CLIMA DE SAUDADE
"Emoções estão todas nos extremos", Marcelo D2 fala sobre o fim da Planet Hemp
Salvador recebe a última apresentação da banda que virou símbolo da contracultura

Por Manoela Santos*

O palco da Concha Acústica vai receber, hoje, o show de despedida da banda Planet Hemp. Com início previsto para às 19h, a apresentação abre a turnê A Última Ponta. O público soteropolitano poderá acompanhar um repertório que revisita os clássicos da banda e traz também faixas do trabalho mais recente.
Formado em 1993, o grupo reúne Marcelo D2, BNegão, Formigão, Nobru, Pedro Garcia e Daniel Ganjaman para uma noite que marca o encerramento de três décadas de carreira.
Conhecido pela fusão de rap, rock, hardcore, reggae e psicodelia, o Planet Hemp construiu uma trajetória marcada por letras combativas e por um discurso que, desde os anos 1990, confronta temas como a guerra às drogas, a violência policial e a censura. Canções como Legalize Já, Mantenha o Respeito, Queimando Tudo e Dig Dig Dig (Hempa) ajudaram a consolidar a banda como símbolo de resistência cultural e de liberdade de expressão.
Sobre a turnê de encerramento, Marcelo D2 define o momento como um turbilhão de sentimentos. "Cara, é muito louco, porque a gente está muito feliz e triste demais ao mesmo tempo. Tá tranquilo, mas muito ansioso. Tá alegre, mas puto da vida. As emoções estão todas nos extremos. É um momento único na nossa vida. Foi minha primeira banda, com toda a trajetória que a gente teve. É tão bonito. Eu acho que não podia acabar de maneira diferente: no auge, como a gente está", explica.
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Trajetória
Nascida do encontro entre Marcelo D2 e Skunk, a história do Planet Hemp atravessou diferentes momentos da cena musical brasileira. Para D2, o contexto em que a banda surgiu foi decisivo. Para ele, nos anos 1990, o país ainda vivia sob os efeitos da ditadura recém-encerrada e a sensação de normalidade era ilusória.
“Parecia que estava todo mundo anestesiado. A sensação era de que com o fim da ditadura estava tudo certo. Mas não estava tudo certo. O Planet Hemp foi muito importante naquele momento, porque ajudou a formar uma porção de resistência”, recorda o músico.
Em 1994, a morte de Skunk, em decorrência da Aids abalou profundamente o grupo, quase decretando o seu fim. Foi nesse contexto que BNegão se ofereceu para assumir o vocal.
No ano seguinte, o álbum de estreia Usuário (1995), considerado uma homenagem à memória de Skunk, projetou o Planet Hemp no cenário nacional com faixas que se tornaram verdadeiros manifestos.
Dois anos depois, em 1997, os integrantes foram presos durante um show em Brasília, acusados de apologia às drogas. O episódio reforçou a imagem da banda como ícone da contracultura. Ainda naquele ano, lançaram Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára, disco que trouxe a faixa Queimando Tudo, inspiração para o título da atual turnê de despedida.
Nos anos 2000, a banda ampliou sua experimentação sonora com A Invasão do Sagaz Homem Fumaça. Após um hiato, retornou em 2022 com JARDINEIROS, trabalho que rendeu dois prêmios Grammy Latino em 2023: Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa e Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa pela faixa DISTOPIA, em parceria com Criolo.
Para Marcelo D2, a relevância do grupo ultrapassou a música e ajudou a moldar uma geração engajada cultural e politicamente. “Até hoje vejo muita gente que cresceu ouvindo a gente e que depois participou de movimentos sociais e culturais. Era uma época em que a liberdade de expressão era uma pauta real e nós nos colocamos de frente nisso”, afirma.
Ponto final
Apesar da importância da banda em sua trajetória, Marcelo D2 admite que não deseja mais a confrontação constante que marcou o grupo. “Isso fez parte da minha juventude. Eu agora quero lutar de outra forma, usar outras ferramentas”, explica, destacando o samba como caminho para se conectar com novas gerações e manter viva a noção de futuro ligado ao ancestral.
Ele reconhece que a decisão de encerrar o Planet Hemp logo após um trabalho premiado os deixou com um turbilhão de sentimentos entre alegria e melancolia. “Depois de lançar um disco vencedor de dois Grammys, num momento tão criativo para todos nós, a gente decidiu terminar a banda. Não tem nada equilibrado, nada controlado, tá tudo nos extremos. Mas eu acho que, para uma banda como a Planet, tinha que ser assim. Não podíamos virar cover de nós mesmos”, afirma.
Como forma de celebrar com os fãs o encerramento desse ciclo, nasceu a turnê A Última Ponta, que terá Salvador como ponto de partida. Segundo Marcelo, a escolha tem relação direta com a ligação do grupo com a cidade. “Salvador é uma fonte de inspiração, uma cidade de resistência cultural para caramba. É uma cidade que respira cultura e tudo aquilo em que a gente acredita.”
O cantor explica que cada detalhe do espetáculo está sendo pensado para oferecer uma experiência inesquecível. “A gente preparou uma abertura meia hora antes do show, muito interessante. O palco e toda a estrutura estão sendo montados com telões e recursos visuais para contar a história da banda durante a apresentação. A Concha tem esse equilíbrio entre estrutura e energia, e é isso que estamos buscando.”
O público, ele garante, pode esperar por surpresas. “Vai ter bastante surpresa, hein? O show tem quase duas horas de duração, e começa meia hora antes de a banda subir no palco. Então chega cedo, se prepara, porque vai valer a pena.”
D2 diz que a intenção é deixar uma lembrança definitiva na memória dos fãs: “A gente quer deixar essa fotografia na cabeça das pessoas. Quem tiver lá na Concha vai sair dizendo: eu vi o último show do Planet Hemp em Salvador. Foi lindo, foi do tamanho que a banda é agora”, finaliza o artista.
Serviço: Planet Hemp – A Última Ponta / 13 de setembro / 19h / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / Vendas: Sympla
*Sob supervisão do editor Eugênio Afonso
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