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Turismo busca o equilíbrio entre preservação e expansão
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Por Núbia Cristina
O turismo, um dos setores com maior potencial de crescimento no Litoral Norte baiano, deve ser conduzido sempre de forma sustentável, respeitando as limitações ambientais e promovendo benefícios econômicos, sem comprometer o ecossistema da região. Essa é a diretriz de lideranças comunitárias, ambientalistas e de representantes do Ministério Público estadual, que avançam no trabalho em defesa do turismo sustentável na Costa dos Coqueiros.
Baseado na valorização dos recursos naturais e culturais da Costa dos Coqueiros, o turismo sustentável deve buscar equilíbrio entre a geração de emprego e renda e a preservação. “O lema do Conselho é claro e direto: ‘Ordenar para desenvolver’. A ideia é transformar o turismo em uma ferramenta de desenvolvimento sustentável, que beneficie tanto os turistas quanto a população local, promovendo a melhoria da infraestrutura, a preservação do meio ambiente e a geração de emprego e renda para a comunidade, principalmente para os mais vulneráveis”, explica o presidente do Conselho Municipal de Turismo de Camaçari, Patrício Oliveira.
O Conselho foi criado em 2001 e é formado por representantes da sociedade civil, incluindo empresários do setor turístico, além de representantes do poder público. Atua na definição de políticas públicas, estratégias de desenvolvimento e fiscalização de ações relacionadas ao turismo no município. “A composição do conselho inclui desde donos de estabelecimentos turísticos, como hotéis, pousadas e restaurantes, até representantes de associações comunitárias e ONGs, com um compromisso de trabalhar em conjunto para fortalecer o turismo na região, evitando o turismo predador”, explica Oliveira.
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>> Setor hoteleiro investe mais de R$ 6,2 bilhões na região A praia do Paraíso, em Guarajuba, Camaçari, conquistou o selo do Programa Bandeira Azul para a temporada 2024/2025. Essa é a sexta vez consecutiva que Guarajuba conquista a certificação internacional. O programa avalia critérios rigorosos estabelecidos pela Foundation for Environmental Education (FEE), com foco em gestão ambiental, qualidade da água, educação ambiental, segurança e serviços, turismo sustentável e responsabilidade.
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Ao receber o selo, as praias e marinas devem comprovar anualmente a manutenção de todos os critérios. Na Bahia, a Praia da Viração e a Praia da Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe, na Ilha dos Frades, também foram certificadas para esta temporada. “Guarajuba é um exemplo de como a ação conjunta entre a iniciativa privada, as lideranças da comunidade e os gestores públicos pode criar um modelo de turismo sustentável e de grande sucesso”, comemora Oliveira, destacando que esse modelo deve ser replicado ao longo da Costa dos Coqueiros.
“Além do cuidado com a vegetação nativa e a fauna local, a gestão do lixo e a implementação de sistemas de coleta seletiva são essenciais. A ampliação da coleta seletiva, por exemplo, é um dos projetos que estão sendo discutidos para melhorar a sustentabilidade do turismo na região”, afirma o líder comunitário.
Proteção ambiental
A Área de Proteção Ambiental (APA) do Litoral Norte da Bahia é um dos principais instrumentos de conservação ambiental na região. Criada pelo Governo do Estado em resposta aos impactos ambientais previstos com a implantação da Linha Verde (BA-099), a APA é um marco para a gestão sustentável de uma das regiões mais sensíveis e ecologicamente ricas do estado.
Abrange uma faixa de 142 quilômetros de extensão litorânea, com uma largura de 10 quilômetros, totalizando uma área de aproximadamente 142 mil hectares. Essa extensa área de proteção abrange parte dos municípios de Mata de São João, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaíra. Com paisagens que combinam praias intocadas, manguezais, dunas, recifes coralíneos e remanescentes de Mata Atlântica, a APA se destaca pela diversidade de ecossistemas.
“O Município de Camaçari tem uma das mais extensas faixas litorâneas do país. Todavia, esse não é o único motivo que atrai anualmente milhares de turistas. A cidade tem uma beleza exuberante, com dunas, lagoas, manguezais, restingas, mata ciliar, uma porção da mata atlântica e três APA's: Joanes, Ipitanga, Rio Capivara e Lagoas de Guarajuba”, destaca o promotor de Justiça Ambiental, Luciano Pitta, titular da 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Camaçari. “Todo esse cenário paradisíaco fomenta inúmeras possibilidades para o crescimento do turismo e desenvolvimento econômico, contudo, por outro lado, representa um grande desafio para a utilização sustentável dos recursos naturais”, adverte.
“É possível alinhar o crescimento econômico, desenvolvimento imobiliário e ocupação turística do litoral camaçariense, mediante o denominado turismo sustentável, o qual é a antítese do turismo predatório”, sustenta o promotor de Justiça Ambiental. Luciano Pitta aposta na educação ambiental das comunidades, na atualização do plano de manejo das APA's e na ocupação ordenada “como o caminho correto a ser seguido, sobretudo, a educação ambiental”.
“Não podemos ignorar o adensamento populacional nas áreas rurais e litorâneas de Camaçari. Novos bairros e povoados instalaram-se nos últimos anos, impulsionados que foram principalmente pelo turismo, migração da capital, acrescidos do aumento da oferta de serviços nessa região”, ressalta.
“Precisamos, assim, pensar num modelo de ordenamento e ocupação que seja sustentável e, também, esteja conectado com as novas poligonais desenhadas pela urbanização dessas áreas”, explica o membro do Ministério Público. Para Luciano Pitta, as ações precisam ser conjuntas, mobilizando as comunidades, o poder público e os órgãos ambientais.
De acordo com ele, um dos pontos mais sensíveis na cidade, por exemplo, é a ocupação irregular para fins de moradia e comércio, principalmente nas áreas de interesse turístico. Para frear os excessos e minimizar os danos, cita algumas ações conjuntas, a exemplo da criação de um plano de ordenamento e a ampliação da fiscalização dos órgãos municipais: Superintendência de Trânsito e Transportes (STT), Secretaria de Serviços Públicos (Sesp) e Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Sedur).
“Dentre os exemplos positivos para esse novo olhar sobre o turismo e o meio ambiente em Camaçari, se destaca a conquista e renovação anual do selo ambiental "Bandeira Azul", que foi concedido pela sexta vez consecutiva para Guarajuba. Na contramão dessa conquista, o município ainda registra a ocupação irregular em regiões de dunas, nas margens de lagoas e rios”, pondera o promotor. “Com a notoriedade crescente de Camaçari no trade turístico, os pilares do desenvolvimento sustentável precisam ser fundamentados com urgência, para evitar desgastes irreversíveis e o colapso dos recursos naturais”, conclui.
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