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Fiol: o que falta para a Bahia ligar o Atlântico ao Pacífico
Ferrovia tem 70% de dois dos seus três trechos concluídos, mas ainda não tem data para ser inaugurada

Por Miriam Hermes

A ligação ferroviária do interior ao litoral baiano para acessar o Porto Sul, em Ilhéus, será uma realidade com a EF-334, a Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), que embora com cerca de 70% dos trechos 01 e 02 concluídos, ainda não tem previsão para entrar em funcionamento.
A Estrada de Ferro faz parte do projeto do Corredor Leste-Oeste do governo federal pois deverá se conectar na Ferrovia de Integração do Centro Oeste do Brasil (Fico). Toda a estrutura fará parte da projetada Ferrovia Transoceânica, que deverá, enfim, ligar o oceano Atlântico (Porto Sul/Ilhéus) ao Pacífico (Porto Chancay/Peru).
A ideia de unir os dois oceanos por uma ferrovia não é nova. Os primeiros projetos neste sentido foram registrados entre as décadas de 1940 e 1950 pelo engenheiro civil Vasco de Azevedo Neto. Ele denominou seu trajeto de Ferrovia Transulamericana, ligando o Porto de Campinho, na Baía de Camamu, na Bahia, ao Porto de Pisco, no Peru.
Com traçado semelhante à Transulamericana, a Transoceânica está em fase de projetos e estudos de viabilidade, com participação do governo brasileiro e empreendimentos chineses, com equipes especializadas em ferrovias.
Com um investimento aproximado de US$ 100 bilhões, a iniciativa cria uma nova rota para agilizar a logística de mercadorias entre a América do Sul e a Ásia e tem imensos desafios pela necessidade de atravessar a floresta Amazônica e a cordilheira dos Andes.

Conforme o Ministério dos Transportes (MT), a expectativa é que o lançamento do edital deste projeto aconteça no primeiro semestre de 2026. Este corredor cruza a Ferrovia Norte-Sul e deve conectar as regiões do Centro-Oeste e Oeste brasileiro diretamente a portos importantes, passando pelos estados como Mato Grosso, Goiás e Bahia.
Dados do MT indicam que boa parte das obras do corredor ferroviário já foram executadas, como 75% da Fiol 01 (Ilhéus/Caetité), 71% da Fiol 02 (Caetité/Barreiras) e 30% da Fico 01 (Mara Rosa/GO a Água Boa/MT). Outros trechos estão em fase de projeto, tais como a Fiol 03 (Correntina/BA a Mara Rosa (GO), onde se conectará ao trecho 01 da Fico.
“A republicação do aviso de licitação para a contratação dos serviços de elaboração dos projetos básicos e execução de obras remanescentes da Fiol pela Valec Engenharia, Construção e Ferrovias, renova a expectativa dos municípios do Centro-Sul baiano”, pontuou a secretária de Infraestrutura e Urbanismo de Itabuna (Siurb), Sônia Fontes.
Ela se referiu ao edital publicado este mês para selecionar empresa que deverá atuar em um trecho de 35,75 km de extensão na Fiol 02, e é mais um passo para a conclusão da ferrovia em território baiano. A secretária enfatizou que o município está projetado para receber as obras de infraestrutura federais.
“Demos prioridade nos primeiros anos da gestão do prefeito Augusto Castro à requalificação da infraestrutura e a programas de integração e de mobilidade, com projetos dos governos do estado e federal”, disse, exemplificando a duplicação da BR-415, construção da BA-649 e duplicação de trechos urbanos das rodovias BR-101 e 415.
O planejamento, conforme a secretária, foca no futuro de Itabuna como um núcleo econômico, de serviços e negócios, que venha abrigar um polo de logística e de novos empreendimentos. Uma das iniciativas foi aquisição de área de 400 hectares para o projeto de loteamento que vai abrigar os empreendimentos logísticos voltados ao Porto Sul, Porto Seco e armazenamento de cargas.

Localizado a 29 quilômetros do distrito de Aritaguá, em Ilhéus, para onde está projetado o Porto Sul, o polo terá ligação com a rodovia BR-101 passando pelo Rio do Braço e a Estrada do Chocolate. A área foi apontada em estudos técnicos da União e do Estado como a mais propícia por ser composta de fazendas que podem ser revalorizadas e adaptadas.
De acordo com o prefeito Augusto Castro, os estudos demonstram que a implantação dos centros é viável e necessária ao macro projeto de transportes e logística. “Será grande vetor da logística, integração e geração de empregos”, disse.
Demora é criticada
A construção da Fiol foi iniciada em 2011, com uma expectativa de concluir o primeiro trecho até 2015. Entretanto, ainda existem preocupações sobre sua conclusão, considerando que no momento as obras da Fiol 01 e do Porto Sul estão suspensas, o que significa novo atraso para a finalização de todo complexo de transportes.
“Os atrasos e paralisações de obras, especialmente em relação à Fiol 01, impactam sobremaneira a competividade do estado”, afirmou o gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Kawabe, pontuando a necessidade do Estado cobrar a execução dos contratos.
Ele destacou que é urgente a conclusão da Fiol 01 e o Porto Sul “sob pena de tornar sem eficácia a Fiol 02, que vai de Caetité a Barreiras e, mais que isso, comprometa a viabilidade da Fiol 03, que fará a ligação com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico)”.
Kawabe salientou que existe esperança de os entraves serem superados com celeridade, “pois estas obras têm um impacto econômico muito importante sobre as regiões beneficiadas pelo traçado, além de fomentar o desenvolvimento da Bahia e do Brasil”.
Para ele, “essa infraestrutura é fundamental para a atração de novos investimentos”. Kawabe ressaltou que, além da Mineração e Agricultura, os principais segmentos a serem beneficiados, outros negócios como fertilizantes e combustíveis serão atraídos à ferrovia “por ter transporte eficaz, sustentável e de custo inferior”.
Ele ressaltou ainda a urgência para o desenvolvimento da Bahia, a renovação e modernização dos trechos da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) “um eixo estruturante do transporte de cargas, responsável por integrar o Sudeste e o Nordeste, conectando importantes polos produtivos do país”.
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Para a Bahia, enfatizou, os trechos da FCA “são fundamentais para garantir uma alternativa ferroviária competitiva, capaz de reduzir custos logísticos e ampliar o acesso ao complexo portuário de Aratu, que está localizado em um dos melhores sítios portuários do mundo”.
Kawabe citou ainda a necessidade de projetar um entroncamento entre Fiol e FCA na região de Brumado, cuja conexão permitirá múltiplas opções de escoamento para os portos baianos. “A integração fortalecerá a competitividade das cadeias produtivas baianas e criará oportunidades logísticas para os produtores nacionais”, asseverou o representante da Fieb
Vale lembrar que a Fiol 02, entre Caetité e Barreiras, ainda está sob acompanhamento do Governo Federal, que lançou recentemente edital para contratação de obras entre Guanambi e Caetité, com investimento estimado em R$ 507,1 milhões. Neste trecho está a ponte sobre o rio São Francisco, que, com 2,9 km de extensão, é a maior ponte ferroviária da América Latina e foi concluída em 2019.

Projeto de integração
Atualmente as obras estão paralisadas no trecho Fiol 01, assim como no Porto Sul, segundo a Bahia Mineração S.A (Bamin), empresa subsidiária do Grupo ERG, vencedora dos editais realizados pela União para as duas obras de infraestrutura.
Conforme nota da empresa, em 31 de março deste ano foi desmobilizado o contrato, “concluindo a fase inicial da construção da ferrovia por parte do grupo. Até o momento, a ERG investiu R$ 784 milhões na ferrovia, desde o início da concessão em 2021”.
A Fiol e o Porto Sul fazem parte do projeto que integra também a Mina Pedra de Ferro, localizada em Caetité, com produção parada, em fase de preservação. De acordo com a empresa, embora as obras estejam suspensas, “o Projeto Integrado segue licenciado, estruturado e tecnicamente viável, representando um investimento de aproximadamente US$ 2,2 bilhões (cerca de R$ 12,3 bilhões) realizado ao longo dos últimos 15 anos”.
A possibilidade da venda do empreendimento não foi confirmada. “A única informação que temos no momento é a de que a Bamin está em conversas avançadas com potenciais parceiros e mantém interlocução com autoridades e investidores para viabilizar a continuidade do projeto”, conforme a nota da empresa.
Para avaliar a situação contratual da subconcessão da Estrada de Ferro EF-334, o MT instituiu em junho deste ano, por meio de Portaria, um Grupo de Trabalho (GT). Formado por representantes do MT, ANTT e da Infra S.A., o grupo busca alternativas envolvendo a subconcessionária responsável.
No momento está em fase de validação um relatório com resultados das análises e propostas levantadas, que deverá subsidiar decisões acerca das próximas ações sobre o assunto. Ao concluir a nota, o MT destacou que é “fundamental estruturar uma malha de transportes intermodal. Essa integração é essencial para garantir eficiência logística e competitividade”.
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