POLÍCIA
Por que o Comando Vermelho não consegue entrar no Rio Grande do Sul? Entenda
Facção Comando Vermelho tem ampla atuação no território brasileiro

Por Redação

A facção Comando Vermelho (CV), criada na década de 1970, possui atuação em 23 dos 27 estados do Brasil, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A organização criminosa não atua apenas em penitenciárias do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
Uma megaoperação deflagrada no dia 28 de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, deixou mais 100 mortos e feridos, teve por principal objetivo desarticular a atuação da facção na região.
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Especialistas ouvidos pelo G1 contaram a razão pela qual o CV não tem atuação em solo gaúcho. Para o professor da Escola de Direito da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, uma das razões é que no estado há um "ecossistema criminal próprio".
"Esses grupos se organizaram antes da expansão nacional do Comando Vermelho e acabaram ocupando o espaço de poder criminal de forma autônoma", explica Azevedo.
O juiz Sidinei Brzuska, explicou que houve uma expansão das facções no interior do Rio Grande do Sul.
"Praticamente todas as prisões mais relevantes são dominadas. Pararam de disputar pontos de tráfico aqui [Porto Alegre] e foram dominar cidades que ainda não tinham crime organizado, ampliaram a base territorial. Não ficou vácuo de poder para gente de fora vir aqui ocupar", pontuou.
Outro fator que contribuiu para barrar o avanço do Comando Vermelho é o alto número de facções com atuação no estado gaúcho.
"A multiplicidade de grupos locais cria um campo competitivo que torna difícil a hegemonia de uma organização nacional. Cada facção ocupa nichos específicos [bairros, presídios, municípios] e constrói redes próprias de proteção e financiamento", acrescentou Azevedo.
Segundo o jornalista Renato Dornelles, uma das razões para a não atuação é a identidade cultural.
"A dificuldade do CV em entrar no sistema penitenciário gaúcho tem muito disso. É uma espécie de pacto informal das facções daqui, para nenhuma ceder espaço para facção de fora. Também é uma questão cultural", explicou.
Brzuska endossa a tese do jornalista: "Nós somos um estado de forte tradição cultural, que se consolidou ao longo de séculos, e isso se reflete na organização do crime também".
O diretor do Instituto Cidade Segura, Alberto Kopittke, ressalta que, embora não haja bandeira fincada do Comando Vermelho no Rio Grande do Sul, isso não impede alianças com as organizações locais.
"Especialmente no fornecimento de droga. Prova disso foi a aceleração da guerra em 2016 e 2017, quando a gente teve o que eu tenho chamado de 'guerra civil nacional', entre os dois grupos [Comando Vermelho e PCC], e houve uma disparada também aqui no estado", diz Kopittke.
A Secretaria da Segurança Pública do RS informou que o estado é "notabilizado por características socioculturais muito peculiares" e que "está distante do centro do país e de suas principais rotas logísticas".
"Esses dois fatores socioculturais e geopolíticos se somam a ação vigilante e contundente dos órgãos de segurança pública gaúchos", diz a pasta.
Nota da Secretaria de Segurança Pública do RS
"O Rio Grande do Sul é um estado notabilizado por características socioculturais muito peculiares. Igualmente, está distante do centro do país e de suas principais rotas logísticas de bens e serviços que, por óbvio, são utilizadas também por narcotraficantes.
Esses dois fatores socioculturais e geopolíticos se somam a ação vigilante e contundente dos órgãos de segurança pública gaúchos para sinalizar as prováveis causas para a ausência de organizações criminosas como o CV e o PCC em nosso estado.
Ainda assim, é importante sinalizar que a busca de uma inferência causal para a não ocorrência de um dado fenômeno é tarefa especialmente difícil e recomenda a permanente apreciação do cenário posto de modo que possamos manter o RS na vanguarda da segurança pública brasileira."
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