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Profissionais brasileiros precisam lidar com mudança obrigatória no mercado

Especialistas apontam que tendência atinge profissionais de diversas áreas

Pedro Hijo

Por Pedro Hijo

16/11/2025 - 6:04 h

“Eu considero o Instagram uma extensão do meu consultório”, diz a dermatologista baiana Marilu Tiúba, que acumula quase 20 mil seguidores na plataforma. Para dar conta do perfil, a médica é assessorada por uma empresa de marketing estratégico paranaense voltada exclusivamente para a classe médica. "Sem eles eu não daria conta".

A profissional é exemplo de um novo momento no mercado de trabalho. Com a expansão das plataformas digitais, especialistas apontam que a presença ativa nas redes sociais se tornou praticamente obrigatória para profissionais de diversas áreas. "Ficar fora do Instagram não é uma opção", afirma Marilu.

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A médica notou a importância da internet na medicina durante o isolamento causado pela pandemia de Covid-19 de 2020 a 2021: "Se uma fake news viralizava em segundos, por que não usar o mesmo espaço para divulgar informação científica?", questionou. Desde então, tem produzido vídeos curtos sobre autocuidado que educam e passam confiança para quem a segue. A estratégia deu certo: boa parte dos pacientes novos que chegam à clínica a descobriram pelas redes.

A médica aprendeu a transformar o cotidiano em conteúdo. “Eu gravo entre uma consulta e outra, já virou hábito. O segredo é constância”, conta. O raciocínio resume o dilema de muitos profissionais que, como ela, descobriram que o exercício da profissão passou a depender de um novo tipo de exposição. Médicos, advogados, arquitetos, psicólogos e professores, por exemplo, têm se reinventado nas redes sociais, adaptando seus discursos à lógica dos algoritmos.

Necessário

Do outro lado do feed, quem observa esse movimento com um olhar técnico é o especialista em marketing de influência Gabriel Bomfim. Para ele, a presença digital deixou de ser um luxo e se tornou uma necessidade de mercado. “O profissional liberal que está fora das redes está, de certa forma, invisível para o público”, afirma.

Ele conta que contratar um serviço está diretamente ligado a consultar as redes sociais, seja para saber o que comentam sobre o profissional, seja para verificar se ele é realmente confiável. "Não estar presente pode significar prejuízo real".

Gabriel atesta a percepção de Marilu em torno da pandemia. Para ele, o isolamento acelerou a chamada cultura da vitrine digital. Ou seja, se antes profissionais usavam panfletos e catálogos para divulgação, agora lançam mão do alcance digital para apresentar serviços e produtos. Para Gabriel, um erro comum dos profissionais é o de achar que contratar uma agência e delegar todo o conteúdo para a empresa resolveria tudo. "Sem envolvimento e autenticidade, o conteúdo vira ruído”.

Para o especialista, as redes têm privilegiado quem encontra um jeito próprio de comunicar. “O público valoriza o que é verdadeiro", explica. A designer de interiores Carol Borges concorda com Gabriel. A profissional já chegou a investir 30% do faturamento no trabalho para o Instagram, acumulou mais de 25 mil seguidores, mas notou que a visibilidade não resultou em clientes reais.

Depois de anos seguindo estratégias de tráfego pago e postagens programadas, decidiu recomeçar. “Zerei o meu perfil e comecei outro, do meu jeito", diz Carol, que conversa diariamente com dez mil seguidores. "Hoje, tenho um engajamento infinitamente maior".

Para ela, o perfil deve ser uma plataforma de divulgação de um trabalho verdadeiro. Por isso, prioriza o conteúdo com bastidores, rotina pessoal e antes e depois dos projetos. Carol defende que cada profissional precisa definir o que quer comunicar. “Mais importante que a presença online é entender a direção que se quer tomar", conta. "Senão, vira uma casa com cara de capa de revista: bonita, mas sem vida”.

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Independência

Psicóloga e especialista em Orientação Profissional e de Carreira, Simone Brasil observa o novo momento no mercado de trabalho com um olhar crítico. Ela explica que o uso das redes se tornou quase inevitável e, muitas vezes, desgastante. "Criar conteúdo consome tempo, exige investimento e pode virar um segundo trabalho", afirma. Ela diz que é preciso estar atento ao que divide a exposição da vida privada e o conteúdo profissional nas redes. "É preciso refletir sobre até onde ir e para quem essas postagens se direcionam”.

Simone também alerta para o impacto psicológico desse cenário. Para a profissional, a pressão por exposição pode afetar o equilíbrio emocional de quem produz conteúdo. Por isso, é preciso estabelecer limites e lembrar que é possível construir autoridade com constância, presença, excelência técnica e não apenas com engajamento.

Mesmo assim, a psicóloga não demoniza o uso das redes. “Há maneiras éticas e equilibradas de usar essas ferramentas online", afirma. "Dá para produzir conteúdo técnico, sem precisar abrir a intimidade". A designer Carolina Lima, por exemplo, faz parte do grupo que optou por um ritmo mais leve de exposição. Atualmente, 100% dos clientes que chegam a ela, vêm de indicações. "Não dependo do Instagram", afirma.

Carolina diz que já chegou a contratar uma assessoria para o perfil, mas logo notou que o cliente que vinha das redes não era o perfil que gostaria de atrair. Por isso, usa o Instagram sem muito compromisso, e mistura fotos da vida pessoal com o resultado de trabalhos. Apesar de reconhecer que perde uma fatia considerável de clientes, Carolina não teme a ausência online. "Tenho minhas metas muito claras e tem dado certo assim".

A dermatologista baiana Marilu Tiúba acumula quase 20 mil seguidores na plataforma
A dermatologista baiana Marilu Tiúba acumula quase 20 mil seguidores na plataforma | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Recomeço

Professor de redação há mais de dez anos, Tomás Mascarenhas viu o trabalho mudar completamente durante a pandemia. Ele dava aulas presenciais na casa dos alunos e precisou recalcular a rota depois do isolamento. Foi aí que ele criou um perfil no Instagram para das dicas de redação e continuar ativo.

O perfil cresceu, virou uma espécie de portfólio e começou a atrair novos estudantes. Mas com o tempo, veio o desconforto. “Eu via os vídeos antigos e tinha vergonha da qualidade", conta. Tomás resolveu apagar tudo e recomeçar, com uma linguagem que o representasse melhor.

Hoje, o professor vê as redes sociais com ambivalência. “A lógica das plataformas online é a do espetáculo", diz. "A gente sabe que o bom professor é quem tem formação e compromisso ético, mas na internet ele é julgado pela qualidade da câmera, pela aparência, pela capacidade de condensar uma aula em 15 segundos”.

Desde então, Tomás voltou a produzir vídeos para a internet e já colhe resultados. “Ex-alunos, familiares e novos estudantes me acham pelo perfil e é bonito ver isso, porque eu volto a ser lembrado", conta. "De alguma forma, passo a ser referência também para quem busca aulas particulares ou dicas de redação confiáveis”.

Ele reconhece que o trabalho nas redes sociais é um esforço extra. Para Tomás, conciliar produção de conteúdo com preparação de aula e vida pessoal é difícil. "Às vezes o único tempo livre [que tem para produzir conteúdo para a internet] é à noite, depois das aulas", afirma. “Mas, vejo que assim eu também me torno aluno, tentando entender o algoritmo, as tendências, a linguagem".

Tomás Mascarenhas viu o trabalho mudar completamente durante a pandemia
Tomás Mascarenhas viu o trabalho mudar completamente durante a pandemia | Foto: José Simões | Ag. A TARDE

Desafio

Apesar das diferenças de área e de estilo, todos os profissionais compartilham um mesmo diagnóstico: o mercado mudou, e as redes sociais se tornaram parte inseparável da identidade profissional. De acordo com Gabriel Bomfim, a presença online pode parecer uma estratégia de sobrevivência, mas também pode ser percebida como oportunidade. "Produzir nas redes é dividir conhecimento, acessar mentes que você não alcançaria de outra forma e potencializar o faturamento”, resume.

A dermatologista Marilu Tiúba encara o equilíbrio entre se mostrar e o desejo de preservar a própria intimidade. Para ela, o ponto de interseção é aprender todos os dias com o público. “As redes me humanizaram", afirma. "Antes, o jaleco criava uma distância. Hoje, o paciente me vê como gente, com rotina, com humor, com cansaço. E isso aproxima”.

Para ela, o segredo da presença online é comunicar sem perder a essência. "Estar na internet dá trabalho, mas também é uma ferramenta que pode ser muito generosa", diz. "Quem é de verdade, no fim das contas, sempre encontra o seu público".

Gabriel Bomfim diz que a presença online pode ser percebida como oportunidade
Gabriel Bomfim diz que a presença online pode ser percebida como oportunidade | Foto: Divulgação

Como marcar presença

O especialista em marketing de influência Gabriel Bomfim dá dicas para profissionais que querem se destacar nas redes sociais

1. Mostre o bastidor do seu trabalho

As pessoas se conectam com histórias reais. Mostrar o processo, e não apenas o resultado final, humaniza o profissional e gera confiança.

2. Valorize o conteúdo autoral

Evite copiar tendências ou formatos prontos. Produza conteúdos que expressem sua forma de pensar e agir na profissão, reforçando autoridade e autenticidade.

3. Atenção à ética da sua área

Profissionais de saúde, direito e educação, por exemplo, têm regras específicas sobre o que podem divulgar. Sempre verifique as orientações do conselho da sua categoria.

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