SURFE
Da tampa de isopor ao ouro olímpico: a história de Ítalo Ferreira
Como Ítalo foi de um menino surfando em tampas de isopor em Baía Formosa a primeiro campeão olímpico da história do surfe
Por Marina Branco

Em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, um menino subia em cima de uma tampa de isopor para brincar no mar. Cerca de vinte anos depois, o mesmo menino subia em uma prancha de surfe para se tornar o primeiro campeão olímpico da história do surfe, medalhista de ouro nas Olimpíadas de 2021.
Essa é a história de Ítalo Ferreira, surfista profissional brasileiro na ASP World Tour há dez anos. Vindo de origens simples, Ítalo ganhou o mundo com seu constrole das ondas, se tornando a realização de uma das maiores promessas do esporte no Brasil.
"Quando eu olho para o meu passado e para tudo o que conquistei, eu acho que a palavra que resume minha história é superação. Eu saí de uma cidade pequena do nordeste, de família de pescadores, sem perspectiva nenhuma de sucesso quando a gente pensa em uma vida de cidade grande, mas o meu sonho e a minha vontade de viver do surf sempre falaram mais alto", conta.
"Eu me vejo como um vencedor mesmo, alguém que colocou na cabeça que ia conseguir ter sucesso e viver do surf, e hoje carrego dois grandes títulos no esporte que poucos atletas têm no mundo", completou.

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Surfando ondas difíceis
Se superação é a palavra que melhor define a carreira de Ítalo, ela marca presença não só no panorama geral, como também em episódios pontuais, onde ele passa pelos obstáculos e faz o impossível parecer possível. Foi o que aconteceu, por exemplo, em uma prova em que o surfista perdeu o voo até o local da disputa, chegou atrasado, foi direto do aeroporto pra água e ainda venceu a bateria usando uma bermuda jeans.
O sufoco foi grande - a caminho do Japão para disputar o Mundial de Surfe de 2019, um tufão faz com que o voo de Ítalo, que já havia tido complicações com o passaporte, precisasse fazer um pouso forçado. De lá, ele foi para o local da prova, mas sem tempo de mais nada. Com a prancha do surfista Filipe Toledo emprestada e a bermuda jeans que levava no corpo, ele venceu a bateria.

"Nem eu acredito em tudo o que aconteceu. Tinha tudo pra dar errado, mas naquele dia Deus olhou pra mim e decidiu que ia ser um dia pra ficar marcado na história. Foi uma confusão porque tudo começou quando roubaram o carro que tava comigo e levaram meu passaporte. Aí perdi o vôo de origem, minhas pranchas não chegaram", conta.
"Quando pousei só deu tempo de correr pra praia, peguei uma prancha emprestada com o Filipe Toledo e entrei no mar com a roupa que tava (risos). No final acabou dando tudo certo e ficou essa história pra contar!", finaliza.
Os melhores mares de Ítalo
A emoção foi grande, mas nunca a única da carreira. Entre inúmeras baterias inacreditáveis, a preferida de Ítalo é a disputada contra o australiano Mick Fanning, em 2018, em Balls Beach. "Tudo foi especial pra mim. Disputar uma final com meu ídolo no surf, a torcida local contra, minha primeira vitória no tour", explica.
Quem tem bateria preferida, tem também tudo que a envolve, e Ítalo não decepciona nas opiniões. Para ele, a manobra que mais o representa é a aérea, enquanto a melhor onda de todas é justamente a mais especial da carreira - a de Baía Formosa, cidade onde nasceu.

Próximas ondas
Agora, Ítalo entra em uma nova etapa da vida e da carreira, com a chegada do seu primeiro filho ou filha. Entre muitos aprendizados vindo das vivências com o mar e o surfe, alguns serão passados pelo pai campeão olímpico ao mini surfista que vem por aí.
"Eu sou um cara que tem um estilo de vida totalmente voltado para o esporte, para a natureza, pra minha família e amigos. Minhas origens, sabe? O que eu quero passar para o meu filho é esse respeito e a responsabilidade que precisamos ter para preservar a natureza, fazer o nosso melhor e o nosso papel como cidadão. Cuidar do corpo e da mente também sempre seguindo o coração e tendo respeito pelas pessoas", conta o futuro pai.

Além do bebê, é claro, os sonhos de Ítalo se estendem ao esporte, com algumas metas ainda por cumprir no mar: "Eu sempre quero mais e conquistar mais uma medalha olímpica e um mundial estão nos meus objetivos principais".
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