CENTENÁRIO MARIA DE SÃO PEDRO
Cem anos de sabor e resistência: restaurante baiano resiste ao tempo
Restaurante Maria de São Pedro é símbolo de luta e resistência

Por Andrêzza Moura

Mais que um restaurante, o Maria de São Pedro é um verdadeiro símbolo de resistência, memória e identidade. Fundado por Dona Maria de São Pedro - uma mulher negra, sem educação formal, mas detentora de uma sabedoria ancestral e um talento culinário singular -, o estabelecimento celebra 100 anos de história. Para marcar essa data especial, um encontro nessa quinta-feira, 2, reunirá diversas personalidades da Bahia, no Mercado Modelo, no bairro do Comércio, em Salvador.
A trajetória do restaurante teve início em 1925, quando Dona Maria vendia comida nas ruas do Comércio e abriu seu primeiro ponto em frente à Companhia das Docas do Estado da Bahia (CODEBA), onde hoje funciona o Hospital Naval. Em 1942, transferiu o negócio para a parte baixa da Ladeira da Água Brusca, próxima ao atual Mercado do Peixe. Já em 1949, estabeleceu-se nas imediações do Elevador Lacerda, consolidando o local como ponto de encontro para quem busca o sabor autêntico da culinária baiana.

Desde então, o Restaurante Maria de São Pedro atravessou décadas de desafios econômicos e sobreviveu a dois incêndios. Hoje, o restaurante gera cerca de 30 empregos diretos, além de diversos indiretos, e segue sendo conduzido com afeto e competência pelas netas da fundadora, preservando o legado da avó.
Ao longo do tempo, o restaurante se tornou também um polo cultural e político. Entre seus frequentadores ilustres, estiveram Pablo Neruda, Jorge Amado, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Vinícius de Moraes, Caribé, Pierre Verger, Chico Buarque, Camafeu de Oxóssi e Martinho da Vila. Foi Dona Maria quem preparou o banquete oficial dos 400 anos da cidade de São Paulo, além de servir na posse de Getúlio Vargas e do então governador da Bahia, Antônio Balbino.
Com um dos CNPJs mais antigos do Brasil, o restaurante permanece como um reduto da culinária baiana tradicional, um feito iniciado por uma mulher que cozinhava não por vaidade, mas por vocação, numa época em que cozinhar era ofício invisível, longe dos holofotes, das câmeras e dos aplausos.

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Como resume o sociólogo Ailton Ferreira. “Respirou junto com a democracia e imprimiu a sua marca do mais puro dendê no novo mundo das mudanças midiáticas e das tecnologias. Preparou-se para os novos desafios da modernidade e do aprendizado das leituras das diversidades, juntando o tempero na panela de barro, mas conectado com as plataformas digitais”.

Debruçado para a Baía de Todos os Santos, o Restaurante Maria de São Pedro já não espera os saveiros do Recôncavo, mas continua a acolher todos os que buscam se alimentar dessa teia de afeto, memória e sabor, um verdadeiro patrimônio da Bahia, construído muito antes de os “chefs” europeus aparecerem na televisão.
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