ladrão’. E aí não há cidadania que resista”, completa.
O livro reforça também o papel transformador da educação, crença herdada de seu pai. Em um dos capítulos, Zulu recorda sua formação na Escola de Arquitetura da UFBA e o despertar para a cultura e para a palavra escrita. Esse processo, segundo ele, alimentou a consciência necessária para o enfrentamento ao racismo.
“Em primeiro lugar, é preciso ter muita firmeza e consciência dos nossos direitos. Em segundo lugar, tem que criar e manter uma rede de solidariedade a esse direito, particularmente junto a organizações do movimento negro e dos direitos humanos. E, por fim, tem que ter coragem para os enfrentamentos necessários”, afirma o autor.
A narrativa avança para as conquistas acumuladas ao longo da vida. Zulu se tornou referência nacional na luta antirracista e ocupou cargos centrais na gestão cultural: foi diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, dirigente do Grupo Cultural Olodum, responsável por acompanhar o nascimento do Bando de Teatro Olodum, diretor da área afro-brasileira da Fundação Cultural Palmares e, mais tarde, presidente da instituição, indicado por Gilberto Gil.
Serviços
➡️ Lançamento do livro “Apenas um Cidadão”, de Zulu Araújo
▪️Bate-papo: Zulu Araújo e Paulo Miguez
▪️Mediação: Mirtes Santa Rosa
▪️Data: 3 de dezembro de 2025
▪️Horário: 18h
▪️Local: Muncab – R. das Vassouras, 25, Centro Histórico
▪️Entrada: gratuita
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