MUNDO
As quatro estações do ano mudaram? Veja o que diz a ciência
Impacto das mudanças climáticas está transformando os padrões sazonais da Terra
Por Isabela Cardoso

Primavera, verão, outono e inverno. Durante séculos, essa divisão das estações do ano ajudou a humanidade a compreender e se adaptar ao ritmo da natureza. Mas será que esses quatro blocos ainda conseguem dar conta do clima que vivemos hoje? Um grupo de pesquisadores britânicos acredita que não.
Segundo um estudo conduzido por geógrafos da University of York e da London School of Economics, o impacto das mudanças climáticas está transformando de forma tão profunda os padrões sazonais da Terra que seria preciso repensar o próprio conceito de “estações do ano”.
A proposta não é apagar a primavera ou o inverno do calendário, mas acrescentar novas formas de interpretar a passagem do tempo climático, com base nas experiências reais das pessoas.
Novas categorias para um planeta em transição
O estudo apresenta quatro novas categorias que estariam surgindo em diferentes partes do mundo. As chamadas estações emergentes referem-se a padrões sazonais completamente novos, como o aumento de períodos de calor em locais que antes tinham climas mais amenos.
Já as estações extintas dizem respeito a períodos do ano que deixaram de existir ou perderam suas características clássicas, como invernos rigorosos que deram lugar a semanas apenas frescas.
Outros dois conceitos chamam atenção. As estações arrítmicas são aquelas que não seguem mais uma duração ou sequência previsível. É o caso de primaveras que começam antes ou verões que se estendem até quase o fim do outono.
Já as estações sincopadas descrevem comportamentos instáveis dentro de um mesmo período, como ondas de calor no meio do inverno ou semanas de frio intenso em pleno verão.
Essas categorias podem parecer conceituais, mas ajudam a traduzir uma realidade já perceptível em muitos países. Em vez de se prender a datas fixas no calendário, os pesquisadores sugerem um olhar mais sensível às transformações ambientais locais.
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O que já está mudando na prática?
O aumento da duração do verão em diversas regiões do planeta é um dos sinais mais claros desse novo cenário. Ondas de calor mais longas, verões que começam antes e invernos cada vez mais curtos estão sendo observados com frequência. A primavera, por sua vez, vem “chegando” mais cedo em muitos países, trazendo flores antes da hora e confundindo ecossistemas inteiros.
No Sudeste Asiático, um fenômeno recorrente passou a ser reconhecido como uma espécie de nova estação. Trata-se da “estação da fumaça”, causada pelas queimadas em áreas de turfa tropical, especialmente na Indonésia, Malásia e Singapura.
A fumaça densa, que antes era um evento pontual, hoje aparece com tanta regularidade que já é tratada como uma fase do ano. O fenômeno impacta direto na saúde pública, no turismo e nas políticas de qualidade do ar.
Clima e cultura: um novo jeito de marcar o tempo
A proposta dos autores do estudo, publicado na revista Progress in Environmental Geography, não é reformular o calendário, mas adaptar a forma como percebemos e lidamos com o tempo climático. A ideia é que uma abordagem mais flexível permita que comunidades, governos e cientistas respondam melhor aos efeitos das mudanças climáticas.
Ao reconhecer que as estações do ano estão mudando, também se abre espaço para novas formas de planejar o cotidiano, desde o plantio agrícola até o calendário escolar. O clima, afinal, deixou de ser apenas um pano de fundo previsível. Ele se tornou um protagonista em transformação, exigindo novos nomes, novas estratégias e mais atenção.
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