AGORA VAI?
Fair Play: a nova era da saúde financeira no esporte
Pressionada, CBF monta grupo de trabalho para entregar projeto em 90 dias e implementá-lo em 2026
Por Luiz Teles

Desde 2009, a UEFA tem usado o Fair Play Financeiro em larga escala para controlar os gastos dos clubes na Europa. Agora, o Brasil segue o mesmo caminho para garantir que os clubes nacionais gastem de forma proporcional às suas receitas. O objetivo principal é criar um "freio de segurança" para evitar dívidas impagáveis, promover um ambiente mais justo e equilibrado, e impedir que gestões futuras herdem passivos.
Após muitas tentativas e conversas desorganizadas, finalmente um projeto sólido está em andamento. Há uma semana, a CBF promoveu um evento no Rio de Janeiro, iniciando oficialmente o debate sobre o Fair Play financeiro. Com a adesão de 34 clubes (20 da Série A e 14 da Série B) e 10 federações, a entidade criou um grupo de trabalho (GT) com prazo de 90 dias para apresentar um projeto. A intenção é que as regras comecem a valer já na temporada de 2026.
O que esperar do modelo brasileiro?
Mas afinal, quais seriam essas regras e como elas podem "domar" as contas instáveis do futebol nacional? Segundo Ricardo Gluck Paul, vice-presidente da CBF, o sistema "basicamente consiste em garantir o relacionamento de pagamentos entre clubes e atletas, clubes e clubes e clubes e governo". O presidente recém-eleito da CBF, Samir Xaud, explicou que o objetivo é "criar um sistema sustentável no Brasil, evitar o doping financeiro e reduzir dívidas", construindo um "ecossistema autossustentável".
Lições da Europa e o Desafio de Adaptar
Embora modelos de sucesso como os da Premier League (Inglaterra) e La Liga (Espanha) sirvam de inspiração, os dirigentes brasileiros defendem a criação de um modelo próprio, adaptado à realidade do país. Na Inglaterra, o Fair Play é conhecido como "Rentabilidade & Sustentabilidade" e limita os prejuízos acumulados ao longo de três temporadas, com punições que vão desde perda de pontos até exclusão de torneios.
Já na Espanha, o "Limite de Custo de Plantel Esportivo" define que os gastos com o elenco não podem superar 60% da receita total. Um exemplo emblemático dessa regra foi a saída de Lionel Messi do Barcelona em 2021, pois o clube não conseguiu se adequar aos limites salariais.
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O desafio no Brasil será conciliar as novas regras com as leis trabalhistas, o Código Civil, a Lei Geral dos Esportes e a regulamentação das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol). A transparência da Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) da CBF, órgão regulador de conflitos, também será um ponto-chave.
O economista Cesar Grafietti, especialista no tema, resume o desafio em duas dimensões: "a do controle de dívida e a do controle de gastos". A ideia é que clubes com pouca dívida possam gastar mais, enquanto os mais endividados precisam ser mais restritivos.
Apesar da histórica resistência do futebol brasileiro a mudanças, a alta adesão de clubes e federações ao GT da CBF demonstra que, desta vez, o tema está sendo levado a sério e que há uma união inédita em prol da saúde financeira do esporte.
Pontos de foco do fair play financeiro
- CONTROLE DAS DÍVIDAS: Clubes individados precisam mostrar capacidade de pagar seus credores
- CONTROLE DOS GASTOS: Imposição de limites de gastos em relação à receita total dos clubes, sobretudo para aqueles que estão endividados
- PUNIÇÕES: Definir punições esportivas e financeiras proporcionais à falta de controle das dívidas e dos gastos.
- ADEQUAÇÃO ÀS LEIS: Projeto deve estar em conformidade com as leis nacionais.
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