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EM SALVADOR

É teatro — mas você não vê o ator: conheça o teatro de sombras

Espetáculo de Salvador transforma luz e sombra em poesia viva

Pedro Hijo

Por Pedro Hijo

09/11/2025 - 7:01 h
Não é animação nem projeção: é teatro como você nunca viu antes
Não é animação nem projeção: é teatro como você nunca viu antes -

Assim que a argentina Olga Gómez leu o poema dramático Rainha Vashti, da escritora e poeta baiana Myriam Fraga (1937-2016), o desejo de adaptar a obra para os palcos se impôs como uma espécie de chamado artístico. "É a transformação de uma escrita tão densa, simbólica e delicada em encenação visual", diz a diretora do espetáculo que estreia na próxima quinta-feira, 13, no Museu de Arte Moderna, em Salvador.

Rainha Vashti mantém viva a arte milenar do teatro de sombras, linguagem que o grupo A Roda, conduzido por Olga, domina há 28 anos. É ela quem dirige, adapta e cria as figuras de sombra da montagem.

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O poema de Myriam Fraga narra a saga de Vashti, esposa do rei persa Assuero. Bela e soberana, ela desobedece a uma ordem do marido e é banida do império. O texto fala do silenciamento da voz feminina como metáfora da fragilidade do poder.

A diretora se aproximou de Myriam Fraga não apenas como leitora, mas como artista visual. Antes de virar espetáculo, Rainha Vashti foi um livro publicado há dez anos com ilustrações de Olga. “A partir dali nasceu uma promessa: de que um dia faríamos a história no palco", diz a artista. "É uma narrativa que fala do poder dos homens sobre as mulheres, de como o silêncio é imposto e de como ele se quebra”.

Voz

O teatro de sombras, explica Olga, é uma arte de recursos limitados e infinitas possibilidades. Segundo a diretora, o formato se baseia em três elementos fundamentais: o foco luminoso, o anteparo e o corpo opaco que projeta a sombra. "A sombra é um elemento incompleto e cada espectador a preenche com seus próprios conteúdos”, afirma.

Essa incompletude é o que dá vida às imagens. “A sombra provoca sensação, emoção pura”, conta a diretora. Para a atriz Rita Assemany, intérprete das vozes do espetáculo, o encantamento começou antes mesmo do palco. “Tudo foi um acaso ou coisa do destino”, conta.

Elas se encontraram em uma exposição de Olga no Museu de Arte da Bahia, quando a diretora lhe entregou o livro e disse que, se ela gostasse, poderiam fazer juntas. "Passei semanas com aquela obra na cabeça", conta a atriz que, ao concluir a leitura, procurou Olga e perguntou se fariam o espetáculo.

Rita, que tem mais de quatro décadas de carreira, mergulhou em Rainha Vashti como quem está diante de uma descoberta. "Eu me senti muito instigada a me experimentar sem corpo no palco”, explica. “Tomei um susto quando percebi que daria voz a todo o poema, coisa pouca, cerca de dez personagens”, brinca.

Para ela, o universo feminino é um território ao qual está acostumada. “Rainha Vashti é uma personagem muito bonita, uma escolha sofisticada de Myriam para falar de algo cruel e infame que ainda nos rodeia”, pontua. "É um jeito absolutamente novo de atuar”. A peça também conta com os atores animadores Diego Neres, Hannah Pfeifer, Arthur Lustosa e Paulo Borges.

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Imagem ilustrativa da imagem É teatro — mas você não vê o ator: conheça o teatro de sombras
| Foto: Rafael Martins | Divulgação

Som

A trilha sonora, criada por Uibitu Smetak em parceria com Amanda Smetak, dá à encenação uma dimensão etérea e oriental. “O primeiro passo foi pesquisar sons que dialogassem com o texto e com o universo da Pérsia, onde a narrativa se passa”, explica Uibitu.

A dualidade entre força e fragilidade da obra se traduz também nos sons. “A feminilidade está nas flautas e nas melodias sinuosas; a resistência aparece nos efeitos e no violino, em passagens mais veementes”, conta o músico.

A relação entre som e imagem é antiga na trajetória de Uibitu com o grupo. Ele trabalha com A Roda desde 1999 e entende que, no teatro de sombras, a música deve ser “um reflexo da dramaturgia, não a protagonista”. “É uma construção sonora limpa, sem exageros, proporcional às sombras", diz o músico, que acrescenta que a música deve vestir a cena tenuemente.

Para ele, compor a trilha do espetáculo foi uma grande honra. Ele descreve o processo como “pôr música sob música”, já que considera o poema e a voz de quem o declama os verdadeiros solistas. “A trilha apenas os veste, de forma leve e discreta, como se fosse um manto sonoro”, resume.

Pesquisa

Para Olga, no processo criativo do espetáculo, tudo pareceu convergir para um mesmo gesto: o de fazer ver o invisível. A diretora recorda o tempo de pesquisa: foram dez anos antes do primeiro trabalho com sombras.

O resultado é um espetáculo em que a forma estética e a mensagem se entrelaçam, diz Olga. "As sombras se tornam metáforas da voz silenciada, mas também da potência de resistir", conta. “Vashti é banida porque outras mulheres ouviram e começaram a pensar igual", reflete. "É o medo que se espalha e o medo que se perde”.

O texto de Myriam Fraga, escrito há quase uma década, soa atual e urgente para Olga. “Myriam fala da Bahia, não da Pérsia”, diz a diretora. “Ela fala das nossas rainhas silenciadas, das mulheres que resistem nas margens. É uma poeta para o futuro”.

Para Rita, o público do espetáculo vai ter um encontro com a beleza de uma história bem escrita. "Está impecavelmente encenada, é tudo muito lúdico e mágico", afirma. "É um mergulho”. Uma homenagem à poesia e à coragem de quem, como Vashti, ousa dizer não.

Serviços

Rainha Vashti – Teatro de Sombras

Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM – Solar do Unhão)

De 13 de novembro a 12 de dezembro de 2025

Quintas e sextas-feiras, às 18h30

Sessões extras às 20h (em datas selecionadas)

Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia)

Vendas: sympla.com.br/evento/rainha-vashti-a-roda-teatro-de-bonecos/3186105

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