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Do quintal à UTI: a picada de mosquito que quase matou um homem

Inicialmente, o homem acreditou se tratar de uma infecção leve

Edvaldo Sales

Por Edvaldo Sales

15/12/2025 - 10:18 h
Inicialmente, o homem acreditou se tratar de uma infecção leve
Inicialmente, o homem acreditou se tratar de uma infecção leve -

Uma simples picada de mosquito, em frente à própria casa, mudou para sempre a vida do norte-americano David Hancock. Em junho de 2007, ele começou a sentir febre súbita e vômitos intensos. A princípio, acreditou se tratar de uma infecção leve, talvez uma gripe. Mas a intuição de que algo não estava certo se confirmou de forma dramática.

Foram necessários dez dias até que os médicos chegassem ao diagnóstico correto. Nesse intervalo, David, então com 49 anos, entrou em coma, sofreu sucessivas paradas cardíacas, teve os pulmões tomados por líquido e apresentou inflamação cerebral. “Eu estava com um pé em outro mundo”, relembra. A causa: infecção pelo vírus do Nilo Ocidental, transmitido por um mosquito.

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O caso ocorreu em Glendale, nos arredores de Phoenix, no Arizona, e ilustra por que os mosquitos são responsáveis por mais mortes humanas do que qualquer outro animal no planeta. Não pelo inseto em si, mas pelos vírus e parasitas que eles carregam.

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Um vírus tropical transmitido por mosquitos comuns

Diferentemente de doenças como dengue, Zika, malária e febre amarela — transmitidas principalmente pelo mosquito Aedes aegypti —, o vírus do Nilo Ocidental é disseminado, sobretudo, por mosquitos do gênero Culex, popularmente conhecidos como pernilongos. Essas espécies são nativas da Europa e da América do Norte.

Porém, o vírus tem origem tropical. Foi identificado pela primeira vez em 1937, na região do Nilo Ocidental, no norte de Uganda. Seu principal reservatório são as aves, que permitiram a disseminação global do patógeno por meio das rotas migratórias. Assim, o vírus chegou à Europa e, em 1999, foi detectado pela primeira vez nos Estados Unidos. Hoje, é a principal causa de doenças transmitidas por mosquitos no país.

O ciclo de transmissão ocorre quando o mosquito pica uma ave infectada e, posteriormente, transmite o vírus a outro hospedeiro, que pode ser uma pessoa ou um cavalo. Embora a maioria das infecções seja assintomática, cerca de 1,3 mil pessoas desenvolvem formas graves da doença anualmente nos EUA, e aproximadamente 130 morrem.

Um drama familiar e uma ironia científica

No dia em que foi internado, David também apresentava dificuldade para engolir. A esposa, Teri, o levou ao hospital, mas a espera prolongada na emergência quase foi fatal. Enquanto ela voltou para casa para cuidar do cachorro, David sofreu duas paradas cardíacas e foi encaminhado à UTI, sob ventilação mecânica. Os médicos chegaram a acreditar que ele não sobreviveria.

A família foi chamada às pressas, incluindo o irmão de David, Bob Hancock, biólogo especializado no estudo do comportamento dos mosquitos. “Quando disseram que era o vírus do Nilo Ocidental, todos perguntaram: ‘Tem certeza de que é o David?’”, conta Bob. A surpresa vinha do fato de que ele, o pesquisador que passa a vida em contato com insetos, jamais havia sido infectado.

Mudanças climáticas ampliam os riscos

A história dos irmãos evidencia um ponto central da epidemiologia das doenças transmitidas por mosquitos: a maioria das infecções não é registrada, pois não causa sintomas ou não leva à procura por atendimento médico. Ainda assim, os riscos são reais e, em casos graves, as consequências podem ser devastadoras.

O episódio também mudou a trajetória profissional de Bob, que passou a se dedicar à entomologia médica, focada na transmissão de doenças. Ele alerta para os efeitos das mudanças climáticas, que criam condições cada vez mais favoráveis à expansão de mosquitos e vírus tropicais para regiões antes consideradas seguras. Nos EUA, o Aedes levou apenas uma década para se espalhar do sul da Califórnia até São Francisco.

“Não há motivo para acreditar que os mosquitos vão se espalhar, mas as doenças não”, afirma.

As marcas permanentes de uma picada

David sobreviveu, mas nunca se recuperou totalmente. Após sair do coma, precisou reaprender a falar, respirar e andar. Levou nove meses para retornar ao trabalho e, até hoje, não consegue engolir normalmente. Segundo Teri, ele se tornou mais introspectivo, possivelmente em razão das lesões cerebrais causadas pelo vírus.

O casal diz evitar ao máximo novas picadas, recorrendo a repelentes. O sentimento é de aversão. Já Bob mantém uma visão diferente. “Os mosquitos não são maus. Eles apenas buscam alimento e cuidam da prole”, diz. Para ele, o verdadeiro perigo não está no inseto, mas nos vírus que ele pode carregar.

A história de David Hancock reforça um alerta de saúde pública: combater os mosquitos e monitorar as doenças que eles transmitem é uma das maiores prioridades globais em um mundo cada vez mais afetado pelas mudanças climáticas.

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