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AUDIOVISUAL

Cineasta baiana dirige cinebiografia de Angela Ro Ro

Cinebiografia dirigida por Liliane Mutti revela a vida intensa e irreverente da cantora

Gilson Jorge

Por Gilson Jorge

21/09/2025 - 9:23 h
Cantora Angela Ro Ro
Cantora Angela Ro Ro -

Em 1970, uma carioca linda, sorridente e de voz rouca, com 20 anos de idade, veio passar férias em Salvador, terra de origem da família de seu pai. Em uma ida ao Porto da Barra, a jovem Angela conheceu Glauber Rocha, dez anos mais velho e já famoso pelos seus filmes Barravento, Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol. Começava ali uma relação que incluiria tentativas de conquista por parte do cineasta, mas também uma amizade que marcaria a trajetória daquela cantora principiante.

Glauber apresentaria a amiga a Caetano Veloso e a Gilberto Gil, que a hospedou em Londres, durante o exílio dos cantores baianos. Na Inglaterra, a jovem e talentosa cantora de blues se apresentou em pubs e participou do lendário álbum Transa, de Caetano, tocando gaita e fazendo vocais na faixa Nostalgia. Cinco décadas depois, em 2023, com longos cabelos brancos, Angela caminha lentamente para o palco do Arena Jockey, no Rio de Janeiro, onde Caetano a aguarda para repetir a performance londrina.

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A artista visceral e sensível está emocionada com a homenagem do amigo baiano e também com o carinho da plateia. Caetano e Angela dão um selinho e também cantam juntos Escândalo, canção composta para ela pelo amigo baiano em 1981, quando a sua separação de Zizi Possi ganhou as páginas de jornal, por uma suposta agressão de Angela e causou o seu cancelamento, quando ainda nem se usava esse termo.

Essa participação da musa da fossa no show de Caetano é uma das cenas que foram filmadas para Angela Ro Ro, uma cinebiografia escandalosa, que vai estrear no próximo ano no Curta!, e é o quarto trabalho da cineasta baiana Liliane Mutti, que conduz paralelamente um filme sobre a cantora Alaíde Costa.

A história de Angela, morta no último dia 8 de setembro, começou a ser registrada pela cineasta há quatro anos, quando as duas passaram a interagir pelo Instagram. A cantora administrava pessoalmente sua conta e costumava trocar ideias com os seguidores, a quem, eventualmente, recorria publicamente com pedidos de ajuda financeira, principalmente durante a pandemia.

Fã de Angela desde os tempos em que estudava jornalismo na Ufba, Liliane manteve as conversas no plano da admiração. Mas surgiu a conversa sobre uma relação profissional entre as duas. "Ela tinha gostado do meu documentário Miúcha, a voz da bossa nova, e demonstrou interesse em um filme sobre sua vida", conta Liliane, que codirigiu o documentário sobre Miúcha com Daniel Zavros.

A partir do acordo entre as duas, as conversas passaram a ser gravadas. E alguns diálogos são utilizados no filme, narrando a história com imagens de arquivo, ou intercalando cenas gravadas por Liliane com trechos de entrevistas históricas, como a que Angela se irrita com a jornalista Cidinha Campos ao ser questionada sobre sua suposta agressividade e abandona o estúdio.

A cantora teve uma vida intensa, sob a ditadura militar no Brasil. Assumiu-se lésbica quando uma mulher bonita e de classe média parecia obrigada a ter um homem ao seu lado. Compôs algumas das músicas mais dilacerantes que embalaram a vida noturna nas cidades brasileiras. E em um momento de descontração na praia, levou um golpe no rosto com um bastão, desferidos por um policial, que prejudicou a visão no seu olho direito. Mas nunca abriu mão de usar a sua voz para protestar e debochar do conservadorismo.

Os áudios com Angela ajudam a mostrar um pouco da personalidade da cantora, que em um momento liga, satisfeita, para a cineasta, contando que encontrou um trecho de um documentário sobre o festival Som, Sol e Surf. O evento, no espírito de Woodstock, organizado em Saquarema por Nelson Motta, teve entre as atrações a própria cantora, três anos de se tornar uma artista profissional. Entre os nomes já consagrados do evento, Rita Lee e Raul Seixas.

No filme, a cantora se diverte ao se referir à sua performance, com um copo de bebida na mão, no momento em que era chamada de Janis Joplin carioca. Em outro momento do filme, a cantora retorna uma ligação da cineasta, após algumas tentativas, e pede que ela tenha paciência baiana porque ela não queria falar com ninguém.

A sincericida confessa Angela Ro Ro se refere muito a Glauber no filme. Primeiro como um cara que, nas suas palavras, "queria muito comê-la". Narra inclusive a cena em que ela subiu em uma mangueira em Itaparica para escapar das investidas do baiano.

Mas as tentativas do cineasta não abalaram a amizade. Angela admirava a eloquência de Glauber e, no filme, evoca a presença do amigo ao saudar a sua incursão ao cinema pelas mãos de outra cineasta baiana. "Eu sou a mascote do Cinema Novo", brinca a diva dos amores bem ou malsucedidos, em um longo vestido vermelho, antes de dedilhar um piano colocado sobre as areias da praia de Botafogo.

Cantora Angela Ro Ro na praia de Botafogo
Cantora Angela Ro Ro na praia de Botafogo | Foto: Liliane Mutti| Divulgação |18/02/25

O instrumento, que pertenceu a João Donato, foi emprestado pela família do músico a pedido de Liliane, para quem era fundamental inserir a paisagem do Rio no filme. "A cidade é coprotagonista da história", declara a cineasta.

Durante o processo de realização do filme de Angela, Liliane conheceu outra grande fã da cantora, que desde o ano passado integra a equipe de produção da cinebiografia, a analista de comércio exterior Ana Grant. Criadora da página Acervo Ro Ro, online desde 2023, Ana costumava marcar a página da cantora em suas publicações. "Ela passou a seguir minha página e a gente trocava mensagens, mas nada muito profundo", conta Ana.

Em janeiro de 2024, Ro Ro foi fazer dois shows em São Paulo e a moça procurou a produtora da artista, contou da existência da página e ouviu a promessa de que seria apresentada à cantora antes do show do dia seguinte. A segunda apresentação acabou sendo cancelada, mas no mês seguinte o show aconteceu e cantora e fã se conheceram no camarim. "Eu tremi que nem vara verde, estava muito emocionada", conta a analista de comércio exterior.

Durante a conversa, minutos antes do show, a cantora assinou uma autorização para que Ana pesquisasse material sobre si no acervo da TV Cultura. "Angela não tinha registros sobre sua carreira. Não era como outros artistas que têm tudo documentado. Ela não tinha quase nada. Um arquivo dela em vídeo que mostrei, ela reviu depois de 40 anos", pontua a fã.

Ana Grant, criadora do Acervo Ro Ro
Ana Grant, criadora do Acervo Ro Ro | Foto: Divulgação

Por meio da produção de Angela, a paulista se aproximou também de Liliane, que buscava ajuda para a pesquisa sobre a vida da cantora. Formada em arquivologia, Ana foi contratada pela produção do filme para encontrar material sobre a carreira de Angela. Uma descoberta foi uma entrevista que a cantora concedeu a uma emissora de TV em 1980, para divulgar o início de uma turnê.

Casada há nove anos com a professora Samira Fernandes, Ana descobriu a música de Angela Ro Ro aos 13 anos de idade, depois de ouvir uma fala homofóbica de uma amiga que tentava demovê-la da sua homossexualidade e usou detalhes da relação entre Ro Ro e a Zizi Possi como argumento. Ana foi pesquisar as cantoras, encantou-se com a canção Compasso, e nunca mais parou de ouvir Angela. "O tiro saiu pela culatra", brinca a analista.

  • Ana Grant, criadora do Acervo Ro Ro
    Ana Grant, criadora do Acervo Ro Ro |
  • Cantora Angela Ro Ro na praia de Botafogo
    Cantora Angela Ro Ro na praia de Botafogo |
  • Cantora Angela Ro Ro
    Cantora Angela Ro Ro |

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