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Polícia confirma ligação de vereadores baianos investigados com o BDM

Investigação revela uso de posto de combustíveis e empresas de fachada para movimentar bilhões

Luan Julião

Por Luan Julião

25/09/2025 - 16:09 h | Atualizada em 25/09/2025 - 17:20
Vereador Ailton Leal (PT), de Santo Estevão e vereador Marcão do Pipa (PSB), de Jaguarari
Vereador Ailton Leal (PT), de Santo Estevão e vereador Marcão do Pipa (PSB), de Jaguarari -

A Polícia Civil da Bahia deflagrou nesta quarta-feira, 24, a Operação Anátema, uma ofensiva contra o crime organizado que resultou na prisão de políticos e na apreensão de armas, veículos e dinheiro em quatro estados: Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. A ação é coordenada pelo Departamento de Repressão e Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (Draco) e conta com a participação de mais de 170 policiais civis.

De acordo com as investigações, o grupo criminoso alvo tem ligação direta com o Bonde do Maluco (BDM), facção baiana associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa paulista. O esquema movimentou mais de R$ 4,3 bilhões em operações financeiras ilícitas, envolvendo o tráfico de drogas, de armas e a lavagem de capitais.

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Operação Anátema, uma ofensiva contra o crime organizado
Operação Anátema, uma ofensiva contra o crime organizado | Foto: Divulgação / Polícia Civil

Vereador preso e bens bloqueados

Entre os alvos da operação está o vereador Ailton Leal (PT), de Santo Estevão, que foi preso. Ele é irmão de um traficante de alta periculosidade, conhecido como Piá, morto em confronto com a polícia em 2017. Em 2024, Leal foi eleito com 963 votos.

Vereador Ailton Leal, do Partido dos Trabalhadores (PT)
Vereador Ailton Leal, do Partido dos Trabalhadores (PT) | Foto: Reprodução / Redes Sociais

A polícia aponta que um posto de combustíveis no município, administrado pelo parlamentar, era usado como instrumento de lavagem de dinheiro. O estabelecimento foi fechado e multado. No local, foram apreendidos cerca de R$ 18 mil em espécie, cheques, contratos e identificados fortes indícios de sonegação fiscal, que serão investigados pela Secretaria da Fazenda (Sefaz).

Outro político envolvido é o vereador Marcão do Pipa (PSB), de Jaguarari, que obteve 1.109 votos em 2024. Um imóvel ligado a ele foi alvo de mandado de busca e apreensão, com a localização de celulares e documentos.

Além deles, também foram identificados na estrutura criminosa uma ex-candidata a vereadora e o irmão de um ex-vice-prefeito, ambos alvos de busca; ambos presos.

Estrutura criminosa dividida em três núcleos

Segundo a Polícia Civil, a facção investigada se dividia em três núcleos:

  • Operacional: responsável pelo tráfico de drogas, armas e logística do material ilícito;
  • Financeiro: encarregado da coleta de dinheiro e lavagem de capitais por meio de empresas de fachada;
  • Político: formado por lideranças que usavam os recursos para obter influência em partidos e cargos públicos.
Estrutura do crime
Estrutura do crime | Foto: Divulgação / Polícia Civil

A delegada Vitória Brito, da Coordenação de Investigação Financeira e Recuperação de Ativos, explicou como a análise bancária e fiscal permitiu desarticular o esquema.

"Essa investigação teve como pontapé inicial a quebra do sigilo bancário e fiscal. Ela começou por meio da análise, tanto bancária quanto fiscal, de alguns investigados inicialmente.

Por meio dessa movimentação financeira, entre entradas e saídas de dinheiro, foi possível identificar esse esquema de lavagem de capitais e novos integrantes da organização criminosa."

"A partir da movimentação financeira, partimos para outros meios de prova e, com eles, conseguimos identificar tanto as pessoas jurídicas de fachada quanto as pessoas efetivamente envolvidas no apoio operacional — fazendo o transporte de drogas, de armas e do dinheiro em espécie, que era recolhido nos pontos de drogas e armas e depositado nas contas bancárias dos principais investigados da operação."

Sobre a divisão de tarefas, a delegada detalhou:

"O primeiro núcleo seria o núcleo operacional. As buscas e prisões foram realizadas principalmente em Salvador e na região metropolitana. Eram pessoas que atuavam nos pontos de drogas e de armas, trabalhando no fornecimento, na ocultação, na coleta das drogas e armas, na venda e no recolhimento de dinheiro. Era, portanto, a parte mais operacional, a parte de rua."

"A partir daí, o dinheiro em espécie era colhido e depositado nas contas dos principais investigados. Esses depósitos não eram feitos nas contas pessoais deles, mas sim em contas de pessoas jurídicas de fachada criadas para dar suporte a esse sistema de lavagem de dinheiro."

"Por meio desses dois esquemas — coleta de drogas e lavagem de dinheiro — chegou-se também ao núcleo político, formado por pessoas que utilizaram o dinheiro recolhido para ingressar em partidos políticos e conquistar poder de interferência e influência na região, especialmente nas cidades de São Estevão e Jaguari."

Posto de combustíveis como ponto central do esquema

A investigação revelou que o posto de combustíveis em Santo Estevão era uma peça-chave da engrenagem criminosa. O delegado Fábio Lordelo, diretor do Draco, destacou que o negócio foi adquirido ainda com recursos ilícitos do traficante Piá, irmão do vereador preso.

"Quando ele [Piá] faleceu, o posto já estava implantado e passou à gestão direta e indireta do indivíduo que foi preso. A ligação é extremamente explícita na investigação, está muito bem demonstrada, e ele deu continuidade a esse fluxo financeiro."

"Inclusive, a Receita Estadual acompanhou a fiscalização no posto quando cumprimos a busca e apreensão. Convidamos o órgão justamente para isso, e ele fez uma análise, identificando problemas de sonegação fiscal, que serão alvo de outra investigação específica. Mas é importante deixar claro: o posto não era um empreendimento de fachada. Era um empreendimento lícito, que funcionava normalmente, mas que também era usado para a lavagem de capitais."

A delegada Vitória Brito também reforçou a infiltração política do grupo.

"A participação do vereador começou, de fato, em 2017, quando Piá (irmão do vereador) morreu e deixou o posto de combustível para a ex-mulher. Ao longo das investigações, foi possível identificar que o verdadeiro proprietário e gestor do posto era o vereador."

"Por meio da quebra de sigilo bancário e fiscal, identificamos que o posto de combustível era utilizado para lavagem de dinheiro decorrente da atividade ilícita. Ele atuava utilizando a conta da pessoa jurídica do posto para misturar atividade lícita com a ilícita, ligada ao tráfico de drogas e de armas."

"Isso reflete o que vem acontecendo não só em São Estevão, mas em todo o Brasil: facções e organizações criminosas têm tentado se infiltrar no sistema político, alcançar cargos cada vez maiores e atuar diretamente na manutenção do tráfico de drogas, de armas e da lavagem de dinheiro por meio da interferência política."

"De certa forma, quando alcançam um cargo político, ficam blindados até certo momento e se sentem mais livres para atuar cada vez mais nessa atividade ilícita de lavagem de dinheiro."

Facção ligada ao BDM e PCC

A Polícia Civil destacou que a organização criminosa tem vínculos diretos com o BDM, braço do PCC na Bahia.

BDM é o braço do PCC na Bahia
BDM é o braço do PCC na Bahia | Foto: Reprodução

"Até o momento, foi identificado que a organização financeira seria vinculada ao BDM, que é a influência do PCC aqui na Bahia. No entanto, não se descarta a possibilidade de outras interferências e da participação de outras organizações criminosas", explicou a delegada Vitória Brito.

O delegado Fábio Lordelo ressaltou que os investigados ostentavam uma vida de luxo, distanciando-se do perfil típico de criminosos de periferia.

"Esses indivíduos estão frequentando, digamos assim, os melhores restaurantes, fazendo as melhores viagens e morando nos melhores condomínios. Esse é o público da organização criminosa. Não é aquele cidadão comum que mora em determinada região; ele é objeto dessa organização criminosa e, na verdade, também é usado por ela. A organização criminosa está em outra situação de ataque."

"Ela se sustenta nesse tecido social que, aparentemente, a protege, utilizando também o poder público para ampliar essa rede de proteção. Assim, vão criando camadas justamente para manter a atividade ilícita. Por isso, o trabalho da polícia é árduo nesse sentido: destruir essas camadas para identificar os verdadeiros líderes dessa organização criminosa que causa tanto dissabor à nossa sociedade."

Resultado parcial da operação

Até o momento, a Operação Anátema cumpriu sete mandados de prisão temporária, além de realizar três prisões em flagrante. Também foram apreendidos:

  • 12 veículos
  • 5 armas de fogo
  • 1 arma de fabricação artesanal
  • R$ 30 mil em espécie
  • munições, balaclavas, coldres e câmeras de monitoramento

A operação segue em andamento, com bloqueio de bens e valores dos investigados.

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Tags:

bdm crime organizado facção PCC Polícia tráfico

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