ECONOMIA
Acelen aposta na produção de biocombustível à base de macaúba na Bahia
Primeira fazenda-modelo deverá ser instalada no Recôncavo Baiano
Por Lula Bonfim
A Acelen, empresa responsável pela gestão da Refinaria de Mataripe, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), está preparando um grande investimento na produção de combustíveis renováveis no Brasil. Hoje referência no refino de petróleo para a produção de gasolina, gás de cozinha e diesel, o grupo de origem árabe deseja entrar de vez no mercado da transição energética, apostando na elaboração de produtos com base em biomassa.
A ideia da empresa é investir na produção de macaúba, um fruto semelhante ao dendê e originado em palmeiras brasileiras. A partir dele, a Acelen produziria biodiesel e combustível de aviação renovável, alimentando o mercado brasileiro com uma alternativa energética de menor pegada de carbono e, dependendo da produtividade, possivelmente mais barata. Para chegar a isso, o grupo deve investir aproximadamente 3 bilhões de dólares (R$ 17,4 bilhões).
Os detalhes foram revelados ao Portal A TARDE pelo vice-presidente de Comunicação ESG e Relações Institucionais da Acelen, Marcelo Lyra, durante entrevista nesta quarta-feira, 13.
“A Acelen é uma empresa que foi criada com o propósito de ser relevante na transição energética. Então, além da Refinaria, nós temos um investimento de 3 bilhões de dólares, aproximadamente, que visa produzir combustíveis renováveis: combustível de aviação renovável e o diesel renovável, em larga escala, com plantação de uma variedade brasileira em 180 mil hectares, gerando riqueza econômica e um produto ambientalmente correto”, disse Lyra.
“Faz parte do DNA da Acelen fazer um investimento significativo na transição energética, na construção de um portfólio com produtos renováveis”, acrescentou o diretor da empresa.
Os 180 mil hectares em que serão plantadas as palmeiras de macaúba se espalharão entre a Bahia e o norte de Minas Gerais, nas proximidades de Montes Claros. É nessa cidade mineira inclusive que a Acelen está instalando um centro de tecnologia, nomeado Agripark, com um investimento de R$ 300 milhões, visando o melhoramento genético do fruto, mas também a produção de 10 milhões de mudas por ano em um viveiro.
A empresa garante ainda que boa parte dessa produção será realizada através da agricultura familiar, com apoio da Acelen, assegurando desenvolvimento socioeconômico no campo da Bahia e de Minas.
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“Mais ou menos 20% dessa produção será realizada por pequenos produtores. Portanto, tem um efeito econômico e social muito significativo para as pessoas que estarão produzindo essa variedade de palmeira. As pessoas vão ter um potencial de melhoria de renda e de bem-estar social muito significativo. Então a gente conecta, sim, o campo com o refino. E isso é fundamental, porque o mundo vai precisar dessa conexão para produzir combustíveis renováveis”, analisou Lyra.
Ao mesmo tempo, a Acelen já prepara a instalação de sua primeira fazenda-modelo para a produção de macaúba. Ela será implantada na Bahia, nas proximidades da Baía de Todos-os-Santos e também da própria Refinaria de Mataripe.
“A gente já tem uma negociação muito avançada para a primeira fazenda-modelo, que deve ser de quatro a cinco mil hectares, no entorno do Recôncavo Baiano. Então, a primeira fazenda-modelo vai ser na Bahia. A gente não pode entrar muito em detalhes, mas em breve devemos ter essa informação mais específica. E a biorrefinaria, que vai processar os óleos dessas plantas, será aqui em Mataripe”, adiantou o vice-presidente da Acelen ao Portal A TARDE.
PREÇO SALGADO
Hoje, um dos principais incômodos da população baiana é a inflação que incide sobre combustíveis e gás de cozinha, ambos fornecidos pela Acelen para praticamente todo o estado da Bahia. Em regra, nos últimos anos, a empresa tem vendido seus produtos em um preço acima da média nacional, o que gera reclamações acerca da privatização da Refinaria de Mataripe.
Questionado sobre a possibilidade dos investimentos feitos resultarem em uma redução dos preços dos combustíveis fornecidos pela Acelen, Marcelo Lyra afirmou que essa é uma consequência possível, mas não garantiu a queda dos valores que são cobrados ao consumidor.
“A gente vive no mercado de commodities, onde as margens são muito pequenas. Então, efetivamente, todo esforço que a gente faz de aumento de produção, redução de consumo de água e energia, etc., ele acaba indo para o produto. A gente consegue passar tudo isso para o produto”, apontou o diretor, antes de ponderar sobre o custo do petróleo que chega para o refino em Mataripe.
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“É lógico que nós temos questões vinculadas a custo de preço de petróleo e preço final de combustível, que, às vezes, as margens são muito pequenas, para você ter essa capacidade de operar oferecendo uma condição tão diferenciada assim para o mercado. Mas temos feito o máximo possível para seguirmos competitivos. E temos sido competitivos. A produção que a gente tem hoje na Refinaria consegue atender ao mercado baiano e ao mercado nordestino de forma bem competitiva”, exaltou Lyra.
O Portal A TARDE apurou que, nos bastidores, os acionistas da empresa têm reclamado da dificuldade que enfrentam no mercado brasileiro. Segundo eles, a Petrobras vende petróleo para suas refinarias próprias a um preço consideravelmente abaixo do mercado internacional, possibilitando a venda de combustíveis em um valor mais baixo.
Já para a Acelen, a Petrobras negocia o petróleo se baseando no mercado internacional, fazendo com que o custo do combustível refinado em Mataripe seja mais alto do que no restante do Brasil. De acordo com os acionistas, essa seria a razão da gasolina na Bahia ser mais cara do que a média do restante do país.
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