RESISTÊNCIA
Seminário em Salvador apoia luta contra racismo e homofobia no futebol
Justiça, entidades esportivas e ex-atletas se uniram em Salvador para debater a inclusão no futebol
Por Marina Branco

"Ao mesmo tempo em que a sociedade tem que punir severamente, ela tem que educar severamente". A frase do Pró-Reitor da PUC e Coordenador do Núcleo de Direito Desportivo da universidade, Paulo Sérgio Feuz, resume o grande objetivo do seminário "Racismo no Futebol - Combate à Discriminação nos Estádios".
O evento, realizando nesta sexta-feira, 22, no Tribunal de Justiça da Bahia, reuniu representantes do Judiciário, entidades esportivas, ex-jogadores, árbitros, grupos de combate à discriminação e sociedade civil em uma discussão sobre racismo, homofobia e outras formas de violência no ambiente esportivo. Unindo falas contra todo e qualquer tipo de preconceito, o evento buscou transcender os limites de ideais conservadores no futebol, abrindo espaço para diferentes debates.
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A ideia que guiou o evento é justamente a expressada em outra fala do professor: "o futebol é uma plataforma de marketing pro mundo, e nós precisamos usar essa plataforma pra divulgar uma nova forma de letramento". Em quatro mesas de debate ao longo de todo o dia, diferentes vozes discutiram a presença da diversidade dentro e fora das quatro linhas.

“O Poder Judiciário baiano, ciente da sua responsabilidade constitucional e social, abre suas portas para esse seminário. Não apenas como anfitrião, mas como participante ativo de um processo que deve envolver toda a sociedade. Nossa atuação não se limita à punição dos casos que chegam aos tribunais, mas se estende à construção de uma cultura de respeito, igualdade e dignidade”, afirmou a desembargadora Cynthia Maria Pina Resende, presidente do Tribunal.
Como curar o racismo no esporte
É justamente no tribunal onde são julgados casos de racismo em campo, bem como outros tipos de discriminação, todos abordados pelas mesas. "No primeiro semestre, decidimos que haveria um evento aqui em Salvador, cidade de maioria negra, para abordar diversos temas. Incluímos a questão da homofobia, considerando que o STF equiparou homofobia ao crime de racismo. O propósito é apresentar novas soluções”, explicou o Desembargador Lidivaldo Reaiche.
Essas soluções, cada vez mais, existem e são aplicadas. Hoje, o regulamento geral das competições garante que clubes percam pontos em casos de racismo, após o julgamento do caso em que um jogador do Brusque foi atacado por um conselheiro do clube por seu cabelo. Na época, o clube perdeu o direito ao mando de campo. Hoje, seriam pontos.
O mesmo acontece em organizações como a CONMEBOL, com treinamentos de letramento racial para seus funcionários e planos para registrar quantos funcionários negros e indígenas trabalham no órgão, visando o aumento. No entanto, muito ainda precisa ser feito para que haja real igualdade no esporte.
É como explicou Ricardo Lima, presidente da Federação Bahiana de Futebol. Para ele, o grande foco do evento é "somar forças" frente a qualquer tipo de preconceito no futebol. “Nós temos que estar imbuídos para mudar esse panorama. Existem estatísticas em que mulheres são agredidas após jogos de futebol. O número de casos de racismo muitas vezes tem crescido. Precisamos somar forças com entidades e órgãos de segurança para termos um futebol melhor e mais igual”, afirmou.
Caminhos a percorrer
Prova disso é a punição regulamentada no futebol - em caso de atraso para o jogo, são pagos 100 mil dólares. Em usos de sinalizadores, 75 mil dólares. No racismo, apenas 50 mil dólares. Ainda que haja evolução, muito do caminho ainda fica por ser percorrido, na busca por uma presença mais ativa de pessoas negras em campo e fora dele, dentro do futebol.
"Antes, os negros não podiam jogar futebol. Hoje, negros só podem jogar futebol. Não são dirigentes, empresários, não decidem as regras. Eles só podem jogar. Para mudar essa realidade, precisamos ter pessoas negras em lugares de poder, pelo letramento racial e pela capacitação", comentou o conselheiro Pablo Coutinho Barreto.

A meta, então, é buscar a transformação dessa realidade. É correr em busca de uma diminuição nas ocorrências de racismo, homofobia e machismo dentro e fora dos campos, buscando o real significado da união e diversidade esportiva.
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