IMIGRAÇÕES
EUA: diplomata brasileira descreve detenções e alerta contra advogados
Marissol Romariz desmistifica mitos sobre centros de detenção e expõe como advogados exploram imigrantes

Por Gabriela de Paula* | Direto de NY

Longe do glamour das relações internacionais, a cônsul-adjunta Marissol Romariz detalha o trabalho de assistência a brasileiros detidos.
Os centros de processamento, explica ela, são "grandes cadeias, não vou dizer que é penitenciária, porque tecnicamente não é penitenciária."
É para lá que os imigrantes apreendidos sem visto são levados temporariamente para passar pelo sistema judiciário.
Desmistificando mitos sobre os centros
A ministra faz questão de desmistificar algo que tem sido muito falado: comparar esses locais a campos de concentração da Segunda Guerra Mundial é perigoso e errado.
"Eu acho que às vezes essa comparação extrema pode até fazer um desserviço no sentido de retirar a credibilidade, porque não se compara à verdade," esclarece.
Ela descreve as instalações como grandes estruturas, em formato hexagonal, com vigilância permanente — algo que lembra o panóptico de Michel Foucault. Os detidos usam uniformes de três cores, dependendo de terem ou não passagem policial.
Direitos Humanos são preservados
Marissol Romariz garante que nenhum direito humano básico tem sido violado até agora.
Ela assegura que há atendimento médico ágil, contato livre por telefone com família, advogados e serviço consular, além de condições básicas de higiene e alimentação.
Leia Também:
"Eu não vi nenhum direito humano sendo violado até agora," reafirma, acreditando que dificilmente haverá algo de mais grave: "O interesse deles é que seja exatamente como eu estou dizendo para vocês: botar a pessoa para fora. E eles não querem um grande escândalo internacional."
Advogados que vendem ilusão
A diplomata expõe o lado sombrio do processo: advogados que "vendem a esperança" de reversão em casos sem sustentação legal.
O sistema judiciário nos EUA não dá limite para apelações, e é aí que a exploração acontece. "O advogado vai fazer a apelação até o seu dinheiro acabar," alerta a cônsul, explicando que muitas reservas familiares são gastas para um resultado que não virá.
A lei é dura, mas é a lei
Muitos brasileiros, na esperança de não serem deportados, destroem seus documentos e se recusam a colaborar.
"Sem querer passaporte ou ARB [Autorização de Retorno ao Brasil], ele fica eternamente na prisão," diz.
A cônsul é enfática sobre a legalidade da ação do governo americano: "Quando eles falam, 'mas isso é uma injustiça'. Não, não é. Essa é a justiça do país, você sabia as regras."
"O que está acontecendo é absolutamente legal," conclui.

Espaços de socorro e empoderamento
A assistência direta a brasileiros vulneráveis se tornou central, destacando o trabalho dos Espaços da Mulher Brasileira, criados em diversas sedes consulares, incluindo Nova York.
Esses espaços oferecem apoio jurídico, psicológico e social, especialmente para vítimas de violência doméstica no exterior.
O trabalho tem duas vertentes: o lado do socorro ("a moça que saiu de casa e não tem onde ficar, aquela que está na rua com a mala e não fala inglês") e o lado da estrutura, que visa o empoderamento feminino e o aumento das fontes de renda.
Apesar do grande volume de trabalho, a diplomata finaliza com esperança: "Quando a gente coloca um rostinho, como desses pequenos, nas histórias que contei, a gente sabe que precisa seguir sem descanso."
*Gabriela de Paula é jornalista especializada em inovação, tecnologia e futuro, e está em Nova York cobrindo a Climate Week 2025.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes