NO TOQUE DO VIOLÃO
Cantora juazeirense traz a Salvador show de lançamento do seu álbum
Show de lançamento vai acontecer nesta quinta-feira, 24
Por Grazy Kaimbé*

“O disco fala de sentimento humano, de dor, de término, de ciclos, de recomeços, de se apaixonar. São músicas que tratam muito das emoções humanas, especialmente daquelas mais profundas, mais cristalinas”. É assim que a cantora, compositora e instrumentista baiana Josyara define seu novo álbum, AVIA, que terá show de lançamento nesta quinta-feira, 24, às 20h, no Teatro Sesc Casa do Comércio.
No palco, Josyara estará acompanhada por Lucas Martins (baixo), Bruno Marques (bateria) e Charles Tixier (samples e synths). E claro, do seu violão, instrumento com o qual venceu o Prêmio WME Awards 2024 como Melhor Instrumentista, que segue como peça central do espetáculo.
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Com ele, a artista cria camadas sonoras que dialogam com o eletrônico, mas sem perder o caráter orgânico das composições, que nascem, como ela diz, “no tempo certo, com cuidado e escuta”. Além de assinar a maioria das canções, a direção musical do show desta quinta-feira também é compartilhada com o produtor Rafael Ramos (da gravadora Deck), repetindo prática recorrente ao longo da sua carreira.
“Desde sempre faço essa direção. Às vezes, por não ter estrutura para contratar alguém. Mas também porque é algo muito orgânico para mim: pensar repertório, ordem das músicas, detalhes de arranjo. O palco é o que mais me alimenta”, diz.
‘Quem viver, verão’
Radicada em São Paulo há mais de uma década, a cantora juazeirense conta que volta a Salvador com a energia de quem carrega o chão onde aprendeu a ser artista.
“É sempre um desejo profundo retornar. Salvador conta muito da minha história, e esse show também. Espero que as pessoas se abram, colem junto e conheçam esse novo trabalho”, convida.
“Sempre que volto a Salvador, tento viver mesmo o que está rolando. É sempre um desejo muito profundo voltar. E esse show também conta muito da minha história, de todos os anos que morei aí, de tudo que aprendi. A felicidade é muito grande. Quem já me acompanha há um tempo, pode saber que esse novo show está muito legal, muito interessante. Tem muito do que eu faço, e ao mesmo tempo tem muito de mim, até uma costura com o primeiro álbum. Eu gosto muito de poder voltar”, complementa a cantora.
A apresentação não contará com participações especiais no palco, mas a artista antecipa que deseja explorar novos formatos e parcerias no futuro.
Por enquanto, a única data confirmada na Bahia é o show desta quinta, mas a cantora faz planos para retornar em breve ao estado. “Acredito que, no verão, estarei aí novamente. Quero movimentar coisas, mostrar a música”, diz.
‘AVIA’
Segundo a artista, as canções de AVIA foram compostas ao longo de seis anos, em momentos diversos e afetivos. No entanto, ela não fazia ideia de que fariam parte do disco, futuramente. Algumas canções nasceram ainda antes da pandemia, como Festa Nada a Ver, de 2019.
Outras, como uma parceria com Pitty (Ensacado), surgiram já no fim de 2022. “A gente não compôs pensando no disco em si. Fizemos porque nos gostamos, porque houve inspiração. Depois, fui reunindo as canções, montando a curadoria do repertório”, conta.
Ao todo, o disco tem dez faixas. Entre elas, Eu Gosto Assim, composta em 2014 e lançada há onze anos por Anelis Assumpção, e Seiva, em parceria com a artista Iara Rennó. Apesar da densidade temática, o álbum AVIA não se fecha em introspecção: há festa, força, política e provocação em cada faixa. “Sou uma artista com muita vontade de criar, de experimentar. De seguir o que a música pede”, comenta a cantora.
Ainda de acordo com ela, o processo de criação do álbum só começou, de fato, em 2023, de forma intuitiva. Josyara relembra que começou a levantar demos, compor letras e experimentar arranjos.
Quando percebeu que as músicas reunidas começavam a dialogar entre si, enviou o material para Rafael Ramos, produtor com quem já havia trabalhado anteriormente.
“Perguntei se aquilo ali era um disco mesmo. Ele topou na hora e começamos a pensar juntos no repertório, a convidar músicos, a dar corpo àquelas ideias”, relembra.
Ela conta também que a produção foi marcada por um ritmo próprio: gravações no Rio de Janeiro, idas e vindas, pausas necessárias, novas canções surgindo no caminho.
“Foi um processo cuidadoso. Fui respeitando o tempo das coisas, me ouvindo também. A produção teve esse aspecto artesanal, sabe? Como quem vai costurando uma colcha com tecidos de épocas diferentes, mas que juntos formam um sentido”, acredita.
O resultado disso tudo é um disco orgânico, em que o violão segue como base estrutural e estética – um traço que acompanha Josyara desde os primeiros trabalhos, mas que agora se expande com a inclusão de elementos eletrônicos e texturas que mantêm o calor da música feita à mão – e com grande maestria.
Não se prender ao mercado
Com mais de 20 anos de trajetória, tendo feito seu primeiro show aos 14, Josyara já lançou outros três álbuns: Mansa Fúria (2018), Àdeusdará (2022), Josyara canta Timbalada (2024), este último com releituras da obra percussiva da banda criada por Carlinhos Brown, além do EP Mandinga Multiplicação (2024).
Em AVIA, no entanto, ela se destaca como autora, expandindo parcerias e realizando o desejo de experimentar, criar sem amarras e estar atenta ao que o tempo, e a própria música, pedem.
“Sou uma artista que gosta de criar, de fazer coisas que não estejam presas ao mercado. Claro que estou atenta ao que está acontecendo, mas gosto de deixar a música falar. De ouvir o que ela pede. Esse disco foi muito assim”, observa.
A cantora relembra que a canção Ensacado, por exemplo, que traz a participação de Pitty, nasceu de uma vontade antiga das duas de registrarem juntas um momento artístico e afetivo.
“Já queríamos fazer algo juntas, e essa música foi a oportunidade perfeita. Além disso, ela é coautora de outra faixa, Sobre Nós. Pitty se identificou com as músicas, e isso tornou tudo mais forte”, conta.
Durante a entrevista, Josyara destacou os desafios da produção, sobretudo no enfrentamento das próprias exigências. “Sou muito perfeccionista. Às vezes, é difícil soltar. Reconhecer minhas limitações. Saber que tem um ponto em que não dá para ir além. Mas o desejo de fazer música, de tocar, é maior do que tudo isso. Não me paralisa, me move”, diz a cantora.
JOSYARA - SHOW DE LANÇAMENTO DE “AVIA” / Quinta-feira (24), 20h / Teatro Sesc Casa do Comércio / R$ 50, R$ 25 e R$ 40 (Credencial Sesc) / Classificação: Livre
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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