ANÁLISE ESTATÍSTICA
O que as estatísticas dizem sobre o vencedor de Bahia x Grêmio
Após a derrota no Ba-Vi, o Bahia recebe o Grêmio neste domingo, 19, às 20h30, na Fonte Nova

Por Marina Branco

O Bahia precisa deixar para trás a derrota por 2 a 1 no Ba-Vi e focar no próximo desafiante - o Grêmio, que chega à Fonte Nova neste domingo, 19, pela 29ª rodada do Brasileirão, trazendo um perfil quase espelhado ao do Esquadrão.
Em 27 partidas no Brasileirão, o clube baiano vem apresentando um futebol propositivo, de posse e construção paciente. O Grêmio, em 28 jogos, compensa a menor circulação de bola com volume defensivo, intensidade nos duelos e uma pegada mais física.
O encontro promete, então, um choque de estilos - enquanto o Esquadrão busca impor o ritmo com passes e ocupação de espaços, o Tricolor Gaúcho tenta quebrar essa cadência com desarmes, cortes e transições rápidas.
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Em gols marcados, o Bahia soma 35 contra 30 do Grêmio. Na métrica de eficiência crua, isso vira 1,3 gol por partida para os baianos contra 1,1 dos gaúchos, dado decisivo em partidas de margem curta, especialmente quando o mandante controla volume e território - bem o caso do Bahia na Fonte Nova.
Assim, o Bahia não apenas faz mais gols, como também cria mais, com 2,2 grandes chances por jogo, diante de 2,0 do rival. Existe, no entanto, um contraponto que pode pesar no roteiro da partida - o Bahia desperdiça 1,5 grande chance por partida, enquanto o Grêmio desperdiça 1,2.
A diferença sugere que, embora o time de casa chegue com mais frequência a situações claras, o aproveitamento do visitante tende a ser um pouco mais cirúrgico quando a oportunidade aparece.

Em chutes certos, a vantagem baiana se repete (4,1 por jogo, contra 3,9 do Grêmio), reforçando a ideia de que Tiago Volpi deve trabalhar, e que a primeira meia hora de jogo pode ser de grande pressão do Bahia.
As assistências ajudam a explicar a fluidez dessa produção. Nos números, são 23 para o Bahia e 16 para o Grêmio, mostrando mais jogadas coletivas concluídas no lado baiano, o que combina com o desenho tático de circulação curta e média antes da penúltima bola. Em outras palavras, quando o Bahia chega, costuma chegar organizado.
Posse do Bahia pode empurrar o Grêmio para trás
O pilar do Bahia, como sempre, é a posse: 54,8% de média contra 44,0% do Grêmio. E aqui, o que vale não é só a porcentagem, mas sim o que ela viabiliza. Com a bola, o Bahia dita onde e como o jogo acontece.
Isso se reflete nos 401,5 passes certos por partida, com 86,1% de acerto, patamar alto para o campeonato. Do outro lado, o Grêmio registra 297,9 passes certos, a 81,1%, evidenciando um ritmo mais direto e a aceitação de fases mais longas sem posse.

Nos passes longos, o Bahia também leva vantagem qualitativa e quantitativa: 17,2 bolas longas certas por jogo com 54,6% de acerto, contra 15,0 do Grêmio a 44,8%. Isso significa, primeiramente, que o Bahia varia bem o corredor quando a pressão sobe, invertendo o lado com mais precisão.
Além disso, a equipe baiana não depende apenas do toque curto para progredir, conseguindo acionar viradas e rupturas sem perder tanto a bola. Essa dupla capacidade (construção + inversão eficiente) tende a esticar a linha gremista e gerar situações de um contra um nas pontas ou atrasos no encaixe de marcação, cenários em que o Bahia costuma se sentir confortável.
Defesa gremista em peso
Quando o assunto é defesa, os indicadores mostram equilíbrio no resultado, mas diferença no caminho. Em gols sofridos por jogo, ambos estão em 1,2. Mesmo número, processos distintos.
O Bahia apresenta nove jogos sem sofrer gols, enquanto o Grêmio tem cinco. Essa discrepância sugere que o sistema baiano, quando “encaixa”, reduz o adversário a pouquíssimas chances. Já o Grêmio concede mais janelas, mas compensa com volume de ação defensiva.
O pacote de atividade defensiva gremista é robusto: 18,3 desarmes por jogo (contra 16,3 do Bahia), 30,0 cortes por jogo (24,7 no Bahia) e 8,8 interceptações (7,7 no Bahia). Em termos simples: o Grêmio quebra mais jogadas e varre mais bolas na área.

Isso casa com o tal “jogo reativo” que o Tricolor Gaúcho tanto explora - no entanto, o preço se paga com mais faltas e cartões, sendo 13,5 faltas por jogo, 2,6 amarelos e 5 vermelhos para o Grêmio, contra 12,6 faltas, 2,3 amarelos e 4 vermelhos do Bahia.
No micro do jogo, isso significa maior risco de bolas paradas contra e gestão emocional mais delicada para o visitante.
Outro detalhe com potencial de peso são os pênaltis concedidos. O Bahia cedeu três na competição, enquanto o Grêmio deu sete. A diferença é grande e conversa com o perfil de defesa mais exposta à pressão dentro da área.
No gol, as defesas por jogo também contam a história. São três para Ronaldo pelo Bahia e 3,3 para o Grêmio. Não é abismo, mas indica que Tiago Volpi é um pouco mais exigido, dado coerente com o volume de finalizações certas do Bahia e com o fato de o Grêmio aceitar perder território.

Ritmo de jogo
Há um bloco de números que, somados, ajudam a prever o ritmo. O Grêmio tem 18,1 laterais por jogo, contra 15,6 do Bahia. Mais laterais costumam ser sintoma de jogo disputado no corredor e bolas longas disputadas, que terminam espirrando para a linha - exatamente a cara do Grêmio quando não tem posse.
Em impedimentos, é tudo muito próximo, com um do Grêmio e 1,1 do Bahia, o que sugere tentativas equivalentes de ataques nas costas da última linha.
Nos tiros de meta, outra pista de territorialidade: o Grêmio cobra 8,9 por jogo, o Bahia 7,6. Quando um time cobra mais tiros de meta, em média está saindo de trás com maior frequência, o que reforça a ideia de que o visitante passará bons minutos defendendo baixo, recomeçando a partir da área.

Há ainda o dado de “desarmes por partida” com aproveitamento, indicador de volume e taxa de sucesso nos duelos. Nele, o Grêmio registra 55,1 ações com 52,5% de êxito, e o Bahia 51,1 com 50,1%.
A mensagem, então, é consistente: o Grêmio entra mais nos duelos e ganha uma fração maior deles. Isso pode travar a circulação do Bahia entre linhas, especialmente se o visitante conseguir orientar o Bahia para o lado e fechar a volta por dentro.
Disciplina e bola parada: onde o jogo pode virar
Com mais faltas (13,5 x 12,6), mais amarelos (2,6 x 2,3) e mais vermelhos (5 x 4), o Grêmio flerta com o limite disciplinar. Em um ambiente de alta pressão como a Fonte Nova, cada falta lateral é uma bola fria levantada para a área, e cada cartão precoce amarra a agressividade de um marcador.
Somando a isso os sete pênaltis concedidos pelo Grêmio (contra três do Bahia), aparece um risco estrutural para o visitante: se o Bahia acelerar o ritmo, vai empilhar bolas paradas perigosas.

Ao mesmo tempo, o Bahia precisa ficar atento ao próprio aproveitamento de chances. O Esquadrão cria mais (2,2 grandes chances x 2,0) e finaliza um pouco melhor (4,1 x 3,9), mas perde mais chances (1,5 x 1,2).
Em jogo de pouca margem, converter a primeira grande oportunidade pode mudar por completo o plano defensivo do Grêmio, obrigando o time a subir bloco, o que não é seu habitat natural.
Dá para o Bahia levar os três pontos?
Se as tendências se confirmarem, o Bahia deve ditar a cadência, acumulando posses longas e ataques posicionais, com alternância entre toque curto e inversões precisas para explorar o lado fraco.
Por outro lado, o Grêmio deve responder com compactação, encaixes agressivos e volume de desarmes e cortes, tentando transformar o jogo em série de duelos e transições diretas.
O detalhe crítico, no entanto mora em duas curvas. Em primeiro lugar, disciplina e área, nos dados de pênaltis, faltas, cartões e bolas paradas. Em segundo, o aproveitamento do Bahia, que chega mais mas não pode desperdiçar, já que o Grêmio chega menos, mas costuma ser ligeiramente mais limpo na chance clara.

Com a Fonte Nova lotada e o relógio da 29ª rodada correndo, a lógica dos números projeta um jogo em que o Bahia tem mais caminhos para vencer - posse qualificada, volume de criação, variação por bolas longas e menor índice de "desobediência".
Ao Grêmio, resta resistir, encurtar os espaços, vencer duelos e ser eficiente quando a brecha pintar. Em partidas assim, um detalhe de área (um pênalti, uma segunda bola após escanteio, um cruzamento invertido) costuma e deve valer os três pontos.
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