CINEMA
Cineclubes em Salvador: saiba onde assistir e debater filmes de graça
Espaços de exibição de filmes ganham força na cidade, promovendo debates sobre diversidade, arte e questões sociais

Por Duda Araújo*

Para alguns, com a chegada das plataformas digitais, o ato de ver um filme no cinema foi se perdendo na comodidade de assistir em um streaming. Mas há quem valorize ir a uma sala de cinema com boas companhias e debater sobre a obra. O cinema é um espaço que possibilita comunhão e troca de ideias, e foi com esse norte que surgiu o cineclubismo.
Originados na França da década de 20, os cineclubes serviam como espaços para os apreciadores que queriam assistir filmes em lugares tranquilos e conversar após as exibições.
No Brasil, o primeiro cineclube surgiu em 1928, se popularizando tanto entre os cinéfilos que em 1962 surgiu o Conselho Nacional de Cineclubes (CNC). Hoje, existem mais de 300 cineclubes registrados pelo CNC, sendo cerca de 40 na Bahia.
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O cenário do cineclubismo em Salvador é crescente, e tem se fortalecido cada vez mais com uma ampla gama de temáticas que abraçam públicos diversos. As narrativas audiovisuais trazem luz para assuntos importantes e fazem o público refletir.
Para George Lima, Jacy e Tarcísio Andrade, organizadores do Cineclube da Morte, o cinema foi um ponto de partida para levantar o debate sobre a finitude da vida.
“Todo mundo vai morrer, ninguém quer furar fila. Mas ninguém quer conversar sobre isso. A finitude perpassa todos os momentos da nossa vida, que é transformação, movimento, impermanência. A ideia é que no espaço do cineclube a gente traga filmes que abordam essas nuances, para que a gente veja isso na tela e consiga conversar a respeito”, reflete Jacy Andrade.
O Cineclube da Morte começou, originalmente, em São Paulo, e foram os criadores Ana Cláudia Arantes e Tom Almeida que deram a ideia de fazer um clube em Salvador, em 2018. O trio que organiza os encontros, que ocorrem na Sala Walter da Silveira (Biblioteca Pública dos Barris), revela que já receberam relatos sobre como as sessões foram importantes para quem lida com a perda e o luto.

Além dos sentimentos sobre a morte, para os médicos Jacy e Tarcísio o espaço do clube é também um lugar de reflexão para os profissionais da saúde perceberem a perspectiva de seus pares sobre a questão.
Violeta
Também com um olhar cuidadoso, Bruna Castro e Diana Reis decidiram criar o Cineclube Violeta, um clube itinerante com foco em produções relacionadas à mulheres, especialmente lésbicas, bissexuais e transgêneros (LBT).
Ainda quando cursavam BI em Artes na Ufba, as criadoras do cineclube estudavam sobre audiovisual e atentavam para a ausência de espaços para a exibição de produções LBTs.

Junto com Naira Soares e Naiade Bianchi, curadoras do clube, em 2024 elas deram início ao projeto, com apoio da Lei Paulo Gustavo. Além do recorte LBT, elas buscam também dar destaque para produções locais e pouco conhecidas nos circuitos de festivais e cinemas. Para elas, os cineclubes são essenciais para dar visibilidade a essas obras.
“Os cineclubes têm ganhado força por serem ações locais, que se comunicam com as comunidades e permitem essa troca de temas e produções específicas que precisam de espaço, e também por serem lugares para pessoas que não fazem cinema mas apreciam e querem estar nesses momentos não só pelo entretenimento, mas também pelas discussões das temáticas apresentadas”, diz Diana.
No último dia 29 de agosto, data em que é celebrada a visibilidade lésbica no Brasil, foi realizada uma sessão especial com curtas baianos produzidos por mulheres que vivem essa experiência. O momento, que aconteceu no Cine Glauber Rocha, faz parte do segundo ciclo de exibições do cineclube, incentivado pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).
Para o público, o Violeta tem sido um espaço de grande importância para a comunidade de Salvador. “A gente tem percebido com os debates nos finais das sessões que as pessoas têm se sentido cada vez mais à vontade para falar também. No início, existia uma certa timidez, mas ao longo do tempo as sessões foram ficando mais calorosas e é muito legal perceber que não estamos ali só para assistir, mas também para interagir e se reconhecer”, completa Bruna.
Letras
Já o Cineclube da Academia de Letras da Bahia surgiu com uma proposta no mesmo viés de valorizar a produção local, mas não apenas do audiovisual, dos acadêmicos também.
Idealizado pelos escritores Carlos Ribeiro e Décio Torres, da ALB, produzido em conjunto com Nilma Gonçalves, Ricardo Soares e Eliane Gomes, o cineclube está em atividade desde março de 2025, atualmente no Goethe-Institut, localizado no Corredor da Vitória

A primeira exibição foi Lamarca, dirigido por Sérgio Rezende. A obra é uma adaptação do livro Lamarca, o capitão da guerrilha, escrito por Oldack Miranda e Emiliano José, membro da Academia e que esteve presente na sessão para debate com o público após a exibição, junto com Carlos Sarno, jornalista e poeta que vivenciou o período retratado na obra.
As sessões são gratuitas e abertas ao público, e os debates são sempre mediados por algum membro da academia. O propósito dos organizadores é trazer luz a temáticas das mais diversas áreas de conhecimento.
“É uma diversidade de perspectivas. A nossa ideia, sendo uma iniciativa da Academia de Letras, é que tenha uma função cultural, educativa, histórica e compreender essas questões que nos cercam”, diz Carlos Ribeiro.
Os filmes exibidos geralmente retratam personalidades e eventos históricos importantes na história da nação e as discussões após as sessões perpassam por pontes entre o passado e o presente.
“Por um acaso fortuito, os filmes que levamos se relacionam muito com os eventos que temos presenciado recentemente. São debates direcionados pelo próprio filme, e o que vemos é uma participação muito ativa do público. Há muitas pessoas interessadas em verem o filme e exporem suas ideias. Tem sido um diálogo muito profícuo entre estabelecer relações entre o tema dos filmes e as opiniões da plateia”, conclui Décio.
Para quem busca uma experiência cinematográfica ainda mais imersiva, o cineclubismo é uma ótima alternativa. Uma maneira de compreender a sétima arte por mais de uma perspectiva, construir novos horizontes, até mesmo vínculos, por meio da troca de experiências e visões distintas compartilhadas nos momentos de conversas e discussões.
*Com supervisão do editor Marcos Dias
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