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Samba de roda e solidariedade animam ação cultural gratuita em Itapuã

Coletivo Nosso Kilombo promove distribuição de arroz doce, rodas de samba e manifestações culturais afro-indígenas em Itapuã

Por Grazy Kaimbé*

26/08/2025 - 4:23 h
Iniciativa tem levado às ruas de Itapuã rodas de fuxico, conversas com mestres griôs e manifestações tradicionais
Iniciativa tem levado às ruas de Itapuã rodas de fuxico, conversas com mestres griôs e manifestações tradicionais -

Para Verônica Raquel Mucúna, de 40 anos, sambadeira e liderança do Coletivo Nosso Kilombo, arroz doce e samba de roda simbolizam afeto e resistência. E é com o objetivo de levar amor, abundância e felicidade que na próxima sexta-feira, dia 29, às 18h, a Praça da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Itapuã, receberá a ação Arroz de Graças – Partilhar para Reunir, que distribuirá alimento, com muito samba, para cerca de 200 pessoas, entre moradores de rua e a comunidade local.

A ação faz parte do projeto LEVANTA POVO! Sambas, Artesanias e Resistências, idealizado pelo coletivo em 2018, durante a tradicional Festa de São Tomé, que acontece no mês de dezembro.

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De lá para cá, a iniciativa tem levado às ruas de Itapuã rodas de fuxico, conversas com mestres griôs e manifestações tradicionais, como os sambas de boi Bumbapuã e Boca de Ouro, herdados de gerações anteriores e hoje mantidos pelo coletivo.

Mucúna relembra que, naquela festa em 2018, quando o projeto surgiu, sobrou bastante arroz e as mulheres e integrantes do grupo decidiram levar a quem mais necessitava no momento.

“Mesmo distribuindo entre os moradores, ainda tinha bastante e não tínhamos onde guardar. Foi então que um integrante do coletivo sugeriu que a gente levasse para pessoas em situação de rua, já que ele tinha contato com alguns grupos. Saímos de madrugada, passamos por vários pontos de Itapuã até chegar ao Abaeté. Lá, além de distribuir, tiramos os instrumentos do carro e começamos a tocar samba de roda. Foi emocionante: pessoas choraram, contaram suas histórias. Eu entendi, naquele momento, que o arroz não tinha sobrado — ele tinha rendido para algo maior”, conta.

A partir desse momento, o projeto se expandiu, passando a ser realizado uma vez por mês, sempre às sextas-feiras: arroz doce com samba de roda. Tornou-se uma tradição para o coletivo e uma alegria para as pessoas que recebem a ação.

Durante o período da pandemia, as atividades foram suspensas, e o coletivo ainda se chamava “Meu Kilombo”. Mas um episódio marcou a vida dos participantes desse projeto cheio de afeto: “Durante uma dessas distribuições, Flora (nome fictício), uma mulher em situação de rua e artista à margem, cantou conosco e, em uma das músicas, trocou ‘meu quilombo’ por ‘nosso quilombo’. Foi ali que entendemos que não fazia sentido ser ‘meu’ e sim ‘nosso’. O nome nasceu dela”, relembra.

O samba que alimenta

Para que tudo aconteça como planejado, ela conta que são necessários cerca de dois kg de arroz, o básico, e um bom leite de coco, para que o doce fique com um sabor inconfundível. Ainda de acordo com ela, a meta deste ano é atender cerca de 200 pessoas, não apenas moradores da comunidade e pessoas em situação de rua, mas também quem quiser participar do samba de roda desta sexta-feira. “O Arroz de Graças não é apenas sobre comida. Não temos como alimentar todos que sentem fome diariamente, mas acreditamos que o samba de roda alimenta o corpo e também a alma, o espírito e a mente”, disse.

Atualmente, cerca de dez pessoas fazem parte da ação, cada uma com um propósito. Mas, como tudo neste país, há desafios — e com o coletivo não é diferente.

A ação faz parte do projeto LEVANTA POVO! Sambas, Artesanias e Resistências
A ação faz parte do projeto LEVANTA POVO! Sambas, Artesanias e Resistências | Foto: Divulgação

“Sabemos que os coletivos têm dificuldades, mas seguimos devagarinho, fortalecendo o território e a cultura popular. Um dos nossos desafios é reunir pessoas para tocar no samba de roda. Já suspendemos ações porque não queríamos que fosse só a entrega do arroz, o samba é parte essencial. Outro desafio é a falta de materiais, como panelas próprias, que muitas vezes precisamos pegar emprestadas. O coco também está caro. Mas seguimos acreditando que vamos conseguir manter e ampliar o projeto”, acrescenta.

Samba da roda

Um dos principais objetivos do Coletivo Nosso Kilombo é preservar e valorizar tradições culturais afro-indígenas por meio de eventos como os sambas de roda. Nesta sexta-feira, a animação ficará por conta do próprio Coletivo, como de costume. Na percussão, participam Mestre Aberrê, Afonso, Maré, Baden e África. As sambadeiras são Verônica, Janaína, Juvênia, Duda Maria e Karise.

“O nosso coletivo cuida dessas tradições com responsabilidade ancestral, através de rituais que conduzem o nascimento de outros bois, rodas, oficinas intergeracionais e performances que mantêm viva a oralidade, o canto, o toque e o corpo em movimento”, defende Mucúna.

Um dos principais objetivos do Coletivo Nosso Kilombo é preservar e valorizar tradições culturais afro-indígenas
Um dos principais objetivos do Coletivo Nosso Kilombo é preservar e valorizar tradições culturais afro-indígenas | Foto: Divulgação | Fabiola Campos

“Os sambas de boi são patrimônios vivos não apenas do território de Itapuã, mas de quase todo o território baiano, que tem o samba de roda como expressão de resistência. Sendo o Bumba Meu Boi a representação do povo que se levanta e resiste, essas duas entidades se fundem, tornando-se complementares. São expressões que atravessam o tempo, carregando memória, afeto e luta”, complementa.

A ação desta sexta também contará com a presença do Boi Sambador Boca de Ouro e do Boi Yapo, do Espaço Cultural de Capoeira Okan, acompanhado de Mestre Cristal e dos adolescentes do projeto social que ele coordena. Algumas integrantes das Ganhadeiras também estarão presentes, ainda que, segundo Verônica, sem as indumentárias tradicionais.

“A presença dos bois, o Bumbapuã, que esteve aos nossos cuidados por um tempo, e o Boca de Ouro, que nos foi doado e reformado por nós, não é apenas artística: é simbólica, espiritual e educativa, mobilizando crianças, jovens e idosos em torno do legado do samba de roda e da manutenção da cultura local”, diz.

E não é só o samba de roda que o coletivo valoriza: “Nosso trabalho também se conecta com outras celebrações tradicionais de Itapuã, como o 2 de fevereiro e a lavagem do bairro. O Nosso Kilombo atua como guardião dessas tradições. No ano passado, inclusive, recebemos o estandarte de São Tomé das mãos de Dona Denise, de 90 anos”, relata Mucúna.

A programação continua

A programação do projeto LEVANTA POVO! Sambas, Artesanias e Resistências segue até dezembro. Agora em setembro, será realizada a Caminhada Patrimonial – Caminhar para Convocar, com estudantes de escolas públicas de Itapuã, com foco na preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural.

O encerramento acontece no dia 20 de dezembro, onde tudo começou, com o Cortejo Levanta Povo – Celebrar para Insurgir, durante a Festa de São Tomé, reunindo cortejo, figurinos, samba de roda, comidas e toda a tradição popular que marca o bairro.

A liderança define Nosso Kilombo como guardião das tradições de Itapuã, além de buscar despertar a comunidade para a importância de manter vivas as festas populares. “Festa popular quem faz é o povo”, reforça Verônica.

Serviço

Arroz de Graças – Partilhar para Reunir

Data: 29 de agosto (sexta-feira)

Horário: 18h

Local: Praça da Igreja da Nossa Senhora da Conceição de Itapuã (3ª Travessa do Gravatá, 93 – Itapuã)

Aberto ao público

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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Tags:

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