CÂMARA DE SALVADOR
Polêmica do bloco ‘As Muquiranas’ domina sessão pós-carnaval
Vereadores querem que debate sobre o bloco e outras questões do carnaval sejam tratadas pela Câmara
Por João Guerra
Na sessão ordinária desta segunda-feira, 27, da Câmara de Municipal de Salvador, a primeira após o carnaval, a folia momesca pautou de forma acalorada as discussões dos vereadores, sobretudo a polêmica de membros do bloco “As Muquiranas” envolvidos em episódios de assédio e vandalismo nos dias de festa. O presidente da agremiação, Washington Paganelli, estava no Plenário Cosme de Farias acompanhado a sessão.
O presidente da Casa, vereador Carlos Muniz (PTB), fez uma provocação à Frente Parlamentar do Carnaval para que os edis, no âmbito do colegiado, discutissem temas pertinentes a temas dos dias de folia, não apenas a questão do “Muquiranas”, como a situação dos cordeiros.
“Sobre o bloco ‘As Muquiranas’, entendemos que essa questão deve ser tratada no âmbito das câmaras de vereadores, por se tratar de interesse local, não que a Assembleia não deva debater o tema, mas a legislação é municipal. Manifestamos ainda a nossa preocupação com os cordeiros de blocos. Os pagamentos, a gestão dos equipamentos, os lanches deixam ainda muito a desejar. É extremamente desnecessária a formação de filas enormes para o recebimento dos dias trabalhados. A nossa Casas não deve e não pode ficar fora dessa discussão”, argumentou o chefe do Legislativo soteropolitano.
Ele solicitou que o presidente da Frente Parlamentar do Carnaval, vereador Henrique Carballal (PDT), estabeleça um debate para que se ache uma solução perene para essas questões. “Não podemos permitir esse tipo de tratamento degradante, dispensado aos trabalhadores e trabalhadoras”.
Carballal, então, convidou os membros do colegiado para se reunir na manhã desta quarta-feira, 1º, com o objetivo de avaliar o carnaval que passou e iniciar as tratativas para a folia de 2023. Ele lembrou então que já apresentou um projeto de lei na Câmara proibindo as armas de água que são utilizadas durante o carnaval.
“Gostaria de lembrar que vereadores que agora são deputados e estão na Assembleia apresentando projeto contra essas armas, votaram contra o meu projeto na Comissão de Constituição e Justiça. Hoje tem um monte de gente se aparecendo nesse processo e invertendo a lógica (...) Todo mundo agora quer se meter nessa questão. Não tenho problema nenhum em reapresentar esse projeto. Precisamos entender que violência contra mulher e contra qualquer minoria e qualquer segmento precisa ser combatido por esta Casa. E de forma institucional, nós devemos fazer isso”, apontou o edil, se referindo ao projeto de lei apresentado pela deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), para que as armas de água utilizadas pelos foliões do bloco nos dias de carnaval sejam proibidas.
O pedetista lembrou que a proposta apresentada por ele há oito anos partiu de uma provocação dos próprios dirigentes do Muquiranas. Para Carballal, não se deve criminalizar o bloco, mas os responsáveis pelos atos de violência.
“O bloco ‘As Muquiranas’ é formado por trabalhadores: porteiros, vigilantes... Nós não podemos tratar a instituição, que não recebe dinheiro público, e que levam os trabalhadores a se divertir, como uma instituição criminosa. O que precisamos fazer é que os criminosos sejam punidos (...) Não é proibindo o bloco nem as armas que vai acabar com a violência contra a mulher. Isso é demagogia. Precisamos tratar dessa questão com seriedade”.
Na mesma linha, Arnando Lessa (PT), defendeu a tradição da agremiação. “Não façamos com As Muquiranas o que foi feito com o Apache do Tororó. Começou uma campanha de estigmatização do bloco, que fez com que ele deixasse de existir. Com ‘As Muquiranas’, é preciso que se ache uma solução usando a razão, não na emoção, e que os responsáveis por atos de violência sejam punidos”.
Já a líder da oposição, a co-vereadora Laina Crisóstomo (PSOL), destacou que apenas tirar as armas de água não resolve. “O problema é estrutural. É sobre machismo, patriarcado e controle de corpos. Os nossos corpos não aguentam mais. Porque não só atiram água na gente, nos forçam beijos, tocam nas nossas partes sem consentimento e isso não é só do carnaval de 2023, mas de todos os carnavais (...) Em 2018, quando lançamos o manifesto “Um Carnaval sem Muquiranas”, é porque a gente não aguenta mais dizer que é tradição violentar mulheres e que se fantasiar de mulher prolifera o ódio e a misoginia. A gente não tolera mais isso. É depredação do patrimônio público, como o que aconteceu com o ponto de ônibus”, defendeu.
A edil lamentou ainda a situação vivenciada pelos cordeiros. “Viveram um terror antes, durante e depois do carnaval. Vivemos em uma capital onde a taxa de desemprego é alta e as pessoas precisam se submeter a esses trabalhos desumanos. O carnaval é lindo e de ocupação de rua, mas não dá para achar que todo mundo está gostando da festa ou conseguindo trabalhar”, apontou.
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