NATAÇÃO
Luisa Sugimoto: do afogamento à medalha de ouro
Conheça a baiana de 15 anos que já tem mais de 100 medalhas de ouro em piscina e águas abertas
Por Marina Branco

Qualquer um que convive com crianças pequenas sabe da tensão do machucado. Do tempinho que separa uma batida de cabeça e o choro ou a risada, e do nervoso em não saber se algo feriu, criou um novo medo ou traumatizou os pequenos. Uma experiência de afogamento, então, é certeira em causar tensão.
Foi o que aconteceu com a pequena Luisa Sugimoto. Ainda na infância, esqueceu que estava sem usar suas boias de braço, pulou na piscina e se afogou. Após o resgate, tinham dois caminhos - passar a odiar a água ou abraçá-la por completo. E ela escolheu a segunda opção.
Saindo daquela piscina, os pais de Luisa decidiram colocá-la em aulas de natação, para que o acidente nunca se repetisse e tivesse consequências maiores. A decisão, que inicialmente era uma medida de segurança, acabou definindo o futuro da menina, que cresceu para se tornar uma das maiores nadadoras da Bahia.
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Primeiros mergulhos
Aos nove anos de idade, Luisa estava nadando na escola quando um professor percebeu que ela “nadava diferente das outras crianças”, e a indicou para um teste no Yacht Club. A pequena topou, passou na avaliação, e apenas um ano depois já foi eleita a melhor atleta baiana de águas abertas, feito que repetiu aos onze anos.
“Quando entrei no Yacht, fiquei muito feliz em ter entrado, mas não tinha nenhuma noção de tudo que podia acontecer. Comecei a treinar e não sabia de competição, de Brasileiro, não sabia de nada. Só nadava, só isso”, conta.
No entanto, o futuro de Luisa não guardava “só” natação. O talento da baiana era tanto, que as competições não demoraram a chegar, com torneios baianos e regionais batendo na porta pelo Norte-Nordeste.
“Todo mundo falava que o Norte-Nordeste era difícil, mas eu nem me preocupava. Nadei na primeira série só para ser feliz. Acabei dando muita distância das meninas e fiquei em terceiro. Aí todo mundo ficou muito feliz, e eu não estava entendendo nada, mas subi no pódio e acho que a partir dali comecei a entender o que tudo aquilo significava”, explica.

Desde então, a lista de conquistas só aumentou. Aos 14 anos, já eram 99 ouros, 57 pratas e 13 bronzes na conta de Luisa, melhor atleta baiana em piscina e águas abertas em 2021, 2022 e 2023, e melhor atleta de natação Juvenil 1 em 2024 pela FBDA. Só em 2025, já levou oito ouros, uma prata e dois bronzes. Entre as muitas medalhas, no entanto, uma brilha mais forte no peito da nadadora - o Brasileiro de Piscina disputado em Recife.
“Nunca tinha ganhado nenhuma medalha em Brasileiro, e a primeira medalha que eu ganhei foi lá. Na batida de mão, quase que eu não pegava a medalha, mas fiquei em terceiro. Dois dias depois, fui campeã. Acho que foi uma das melhores competições que eu fiz, essas duas medalhas são muito importantes para mim. Porque o 400m livre foi muito especial porque foi a primeira, mas o 800 eu fui campeã brasileira”, conta Luisa.
“Eu não comecei a prova (800m livre) na frente, eu fui passando, e quando vi que estava na frente, sabia que não podia me desesperar. Tinha que terminar, bater na parede, porque você está na frente, mas a pessoa pode te passar de novo. Quando eu terminei, todo mundo gritando, eu não estava acreditando. Parei, olhei para o placar, saí da piscina e estava todo mundo gritando meu nome, meus amigos do Yacht me abraçaram, me acabei de chorar”, relata.
Entre piscinas e águas abertas
Quem nada, nada em qualquer lugar, e para Luisa essa é a mais pura verdade. Ao longo de toda a carreira, a jovem estrela baiana equilibrou o nado na piscina e em águas abertas, treinando e competindo em ambas as modalidades. Com a maior parte dos treinos acontecendo em piscina para alcançar mais rodagem, ela equilibra as duas paixões, ainda que o mar aberto tenha um lugar mais especial em seu coração.
“Eu gosto muito dos dois, mas águas abertas traz uma experiência totalmente diferente a cada prova que a gente nada. Qualquer prova vai ser diferente da outra. E também traz mais esse sentimento de liberdade, de estar no mar. Na piscina, é você e você, na sua raia, e você tem que dar o seu melhor. No mar tem vários fatores que podem interferir. O mar, o vento, o frio, o calor. Então, cada prova é uma prova totalmente diferente”, explica.
É justamente daí que vem o amor pela natação e pela variedade de mundos e sensações que ela oferece a cada nado: “Eu gosto muito de estar na água, nadando. É um sentimento que eu não sei explicar, fico muito feliz, até quando eu estou sozinha”.
“A gente treina com nossos amigos, mas está nadando com a cabeça na água, então naquele momento, está sozinha. É muito bom pra mim ter esse momento só comigo também, na água”, completa.

As Olimpíadas no fim da raia
Entre mares e piscinas, uma coisa é certa - o futuro de Luisa está na glória dos Jogos Olímpicos, competição reservada para os melhores atletas da história em cada modalidade. Para a baiana, o sonho de pegar uma Olimpíada na final serve tanto para mar quanto para piscina, com referências fortíssimas em ambos os lugares.
No mar, o espelho de Luisa é a brasileira Ana Marcela. As duas já se encontraram três vezes, quando Luisa estava competindo em Inema, no Rio de Janeiro e na prova do Yacht no Porto da Barra. Já na piscina, a referência é o estadunidense Michael Phelps, astro das Olimpíadas que a jovem tanto sonha em disputar.
“Se for qualquer um dos dois — piscina ou maratonas — eu vou estar muito feliz. Agora, acho que estou muito nova ainda. Mas vou continuar treinando, participando de mais competições internacionais, e quem sabe em 2032, acho que seria possível (disputar os Jogos Olímpicos)”, sonha.
Rotina de nadadora
Agora, no entanto, Sugimoto ainda divide as atenções entre a piscina e a escola, no meio do primeiro ano do ensino médio. No dia a dia, a rotina é puxada - treinos às cinco da manhã, escola, inglês, treino de novo à tarde e academia à noite se intercalam em semanas cheias de tarefas e águas na vida de Luisa.
“É uma rotina muito agitada, tem que se organizar bastante para poder fazer tudo, mas eu gosto muito. Quando não tem alguma coisa, em algum dia que não tem inglês ou treino, parece que é um vazio”, diz.
Apesar da quantidade de treinos, no entanto, de uma coisa ela não abre mão - o acompanhamento psicológico de bem perto, garantindo que o emocional esteja sempre equilibrado o suficiente para que ela mantenha a calma e complete os percursos como fez no Brasileiro.
“No início, eu não me preocupava muito. Eu era feliz nadando, apenas nadava. Aí eu comecei a participar dos Brasileiros, comecei a me comparar muito, ficar muito nervosa. Foi quando comecei com a preparação psicológica, e isso melhorou bastante também a minha preparação. Hoje, não me comparo muito como antes”, afirma.

“À medida que a gente vai evoluindo, as cobranças vão aumentando. Não só exterior, até a minha cobrança comigo mesma. Eu sempre me cobro bastante, independente de qualquer fato. Então, é muito importante a preparação psicológica”, completa.
Se pudesse, o conselho que ela daria para a Luisa que começou a competir seria justamente fazer tudo da maneira como fazia - com leveza, diversão e amor. “Comecei sendo muito feliz, aproveitando muito e não me preocupando com o futuro, até porque eu nem sabia o que podia acontecer no futuro. Então acho que continuar aproveitando a natação e aproveitando cada dia, cada minuto que passou”, aconselha.
Nadando lado a lado
Entre as águas e no meio do caminho, Luisa nunca esteve sozinha. Entre família, amigos e treinadores, suas águas sempre foram rodeadas de amor, apoio e a torcida mais genuína que ela poderia ter.
Os primeiros, é claro, foram os pais. Quando a filha começou a nadar, Edson Sugimoto admite que tinha um pouco de receio de ser muita pressão, uma quantidade muito grande de torneios e treinamentos muito exaustivos, mas logo percebeu que era essa a grande paixão da filha.
“Ele achou que seria muito desgastante, mas ele percebeu que é preciso treinar bastante para poder ter resultado. E que eu gosto muito de nadar. Então não era nenhum esforço grandioso. Fui conquistando mais coisas, melhorando na natação, e ele foi começando a gostar também”, conta Luisa.
Já a mãe, Flávia Joaquim, sempre esteve em todos os momentos da carreira da filha bem de perto, levando e pegando em todos os treinos e indo às competições, enquanto o pai assiste atentamente a todas as provas longe de casa pelo YouTube.
“Sem a minha mãe, não estaria nem nadando. Foi ela quem me botou na natação, e continuou me levando sempre, em treinos e competições. Como meu pai trabalha de manhã e de tarde, ele vai menos para as competições, mas quando é aqui em Salvador, ele sempre vai. Como ela consegue ter um horário mais flexível, ela faz tudo. Literalmente tudo. Patrocinador, leva, pega. Então, ela é muito, muito importante”, se declara.
Com os pais observando de fora, Luisa nada em companhia dos amigos que pulam na piscina com ela, e a acompanharam ao longo dos anos de Yacht Club. “É um grupo muito unido, muito junto. Em competição de águas abertas, quando acaba a prova, todo mundo pergunta: ‘E aí, como foi?’, e em piscina, um torce pelo outro. É uma equipe muito unida, que sempre se preocupa uns com os outros”, conta.

Entre as raias e a beira da piscina, sempre estiveram também seus treinadores - Maurício Torres, que cuidou de Luisa de 2021 a 2023, e Luis Rogério Arapiraca, que assumiu a partir do Juvenil, em 2024.
“Eu gostava muito de treinar com o Maurício, evoluí bastante. Foi com ele que eu conquistei a medalha do Brasileiro. Mas acho que com o Luis eu evoluí muito nas provas de fundo, me senti mais resistente e mais capaz. Na piscina também evoluí bastante meus tempos, principalmente no 1500m e no 800m. É muito gratificante poder treinar e ter esses resultados, ter mais consciência, técnica, força”, afirma.
Nos bastidores, estão também os patrocínios que apoiam Luisa, que atualmente são representados pela Acelen, via Faz Atleta. Custeando viagens, suplementações, equipamentos, trajes, psicóloga e fisioterapeuta, o grupo apoia a atleta desde 2023.
“É imprescindível. Antes, quando eu não tinha patrocínio, meu pai tinha que pagar (as viagens), mas aí eu tinha que escolher qual competição eu ia. Não podia ir para todas, porque são muitas competições diferentes — mar e piscina. Então é muito importante para eu poder participar de praticamente todas as competições que eu tenho no calendário”, conta.

Próximas ondas
Agora, Luisa começa a nadar em direção ao próximo sonho - depois de estrear internacionalmente na Copa Pacífico no Equador e no Mundial Júnior na Itália, a baiana encara a primeira internacional do ano também no Equador, em Salina.
“Estou muito empolgada. Nadar em competições internacionais é sempre muito diferente, o nível da competição é muito diferente”, afirma. O calendário dos próximos meses de Luisa une a Copa Pacífico, o Norte-Nordeste em Pernambuco, o Brasileiro Juvenil no Espírito Santo e a Travessia Itaparica Salvador na Bahia.
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