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04/08/2024 às 10:00 - há XX semanas | Autor: Pedro Hijo

ABRE ASPAS

Lai Santiago: “Precisamos debater essa questão de que dinheiro não é coisa de mulher”

Planejadora financeira desenvolveu junto com uma equipe jogos que ajudam no enfrentamento à violência contra as mulheres

Especialista esclarece para A TARDE quais são os primeiros passos para a criação de uma reserva financeira
Especialista esclarece para A TARDE quais são os primeiros passos para a criação de uma reserva financeira -

Seis em cada 10 brasileiras acreditam que mulheres vítimas de violência doméstica não denunciam os agressores por estarem em situação de dependência financeira deles. O dado é do Observatório da Mulher contra a Violência em parceria com o instituto DataSenado. A pesquisadora e planejadora financeira baiana Lai Santiago desenvolveu junto com uma equipe jogos que ajudam no enfrentamento à violência contra as mulheres.

O projeto Jogos Violetas e Vidas Violetas: centralidade do lúdico à produção de sentidos reflexivos sobre gênero, diversidade e não discriminação recebeu, no ano passado, o prêmio de Direitos Humanos Anísio Teixeira. Para Lai, a falta de intimidade com a educação financeira é um dos pontos que tornam mulheres vulneráveis a relações abusivas. “Essa crença de que nós precisamos de um salvador pode dificultar a decisão de deixar um relacionamento abusivo, pode minar a nossa autoestima, dar a sensação de que não somos capazes de gerir as nossas próprias finanças e fazer com que a mulher negligencie a busca por educação financeira”, explica a pesquisadora.

De acordo com ela, o distanciamento das mulheres do assunto vem de uma construção cultural secular de determinação dos papeis de gênero, alienando a mulher do campo financeiro. No mês da campanha Agosto Lilás, de conscientização pelo fim da violência contra a mulher, Lai esclarece para A TARDE quais são os primeiros passos para a criação de uma reserva financeira e os melhores investimentos para quem ainda é inseguro em relação ao tema.

Por que as mulheres ainda estão afastadas da educação financeira?

Existem questões culturalmente colocadas que podem explicar essa disparidade entre o interesse das mulheres e dos homens por finanças. Um conceito importante é o Complexo de Cinderela, criado pela psicoterapeuta Colette Dowling, que fala sobre o medo das mulheres terem independência porque fomos culturalmente ensinadas que seríamos resgatadas por um príncipe encantado e que a gente dependeria de uma figura masculina para ter segurança e realização pessoal. Isso pode levar a situações em que a mulher não vai buscar por uma independência financeira ou por entender os conceitos do mercado financeiro. Essa crença de que nós precisamos de um salvador pode dificultar a decisão de deixar um relacionamento abusivo, pode minar a nossa autoestima, dar a sensação de que não somos capazes de gerir as nossas próprias finanças e fazer com que a mulher negligencie a busca por educação financeira. O outro conceito que eu acho importante é o da Prateleira do Amor, da autora Valeska Zanello. É uma tese que fala sobre a maneira como as mulheres são socialmente condicionadas a verem o amor romântico como uma prioridade máxima, como se fosse um prêmio que precisa ser perseguido e mantido a qualquer custo. A mulher é condicionada a valorizar excessivamente o relacionamento em detrimento de outras áreas da vida, o que também cria uma dependência emocional. Essa disparidade no interesse às finanças vem muito de pontos culturalmente construídos ao longo de séculos em que os papéis sociais são determinados a partir do gênero da pessoa.

Imagem ilustrativa da imagem Lai Santiago: “Precisamos debater essa questão de que dinheiro não é coisa de mulher”
| Foto: Divulgação

É muito difícil de romper com essa barreira?

Sim. Mas precisamos debater essa questão de que dinheiro não é coisa de mulher. Há dados que mostram que empresas que são geridas por mulheres têm resultados melhores. Nós aumentamos a lucratividade dos negócios quando estamos na liderança. Outro ponto é que nós temos resultados melhores e mais consistentes do que os homens diante de uma carteira de investimentos, por exemplo, porque existem questões comportamentais que não nos atravessam, mas atravessam muito os homens. É comum que os homens tenham excesso de confiança e acabem se arriscando e tomando decisões mais impulsivas dentro do mercado financeiro. Por se sentirem mais inseguras, as mulheres acabam buscando mais informação, acabam avaliando outros pontos de vista e consumindo mais dados na hora de tomar a decisão financeira. A mulher até pode estar distante do mundo financeiro, mas quando se insere nesse contexto ela tem mais ferramentas para tomar as decisões, o que gera menos perdas, e ganhos mais consistentes a longo prazo.

Quais são as melhores formas de reivindicar salários melhores dentro de uma empresa?

O segredo sobre o salário é uma questão estratégica para manter uma disparidade de valores entre homens e mulheres. Porque quando sabemos qual é o salário do nosso colega, quando a gente entende as funções que essa pessoa está desempenhando e o que ela recebe, a gente passa a ter ferramentas para argumentar as desigualdades que estão ali. Claro que são necessárias políticas públicas para tornar as empresas cada vez mais transparentes no que tange à igualdade salarial entre gêneros, raça e classes sociais. Mas, o que eu vejo é que dentro da esfera micro, a gente precisa pautar dentro da companhia espaços de discussão sobre transparência. É preciso falar sobre o salário com os colegas para que pouco a pouco a gente consiga entender se existe essa disparidade e acione as ferramentas que a companhia disponibiliza. Porque isso vai construir uma cultura empresarial cada vez mais voltada para a busca por igualdade nessas relações e igualdade salarial de maneira geral.

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Quais são os primeiros passos para começar a construir uma reserva de emergência financeira?

Reserva de emergência é aquele montante que vai nos socorrer quando um imprevisto acontecer. O tamanho da reserva vai depender da estrutura financeira da pessoa e do tipo de renda. Então, se a gente está falando de uma mulher que é CLT, ela vai ter uma necessidade específica de reserva. Já a mulher autônoma vai precisar de mais reserva, de mais meses guardados. A regra mais comum é que essa reserva tenha de seis a 12 meses de gastos guardados para uma situação emergencial. Quando se faz essa conta, o número pode assustar. Mas, é possível transformar esse objetivo em uma tarefa simples de ser executada. Se eu consigo guardar R$ 100, R$ 200 ou R$ 50, eu começo por esse valor, de preferência automatizando essa tarefa. É possível, por exemplo, programar uma aplicação automática para a mesma data do recebimento do salário, o que torna mais fácil construir um hábito de poupança mais consistente do que se a pessoa esperar o dinheiro sobrar no fim do mês. Outro passo é escolher um investimento dentro do mercado financeiro que seja simples, conservador, e que seja possível resgatar com agilidade.

Quais são os investimentos que você sugere para quem está começando?

O primeiro passo é montar a reserva de emergência. É preciso que seja um investimento rápido de resgatar, seguro, simples e acessível. Então, convém buscar CDBs de liquidez diária dentro dos bancos e instituições financeiras. Dá para buscar o Tesouro Selic, por exemplo, que é adequado para reserva de emergência. Há alternativas de fundos de investimento de renda fixa, DI, que são os fundos que investem majoritariamente no Tesouro Selic e que são muito conservadores. Muitos desses fundos têm taxa de administração zerada, o que torna ainda mais atrativo. Eles são ainda mais vantajosos e costumam ter uma liquidez imediata. A depender da instituição financeira, também existem outras soluções de LCIs e LCAs [tipos de investimento em renda fixa isentos de Imposto de Renda] com liquidez, mas normalmente existe uma carência inicial de alguns meses. Então, se a pessoa está montando uma reserva de emergência e esse é todo o dinheiro que ela tem, não é legal, logo de cara, travar esse valor. Minha sugestão é iniciar com uma aplicação que tenha uma liquidez imediata e, posteriormente, com uma reserva um pouco mais robusta, pensar em uma solução LCI ou uma LCA, que após determinado período passam a ter liquidez diária.

Quais são os conselhos que você daria para mulheres que querem começar a investir, mas que estão inseguras ou têm medo de arriscar o dinheiro?

Busque ajuda especializada e independente. Normalmente, se procura por uma opinião de uma figura masculina, de um colega de trabalho na hora de tomar decisões. Mas, o contexto daquela pessoa pode ser muito diferente do seu. Investir é uma questão muito íntima. Por isso, o caminho mais seguro é ter ao seu lado um profissional especializado e independente de outras instituições financeiras, que trabalha pensando nas suas necessidades. Esse profissional lhe ajuda, também, a criar um compromisso com as finanças. É como se fosse um personal trainer que você contrata e se compromete a estar malhando naquele horário, a mostrar seus resultados. O que funciona muito mais do que você malhar sem nenhum tipo de acompanhamento, com treinos que você montou sozinha, da sua cabeça. Um planejador financeiro realmente vai ter todas as ferramentas para avaliar o que é necessário, quais são as prioridades e o passo a passo para você alcançar seus objetivos.

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