Ivete revela bastidores do Clareou: "O samba já faz parte da minha vida”

Definitivamente é um erro colocar Ivete Sangalo em uma caixinha. Intérprete, musicista, compositora, percussionista, regente de banda, atriz, apresentadora, improvisadora nata, artista de palco, pesquisadora de ritmos e produtora de grandes espetáculos - isso só para começar -, “mainha”, acima de tudo, é uma força criativa que transita com naturalidade por universos musicais distintos. Do axé ao samba, da MPB ao pop, da percussão às baladas românticas, ela reinventa sua arte com a criatividade que só uma verdadeira diva poderia ter.

Depois de atravessar três grandes capitais brasileiras com a força de um novo projeto, Ivete retorna à sua terra como quem reencontra o próprio fôlego. Neste domingo, 30, Salvador recebe o penúltimo capítulo da turnê Ivete Clareou, espetáculo que não apenas apresentou ao país a nova aventura musical da artista, mas também revelou uma Ivete que mergulha no samba com a mesma verdade com que sempre celebrou o axé.

O projeto nasceu como uma surpresa aos fãs, quando foi anunciada uma turnê e um álbum de samba. São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre formariam o mapa afetivo desse percurso iniciado em outubro.

O nome Clareou nasceu de uma memória: Clara Nunes, artista que ecoava pela casa dos Sangalo quando Ivete ainda era menina, ouvindo seus pais cantarem sambas enquanto a família fazia dos próprios fins de semana pequenos saraus. A primeira música que ela conseguiu cantar inteira foi “Conto de Areia”, lançada em 1974, um sinal precoce de que ali nascia uma paixão que, décadas depois, a guiaria de volta.

Rota do samba

A estreia da turnê aconteceu no final de outubro na capital paulista. Sobre esse começo, Ivete relembra:

“Eu tenho uma relação muito próxima com São Paulo, e amo a cidade, a agitação e as pessoas que moram e vivem lá. [...] E do ponto de vista artístico, São Paulo só brilha comigo. Então foi muito especial ter iniciado essa turnê lá”, afirmou a artista em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE.

No palco, clássicos ganharam novos contornos rítmicos ao lado de seus próprios hits reinventados. O maestro Boris Bass, diretor do disco e do repertório, foi um dos grandes cúmplices dessa novidade:

“Boris é um cara muito talentoso e tem sido uma experiência incrível essa parceria com ele. [...] É como se eu redescobrisse músicas que já tinha uma intimidade enorme”.

Quando chegou ao Rio de Janeiro no último dia 22, Ivete transformou a Marina da Glória em um terreiro luminoso. Em horas ininterruptas, celebrou Clara Nunes, Clementina de Jesus, Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Jorge Aragão e João Nogueira logo na abertura com “Marechera”.

Assim como em São Paulo, a festa teve participações especiais: Xande de Pilares, Marvvila, Iza, Naldo Benny, Babi Iglesias, Di Propósito, Fundo de Quintal e a bateria da Grande Rio, que trouxe para o palco o samba-enredo com o qual homenagearam Ivete em 2016.

Bahia vai clarear

Agora, depois de percorrer outras regiões do país, Ivete volta a Salvador para um momento que ela própria define como inevitável:

“Não tinha como não levar o Ivete Clareou para Salvador. A Bahia é minha casa, cada apresentação que faço nesse lugar é única e indescritível. E não será diferente com esse show”.

A relação da Bahia com o samba, entrelaçada ao pagode, ao axé e aos ritmos de matriz africana, também inspira o que o público pode esperar deste penúltimo encontro da turnê:

“Estou preparando muitas coisas especiais. Vou receber convidados super especiais e estamos ensaiando nossas versões de músicas que o público vai amar”. E os convidados já estão confirmados: É o Tchan, com seu pagode dançante e samba de roda que marcaram os anos 1990, Psirico, mestre do pagode baiano puxado pela percussão poderosa e pela energia de rua, e Xanddy Harmonia, representante do pagode romântico e cheio de swing. Juntos, eles formam o trio que dividirá o palco com Ivete no WET, uma tipicamente baiana, onde cada vertente do pagode encontra espaço para brilhar.

Mas e o carnaval? Se o público baiano quiser saber se essa imersão no samba já influencia o que ela prepara para a desta em 2026, a resposta é clara:

“O samba já faz parte da minha vida e das minhas referências, está tudo interligado”.