MÚSICA
Festival Supernada sacode Salvador com rock indie e som autoral
Evento desafia a cena e prova que o underground segue vivo

Por Júlio Cesar Borges*

O festival de música independente Supernada volta a ocupar a cena artística de Salvador hoje e no domingo, 23, no Discodelia Pub, no Rio Vermelho. O evento reúne, em duas noites, seis bandas de diferentes estados, com propostas distintas entre si e sonoridades autênticas.
Criado em 2016, o evento se consolidou como um dos principais pontos de encontro para artistas que circulam pelo circuito alternativo e buscam formar público na capital baiana. O próprio nome Supernada tem a ver com a ideia de valorizar aqueles que produzem música com os próprios esforços.
Em sua primeira edição pós-pandemia, o festival retorna sintonizado no movimento nacional de renovação do rock e da música alternativa. Para o idealizador e produtor Cairo Lima, o cenário começa a se recompor: “Estamos vendo o surgimento de novas bandas, a reabertura de casas e a chegada de um novo público influenciado por tendências digitais. A essência inegociável do Supernada continua sendo apoiar artistas que querem circular e acreditam que Salvador pode ser um ponto estratégico entre o Sudeste e o Nordeste”, ele afirma.
A curadoria foi construída a partir da circulação de bandas pelos principais festivais alternativos do Nordeste, como Feira Noise, Festival de Artes de São Cristóvão (SE), DoSol (RN) e Coquetel Molotov (PE). Cairo explica que a escolha considera tanto a força musical das propostas quanto sua conexão regional: “Buscamos artistas que estão rodando o país, que estão ativos, em turnê e que já dialogam com esse circuito. Muitas bandas chegam até nós justamente por estarem com datas marcadas em outros festivais de novembro”.
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Programação
A divisão das atrações por noite também foi pensada para potencializar descobertas. Na sexta-feira, 21, sobem ao palco Papangu (PB), Gastação Infinita (ES) e a baiana Carcarás, em uma noite marcada por progressivo, indie e sonoridades mais densas.
Já no domingo, 23, o destaque é a diversidade de timbres e ritmos com ÀIYÉ (RJ), Lau e Eu (SE/SP) e Jardim Soma (BA). “A música independente é muito fértil para ficar limitada a um único estilo. Agrupamos bandas que conversam entre si e que podem abrir caminhos para novas escutas”, exclama Cairo.
Entre as atrações, a banda paraibana Papangu celebra sua primeira apresentação em Salvador. “É uma oportunidade importante para circular nossa música em novos territórios e dialogar com outras cenas criativas. Vamos trazer faixas dos dois discos, improvisos e músicas inéditas em um show visceral, do jeito que gostamos”, afirma Rodolfo Salgueiro, tecladista do grupo.
Representante local da segunda noite, o Jardim Soma também destaca o papel do festival na cena baiana. Para Luca Bori, vocalista, integrar o evento significa fortalecer conexões: “O Supernada sempre apostou na diversidade do rock feito na Bahia. Estar ao lado de bandas de fora é uma forma de trocar experiências e manter a cena alternativa viva”.
Desafios
Apesar do caráter agregador, realizar o festival continua sendo um desafio. Cairo lembra que o Supernada é produzido sem apoio de editais ou patrocínios: “Para tornar viável, tive que atuar como produtor, designer, booker, assessor e gestor. A independência tem seu preço, mas é o que mantém esse circuito pulsando”, explica. Ele reforça que o crescimento da cena depende de incentivos culturais: “eventos independentes são hoje as únicas formas de manter um circuito de turnês”.
Além da programação musical, o Supernada inclui feira artística, VJ, intervenções visuais e fotógrafos convidados, com a intenção de criar um ambiente de convivência entre artistas e público — um dos pilares do festival.
Em 2025, a produção busca ampliar parcerias e preparar terreno para edições maiores. “Queremos crescer, ocupar espaços maiores e trazer mais artistas locais e de outras linguagens. Seguiremos guiados pelo espírito do ‘faça você mesmo’”, completa Cairo.
Festival SUPERNADA 2025 / Com Papangu, Gastação Infinita, Carcarás, ÀIYÉ, Lau e Eu e Jardim Soma / Hoje, 19h, e domingo (23), 17h / Discodelia Pub & Records / R$ 40 (dia), R$ 70 (passaporte dois dias) / Vendas: Shotgun
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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