EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Poupança ou caixinha: qual faz seu dinheiro render de verdade? Entenda
Caixinhas conquistam brasileiros, elevam a renda fixa e ameaçam a poupança

Por Andrêzza Moura

Talvez você nunca tenha ouvido falar em 'caixinha', mas esse termo tem ganhado cada vez mais espaço entre os brasileiros que estão começando a investir. Criadas pelos bancos digitais, as caixinhas são ferramentas simples e acessíveis que permitem aplicar dinheiro em renda fixa, oferecendo rentabilidade superior ao da poupança e com a mesma proteção garantida pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Enquanto a poupança rende cerca de 6% ao ano, as caixinhas podem chegar a mais de 10%, mantendo a segurança e oferecendo mais retorno. Por isso, têm se tornado a escolha preferida de quem quer dar o pontapé inicial no setor de investimentos, mesmo sem entender muito de finanças.
"Eu nunca guardei dinheiro. Na verdade, nunca sobrou dinheiro para guardar. Depois que passei por uma situação financeira difícil, decidi que todos os meses tiraria um valor do meu salário para investir. Primeiro, pensei na poupança, por achar mais seguro. Não confiava muito nos bancos digitais. Um amigo me explicou o que era caixinha e falou que não tinha riscos. Agora, coloco meu dinheiro lá [banco digital]. Estou satisfeita", contou a professora Cristina Sales.
Segundo o economista Antônio Carvalho, antes de escolher onde investir, o primeiro passo e fazer exatamente o que Cristina aprendeu na prática: criar o hábito de poupar, mesmo que pareça difícil no começo. Para ele, a construção dessa disciplina exige uma mudança de mentalidade e "abdicar de certos gastos e consumos em prol de um objetivo mais importante - aquisição de um bem, uma viagem, uma reforma, um tratamento médico, dentário ou estético".
O hábito de poupar é de grande importância, porém é desafiador, pois “fazer o dinheiro sobrar” é uma tarefa difícil. É essa lógica que precisa ser mudada, não é fazer sobrar (renda - despesa = poupança), a reserva precisa ser construída como uma obrigação e assim limitar/educar o consumo (renda - poupança = despesa)", completou Carvalho.
Onde investir com segurança e rentabilidade
O receio da professora, com certeza, é o mesmo de muita gente que tem pensado em guardar uma grana. Além da insegurança, o desconhecimento pode assustar e afastar possíveis investidores das caixinhas, fazendo com que muitas pessoas recorram a uma alternativa mais simples e tradicional: a poupança.
Para te ajudar a decidir onde guardar seu dinheiro, o Portal A TARDE fez algumas perguntas ao economista Antônio Carvalho.
Portal A TARDE: Caixinha ou caderneta de poupança?
Antônio Carvalho: Ambas são ótimas para estabelecer poupança. As caixinhas rendem mais. Porque os bancos, quando fazem a caixinha, o banco digital, ela é equivalente à poupança. E aí, além de ter um rendimento melhor que o da poupança, ela tem a mesma proteção, a proteção do FGC.
Agora, tem que ter um cuidado. Quando é um rendimento associado à conta corrente, que é comum os bancos digitais fazerem isso, não tem essa proteção e geralmente as pessoas deixam pequenos valores e por pouco tempo, por isso que não há proteção da FGC.
PAT: Qual ajuda mais na disciplina financeira?
AC: Ambas ajudam. O hábito de poupar deve ser iniciado com pequenos valores e aumentado gradativamente, pois ele ajuda muito a disciplinar o consumo, a avaliar melhor as decisões de compra. Logo, estabelecer um objetivo, cultivar o hábito de poupar é o caminho da educação financeira.
PAT: Para curto prazo, qual é a melhor opção?
AC: Ambas são boas, pois tem liquidez imediata, ou seja, podem ser retiradas ou sacadas a qualquer momento.
PAT: O que significam termos como liquidez, CDI e rendimento líquido?
AC:
- Liquidez - representa a capacidade
- de um ativo ou aplicação, ser convertido em dinheiro vivo, ser sacado e utilizado. Uma aplicação como a caderneta de poupança que pode ser sacada a qualquer momento, possui alta liquidez.
- CDI - Cerificado de Depósito Interbancário, é a taxa de juros cobrada entre os bancos quando emprestam dinheiro entre si e serve de referência para o rendimento das aplicações.
- Rendimento Líquido - rendimento de uma aplicação depois de descontado o imposto de renda, para os casos que incidem imposto.
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Outros investimentos
- LCI (Letra de Crédito Imobiliário) - É um investimento de renda fixa lastreado em créditos do setor imobiliário, isento de Imposto de Renda para pessoa física e ideal para quem busca segurança e quer fugir do IR. Tem prazos mais longos e geralmente não tem liquidez diária.
- LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) - Funciona como a LCI, mas financia o setor do agronegócio, também é isenta de IR para pessoas físicas, rende mais que a poupança, mas exige que o dinheiro fique aplicado por um tempo mínimo.
- CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) - É um título privado emitido por securitizadoras ligado ao setor imobiliário, sem cobertura do FGC, pode oferecer rentabilidades maiores, mas com risco mais elevado. Indicado para investidores mais experientes.
- CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) - Semelhante ao CRI, mas ligado ao agronegócio, também não tem proteção do FGC, costuma pagar rendimentos atrativos, mas envolve mais risco.
- CDB (Certificado de Depósito Bancário) - Título emitido por bancos para captar dinheiro -você "empresta" dinheiro ao banco e recebe juros em troca. É protegido pelo FGC e pode ter liquidez diária (bom para reserva de emergência)ou prazos mais longos, com rendimentos maiores.
- Tesouro Direto - Programa do governo que permite comprar títulos públicos pela internet, tem segurança máxima, pois o emissor é o próprio governo federal. Possui diferentes tipos de títulos (prefixados, atrelados à inflação ou à Selic) e é acessível a partir de R$ 30, ideal para iniciantes.
Investimentos seguros vão além da poupança
A poupança é vista por muitos como um investimento seguro. Isso porque ela é protegida pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que assegura ao investidor a devolução de até R$ 250 mil por CPF e por instituição em caso de falência, liquidação ou intervenção do banco.
Entretanto, o que muitos não sabem é que essa proteção não é exclusividade da poupança. Outras opções de renda fixa, como os CDBs e os RDBs, acessados hoje de maneira facilitada por meio das chamadas “caixinhas virtuais” dos bancos digitais, também são protegidas pelo FGC e, muitas vezes, apresentam rentabilidades superiores.
Crescimento das caixinhas impulsiona setor de renda fixa
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), no primeiro semestre de 2025, os investimentos em CDBs somaram R$ 1,15 trilhão, superando o volume aplicado na poupança, que ficou em R$ 957 bilhões. Esse movimento é reflexo direto da popularização das caixinhas oferecidas por instituições como Nubank, Inter, PicPay e outras fintechs.
De acordo com o relatório da B3 - empresa de infraestrutura de mercado financeiro -, no segundo trimestre de 2025, a renda fixa cresceu 20% com mais de 100 milhões de investidores. Os dados apontam também um o avanço de 5% em renda variável e de 14% no Tesouro Direto.
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