VENCENDO O PRECONCEITO!
Projetos sociais transformam a vida de jovens na comunidade da Polêmica
Esportes levam expectativa para atletas de Brotas, em Salvador
A realidade na periferia de Salvador não é nada fácil. É preciso "derrotar um leão por dia" e driblar o preconceito. No entanto, apesar da marginalização, é possível encontrar grandes e lindas histórias, como é o caso de Jessica Dias, de 17 anos, e Samuel Cardoso, de 18, que disputam a 18ª edição da Gymnasiade, no Bahrein.
A competição, vista como as Olimpíadas dos desportos estudantis, é uma porta de entrada para o esporte profissional. A realidade foi assim para a maior atleta olímpica da história do Brasil, Rebeca Andrade, que disputou o torneio em 2013 e saiu com três medalhas no peito.
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Neste ano, a Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE) convocou uma delegação de 240 atletas-estudantes, entre eles, Jéssica e Samuel, do boxe, que 'nasceram' para o esporte na comunidade da Polêmica, em Brotas, por meio do projeto Academia Fênix, do professor Jailton Santos de Jesus, de 59 anos.
Eu coloquei Fênix porque significa 'renascer das cinzas', que é o que eu faço. Eu busco mostrar para os jovens que existe outro mundo lá fora, que a realidade pode ser boa
Ao todo, o projeto ajuda a comunidade há 11 anos, com mais de 250 alunos no período. Para o professor, o boxe é um esporte inclusivo, que atende a todas as idades. "Começou a andar, participa do boxe", como disse ao Portal A TARDE. Jailton, que é apaixonado pelo esporte desde os 15 anos, fundou a iniciativa e se divide entre vários setores para poder ajudar a comunidade.
"Como o boxe mudou a minha vida, eu me senti na obrigação de ajudar e mudar a vida de outros jovens, fazendo o mesmo trabalho que fizeram comigo. Então, eu faço esse trabalho na comunidade, onde eu vou tentando melhorar a situação da comunidade. Hoje temos dois representantes no Gymnasiade, Jessica, atual vice-campeã da competição nos 57kg, e Samuel, campeão brasileiro nos 80kg", contou o professor.
Mesmo diante da bela iniciativa, a Academia Fênix sobrevive com pouco, recebendo ajuda da comunidade e bancando-se através de rifas. Jailton destacou as dificuldades, que torna o processo cansativo.
"A gente vive de doações, fazendo rifa quando precisamos viajar para lutar, bingo e tudo isso. A gente corre atrás de ajuda para conseguir manter os custos, comprar equipamento, luvas, uniforme (...)Estamos buscando ajuda. Os materiais, as luvas, estão velhas, até porque sou eu sozinho. Mas estamos na busca, recebendo o 'não' de um, o 'sim' de outro e seguindo a vida", revelou Jailton.
Falcão dos cidadãos
Apesar dos problemas na região, os projetos sociais sobrevivem. Assim também é o caso de Jerônimo Antunes, professor de futebol e pedagogia, que comanda o 'Falcão dos Cidadãos', projeto que existe há cerca de 10 anos.
Hoje em dia, a iniciativa abraça aproximadamente 90 atletas, com objetivo de socializar e formar jovens para o futuro, afastando-os do mundo do crime.
"Buscamos tirar eles de um mundo ruim. Vivemos em uma comunidade que o tráfico impera, mas mostramos para eles um bom caminho através do futebol. Hoje temos três categorias, sub-9, sub-10 e sub-15", explicou o professor ao Portal A TARDE.
Jerônimo ressaltou a importância do projeto, destacando que, acima de tudo, os jovens que são marginalizados, entendem, por meio do esporte, que podem andar de cabeça erguida.
"A importância é mostrar às crianças e adolescentes da comunidade que existe outro mundo, que é o esporte, as pessoas que disputam campeonatos. Então, nossa missão é mostrar para eles que podemos caminhar em outros lugares de cabeça erguida e mostrar à sociedade que somos cidadãos, que somos pessoas pertencentes à cidade", destacou o professor.
A gente já mudou muita gente. Conseguimos tirar algumas crianças e adolescentes do mundo ruim, errado
Apesar de viver uma realidade positiva atualmente, Jerônimo precisou enfrentar diversas dificuldades ao longo do caminho, inclusive perdendo alunos para o tráfico.
"Eu perdi, de dez anos para cá, oito ou nove alunos para o tráfico, e infelizmente enterrei esses oito, nove. Hoje a política mudou, eu tenho um respeito enorme das pessoas que estão envolvidas. A gente tem hoje uma porta aberta na comunidade. As pessoas chegam e são bem-vindas", garantiu o professor.
Os casos de Jailton e Jerônimo são exemplos de compromisso social, abraçando a comunidade e garantindo um futuro melhor para crianças e adolescentes. Projetos como esses abrem espaço para uma vida mais digna, longe do preconceito e da marginalização, formando jovens responsáveis e com possibilidade de um futuro promissor, dentro ou fora do esporte.
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