MÚSICA
Multiartista baiana Calu Manhães apresenta pocket show no Pelourinho
Show “Essência” leva coreografia, ladainha e afrobeat ao palco do Sesc
Por Grazy Kaimbé*

“Eu me considero uma multiartista, gosto de dançar, faço aula de dança, levo isso para os shows. Estudo um pouco de piano, violão, pandeiro, percussão... Mas meu foco principal na música é o canto, de fato”, diz Calu Manhães, 24, uma das vozes em destaque na nova cena musical aqui da Bahia, que levará ao palco do Sesc Pelourinho, nesta quinta-feira, 17, às 20h, o show Essência, em formato pocket.
O espetáculo intimista antecipa o lançamento do seu EP Calu Manhães ao Vivo, que sai ainda este ano. A artista assina a direção musical do show ao lado do produtor musical Cássio Nobre, com quem ela trabalha desde o início de sua carreira. Diz Calu que o produtor teve papel fundamental na construção do show e no desenvolvimento musical, combinando elementos das tradições populares que ajudaram a moldar a sonoridade do espetáculo.
“Cássio me conhece desde pequenininha, sempre tivemos um diálogo muito fluido. Eu trazia o novo, e ele, um pesquisador de samba chula e tradições populares, trazia esse conhecimento. Ele toca viola de dez cordas, viola machete... Então, é como se ele trouxesse a raiz que eu amo, e eu fosse inserindo o pop, o novo. A gente dirige o show juntos, justamente fazendo essa mesclagem”, detalha a artista.
Após a apresentação no Sesc Pelourinho, Essência segue para o Teatro Gamboa, em uma edição especial que amplia a proposta do espetáculo. Além do show, a artista irá conduzir uma contação de histórias e uma roda de conversa, em que compartilha com o público suas memórias, inspirações e processos criativos.
Amanhã, a cantora dividirá o palco com o cantor Fatel, vocalista da banda A Trupe Poligodélica. O artista, original de Juazeiro, também carrega afetos e afinidade artística em seu repertório e identidade musical. Segundo Calu, foi a partir da interpretação conjunta da canção Béradêro, de Chico César, que ela percebeu a sintonia entre as suas vozes e, a partir daí, decidiu retomar essa parceria no show desta quinta-feira.
“Desde que cantamos juntos essa música, percebi que tínhamos uma linguagem em sintonia. Ele tem uma relação forte com o aboio também, então essa presença faz muito sentido nesse espetáculo”, observa Calu.
E por falar em canções, o repertório do show inclui composições autorais da artista, canções de domínio público adaptadas por Calu e releituras afetivas, como Flor de Maracujá, eternizada e bastante conhecida na voz de Gal Costa, e Canoa, canoa, de Milton Nascimento.
Há ainda espaço para obras de compositores contemporâneos, como Joana Terra. Além disso, a artista faz questão de destacar a canção Limoeiro, composta em parceria com Dona Toninha, puxadora de ladainhas do Terno das Almas – tradição de Igatu, distrito do município de Andaraí, aqui na Bahia. A voz de Dona Toninha também abre a faixa em um sample potente, seguido por uma batida afrobeat. “Cada canção tem uma cena pensada. Tem coreografia, tem luz, tem elementos do circo, do teatro, da dança”, conta Calu.
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Ritmos e identidade
O destaque da cantora para a canção Limoeiro não foi por acaso: a artista é natural da mesma cidade de Toninha. Calu cresceu entre as ladainhas do Terno das Almas, as festas de reisado, o teatro comunitário e os discos de Marisa Monte, Caetano e Milton Nascimento que rodavam em casa.
“Todas essas referências são implementadas em suas composições artísticas atualmente. Sempre estive muito rodeada pela arte local: Terno de Reis, Terno das Almas, capoeira... Tudo isso me atravessou desde cedo. Também havia o Circo do Capão, um grupo de teatro na região. Eu mesma fazia teatro na escola comunitária Brilho do Cristal. Todas essas experiências foram formando minha base artística”, complementa a artista.

Aos poucos, Calu também foi sendo atravessada por outras vertentes musicais e manifestações culturais, como o coco, o maracatu, as rodas de capoeira — prática que ela mantém há mais de 12 anos — e pelo pagodão baiano, que chegava pelas caixas de som da rua.
“Era uma mistura bem eclética entre o que vinha da rua e o que meus pais colocavam pra tocar em casa. Com isso, fui me encantando por Pernambuco, pelo maracatu, cavalo-marinho... Minha mãe toca flauta transversal, tenho um tio que toca cello (violoncelo). Não cheguei a ter músicos profissionais na família, mas sempre houve muita musicalidade ao redor”, enfatiza a cantora.
Segundo a artista, o show Essência une o popular ao pop, a tradição ao afrobeat, as ladainhas ao jazz. “Eu quis construir um espetáculo que refletisse minha trajetória e também provocasse um diálogo com o público jovem sobre a força e a atualidade da cultura popular brasileira”, diz a cantora sobre o show.
Calu Manhães ao Vivo
Após essas apresentações em Salvador, a artista se prepara para lançar seu mais novo álbum, intitulado Calu Manhães ao Vivo. O EP contará com oito faixas e vídeos individuais de cada música, que serão lançados em seu canal no YouTube.
O produto audiovisual foi gravado ao vivo durante a apresentação do show Essência em 2024, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. “Pra mim, foi a realização de um sonho. Ver essas ideias, que existiam só na minha cabeça, ganhando vida no palco da Sala do Coro foi muito emocionante. Misturei o circo, a dança, o teatro e a música. É como se toda a minha trajetória artística estivesse ali. Registrar isso era essencial pra mim”, relembra a artista.
Sem data definida para o lançamento, Calu preferiu manter o suspense em torno do novo EP. “Como é um registro do show, vamos lançar tudo junto. E mesmo que o show se chame Essência, preferimos não nomear o EP assim — ele será Calu Manhães ao Vivo. O álbum Essência ainda virá futuramente, como outro projeto”, afirma.
Nas apresentações do show Essência, Calu Manhães diz querer provocar conexões entre o palco e a plateia. Para ela, o espetáculo é um convite para um retorno às raízes, ao reconhecimento da memória e da cultura popular como força vital.
“O que eu espero é que, a partir da conexão com a minha essência, com aquilo que trago no show, as pessoas possam também se reconectar com a própria essência. Que consigam se lembrar do que realmente tem valor em suas vidas, reconhecer suas origens e se aproximar da cultura popular de raiz do Brasil com um novo olhar”, finaliza.
Calu Manhães no show ‘Essência’ / Amanhã, 20h / Teatro Sesc-Senac Pelourinho (Largo do Pelourinho, 19 - Centro Histórico) / R$ 40 e R$ 20, R$ 32 (credencial Sesc)
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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