CRÔNICA
Teoria otária de gringo: IA não é o problema, somos nós
Teoria de que a IA vai dominar o mundo é pura bobagem, diz escritor

Por Franklin Carvalho

Circula por aí uma teoria de pesquisadores da Califórnia de que a inteligência artificial vai tentar dominar os homens e que os governos das grandes potências buscarão freá-la, mas não haverá jeito: O mundo vai acabar em barranco e nós vamos morrer encostados.
Ah, IA, IA! Minha preta não sabe o que eu sei!
Qualquer coisa que um americano diz é logo espalhada pela mídia mundial. Mas esta é uma verdadeira estupidez, uma estultice, como se dizia antigamente, a ideia de que as potências econômicas vão fazer algo para resolver um grande problema mundial. Nunca fizeram. Historicamente, elas só colaboraram para piorar as demandas e para jogá-las no território alheio.
Além disso, cada novo drama abre os olhos da ganância e o apetite financeiro, que manda acima de qualquer governo, geralmente para perpetuar as desigualdades e explorar os peões.
Como alguém ousa fazer uma previsão para o futuro sem colocar no meio as chances de corrupção, desvirtuamento, usurpação da parte dos poderosos? Não se trata de ser pessimista, mas de fazer cálculos lúcidos, reconhecendo, inclusive, que se a IA tem potencial maligno, o ser humano pode chegar primeiro, pagar uma propina e dizer para ela que mal deve ser feito.
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Infelizmente, a gente vive num mundo em que nem em astronauta se pode confiar, a depender do astronauta. Se alguém tivesse a força dos super-heróis, a sociedade não ia funcionar bem.
Creio que muitos fortões usariam seus poderes de voar, dobrar metais, enxergar longe, etc., para realizar maldades com uma tabela de preços. Talvez os homens morcegos e os de aço fossem presunçosos, opressores, vilões mesmo, com tristes ideologias. Teríamos que esperar uma nova geração de paladinos que nos salvasse dos capadócios. Sabe Deus por quanto tempo.
Felizmente, Deus não dá asas à cobra, nem dá energético. E, nessa condição, a cobra também não fuma. O que temos sempre é gente empedernida na ruindade, sem coração, até para com os famintos, e a humanidade querendo reviver loucuras que já deram errado outras vezes.
O bom é que as coisas também saem errado do lado do mal, como é comum o tempo fazer justiça aleatória. Um dia, tudo definha, até os grandes impérios, e as importâncias se desvalorizam. Os ruins pegam enfisema, eczema, engasgam e partem, como os bons também vão.
Mas existe, de fato, gente que é carne de pescoço, boca de aratanha, barril dobrado, espírito de porco, pombo sujo, bufa fria, pirão perdido. Da minha parte, porém, não peço que ninguém morra, nem comemoro falecimentos. Vou até ao velório, porque é obra de misericórdia, e encomendo a alma a Deus. Mas não digo que sinto falta.
Por isso não coloco a culpa na IA.
E, nesse cambalache que é o mundo, esse grande cassino de velhacos, é bom ficarmos sempre alertas. Até para reagir a teoria otária de gringo.
*Franklin Carvalho é autor de Tesserato – A tempestade a caminho (Ed. Noir)
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