POLÍCIA
Williams Nogueira: jovem encontrado esquartejado expõe guerra entre BDM e CV
Homem foi retirado à força de uma celebração religiosa e executado por traficantes

Por Luan Julião

O desaparecimento de Williams Nogueira, 28 anos, mobilizou familiares e moradores de Simões Filho durante todo o fim de semana, mas o desfecho expôs novamente a brutalidade com que facções armadas têm expandido o domínio na Região Metropolitana de Salvador. O jovem foi encontrado esquartejado na segunda-feira, 17, em uma área de mata conhecida como Aratu, dois dias após ser sequestrado durante uma cerimônia religiosa.
Segundo familiares, Williams participava de um ritual religioso em um terreiro de candomblé no último sábado, 15, quando um grupo de traficantes do Bonde do Maluco (BDM) fortemente armados invadiu o local. Eles determinaram que todos entregassem os celulares para “vistoria” e, durante a ação, decidiram levar Williams à força.
Antes de ser sequestrado, os bandidos teriam obrigado o jovem a fazer com a mão o sinal de três dedos, gesto associado ao grupo criminoso.
Williams estava no terreiro ao lado da mãe e do irmão, que afirmam que ele não tinha qualquer envolvimento com o crime organizado. Apesar disso, o jovem morava no Nordeste de Amaralina, área conhecida pelas forças de segurança como um dos principais redutos do Comando Vermelho (CV) na Bahia, e essa informação teria sido usada pelos sequestradores como justificativa para submetê-lo ao chamado “tribunal do crime”.
O BDM e o CV travam uma disputa constante por áreas de influência em Salvador e em cidades da RMS. Nas regiões onde atuam, é comum que criminosos usem julgamentos clandestinos para determinar punições que vão de tortura à execução.
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Williams trabalhava na Secretaria de Turismo da Bahia. A família chegou a percorrer áreas de Simões Filho em busca de informações, mas o paradeiro só foi descoberto na segunda-feira, em uma localidade conhecida como Aratu, onde moradores encontraram as covas.
Crime semelhante
Casos de esquartejamento atribuídos a facções não são isolados. Em outubro, uma operação policial em Salvador, deflagrada após o assassinato do entregador Augusto César dos Santos Borges, de 28 anos, resultou na morte de um suspeito e na prisão de outro.
De acordo com a Polícia Civil, os dois homens eram apontados como executores diretos do crime contra Augusto César, que também morava no Nordeste de Amaralina e foi morto após entrar, durante uma entrega, em uma área controlada pelo BDM no centro da cidade. As investigações da 3ª Delegacia de Homicídios (BTS) indicam que ele foi sequestrado, torturado e executado como suposta retaliação pelo local onde vivia.
O corpo do entregador foi encontrado em março deste ano, também esquartejado e colocado dentro de sacos plásticos, na Avenida Reitor Miguel Calmon, no Vale do Canela. Os suspeitos, um preso em Nazaré e outro morto em confronto na Barroquinha, eram considerados pela polícia como os responsáveis diretos pela execução.
A família de Augusto relatou ainda que ele trabalhava com eventos, fazia entregas por aplicativo e planejava retornar à Espanha, onde já havia morado, justamente por temer a violência em Salvador.
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