CONSOLIDAÇÃO
Rogério Ceni completa dois anos no Bahia com superações e longevidade
Treinador supera crises e lidera o Tricolor rumo à conquistas históricas

Por Lucas Vilas Boas e Téo Mazzoni

O técnico Rogério Ceni completou dois anos à frente do Esporte Clube Bahia nesta terça-feira, 9. Durante os 730 dias no comando do Esquadrão, o treinador passou por altos e baixos, chegando ao clube em um momento conturbado em 2023, mas superando as adversidades, começou a colher frutos na reta final de 2024 e, em 2025, alcançou os tão sonhados títulos com a camisa azul, vermelha e branca.
Dono do segundo trabalho mais longevo entre todos os técnicos da Série A do Campeonato Brasileiro — atrás apenas de Abel Ferreira, do Palmeiras —, Ceni é o treinador com mais tempo no clube no século XXI e o segundo com mais jogos pelo Bahia no Brasileirão, ficando atrás apenas do “Mestre” Evaristo de Macedo. Ao todo, acumula 140 partidas, com 75 triunfos, 28 empates e 37 derrotas, alcançando um aproveitamento de aproximadamente 60,24% à frente do Tricolor.
O Evaristo é uma figura especial, não só como treinador, mas como personagem. Tem um vínculo especial com o Bahia, espero que seja para sempre o maior treinador da história do Bahia.
Mesmo já tendo obtido retorno esportivo — foi o responsável por levar o Bahia de volta à Libertadores após 35 anos e por comandar a equipe na melhor campanha da história do clube no Brasileirão por pontos corridos —, o treinador ainda era cobrado, antes do início da temporada, pela ausência de títulos. Essa pressão, no entanto, ficou para trás em 2025, quando Ceni acrescentou dois troféus à galeria do Esquadrão: o 51º Campeonato Baiano e o inédito pentacampeonato da Copa do Nordeste.
"Finais são muito especiais, independente da circunstância ou competição. É muito raro chegar em finais, então vencer fica para a história do clube. É um ano especial, com título Baiano e Copa do Nordeste, que não acontecia desde 2001. Terça-feira completo dois anos aqui, fico contente", disse Ceni no último sábado, 6.
Agora, além das conquistas e marcas expressivas, Rogério Ceni busca mais um feito histórico no comando do Bahia: a classificação para a semifinal da Copa do Brasil. Nesta quarta-feira, 10, o time tricolor enfrenta o Fluminense no duelo decisivo das quartas de final, e a vaga entre os quatro melhores do torneio pode coroar o treinador apenas um dia após ele completar dois anos à frente do clube.
O maior sonho do comandante no clube, inclusive, pode ser alimentado após uma possível classificação às semifinais: ganhar um título nacional. A Copa do Brasil é, fatalmente, o caminho mais curto em direção à mais um troféu nesta temporada.
"Meu maior sonho com o Bahia é ganhar um título nacional. A volta do Bahia ao cenário nacional já se coloca lá. [...] Nos próximos anos de projeto, a chance aumenta cada vez mais. Vamos sempre tentar chegar no ponto mais alto, que seria um título nacional", destacou o treinador.

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Sobrevivência
Quando contratou Ceni, o Bahia buscava salvar uma temporada que já parecia perdida em meio à briga contra o rebaixamento e a recente saída do português Renato Paiva. A goleada por 4 a 2 sobre o Coritiba logo na estreia, contudo, foi um alerta do que estava por vir e o Tricolor 'cansou' de protagonizar jogos eletrizantes até o final daquela edição, mas foi somente na última rodada que a equipe assegurou a permanência na Série A.
O 6 a 4 diante do Goiás e o 5 a 1 sobre o Corinthians serviram como uma 'luva' na indispensável reação do time baiano, que precisava de confiança para seguir sonhando com a vaga na elite do futebol brasileiro. Os primeiros quatro meses do comandante no Tricolor, enfim, podem ser resumidos por altos e baixos, e o Bahia conseguiu achar fôlego para protagonizar uma atuação histórica após péssimos resultados que indicavam o fundo do poço.
"Acabou ficando tudo para um dia que, creio, 70%, 80%, 90% das pessoas não acreditavam que era possível. Eu achei que seria difícil mesmo. Eu estava bem cabisbaixo, até os atletas comentaram comigo no CT. Também sou ser humano. É natural após uma derrota", destacou Rogério após a goleada por 4 a 1 sobre o Atlético-MG, na última rodada do Brasileirão.
A montanha-russa de 2024
A permanência de Rogério Ceni para a temporada seguinte foi tratada como unanimidade, especialmente após as contratações de peso que fortaleceram o meio-campo com Caio Alexandre, Everton Ribeiro e Jean Lucas, transformando o setor no coração da equipe. A empolgação da torcida, porém, sofreu um duro golpe com a perda do Campeonato Baiano para o Vitória, elevando a pressão no Brasileirão. Apesar disso, o time embalou uma invencibilidade de 11 jogos e figurou entre os primeiros colocados, mesmo sendo eliminado pelo CRB na Copa do Nordeste.
Com o avanço da temporada, a equipe começou a dar sinais de desgaste e caiu de rendimento de forma histórica no segundo turno. As críticas se voltaram contra Ceni, acusado de insistir em um time pouco flexível, e os protestos por sua saída aumentaram bruscamente. O treinador passou a ser responsabilizado diretamente pela queda de desempenho.
A confiança do Grupo City garantiu sua permanência, e Ceni tentou reverter o cenário abrindo mão do esquema com o quarteto de meias. Ainda assim, a má fase persistiu, marcada por um jejum de sete jogos sem triunfos. A histórica vaga na Libertadores, que parecia encaminhada, chegou a ficar em risco, mas foi confirmada nas rodadas finais, coroando mais uma temporada de altos e baixos sob o comando do treinador.
Redenção!?
A terceira temporada do treinador no Bahia começou com reforços que prometiam encorpar o elenco que caiu tanto de produção, em virtude da falta de reservas de nível para titularidade. A segunda chance de reescrever o que deu errado no ano anterior surgiu logo no Campeonato Baiano, quando o Tricolor bateu o Vitória e conquistou — com jogadores contratados sendo protagonistas — o primeiro título sob o comando de Ceni.
O 51º título estadual deu a confiança que o time precisava para seguir no embalo de uma temporada marcada pela participação na Copa Libertadores após 35 anos. A equipe até começou bem e chegou a ser líder do seu grupo, mas uma reviravolta marcou a reta final da disputa, e o Esquadrão de Aço acabou em terceiro lugar — posição que ainda garantiu classificação para a Copa Sul-Americana, competição também marcada por frustrações tricolores.
Após a queda nas competições continentais, Rogério Ceni finalmente alcançou o que pode ser chamado de estabilidade. Com a Série A do Campeonato Brasileiro sendo a principal prioridade, a equipe teve apenas uma derrota nos últimos 12 jogos desde que encerrou o ciclo internacional de 2025.
A única derrota no retrospecto foi destacada por ele mesmo como a mais difícil da sua carreira: o 5 a 1 para o Mirassol. Apesar da humilhação e do resultado que poderia acarretar em uma crise, o clube viu nas finais da Copa do Nordeste uma oportunidade de dar a volta por cima e, diante de um adversário técnicamente inferior, transformou o clima da temporada.
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