JORNADA DE TRABALHO
‘Esquerda deu bola dentro com a PEC 6X1’, diz especialista
"Consegue pautar os trabalhadores em uma pauta que é pragmática", avalia Claúdio André
Por Anderson Ramos
Desde o início da semana não se fala em outra coisa no Brasil senão a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que pede o fim da jornada de trabalho de seis dias por semana por um de folga (6x1).
O assunto é um dos mais comentados nas redes sociais e o abaixo-assinado idealizado pelo movimento VAT (Vai Além do Trabalho) já ultrapassou 2 milhões de assinaturas.
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O que também chamou atenção foi o barulho feito pela esquerda e o silêncio da direita. Dos 134 deputados federais que, até o momento, assinaram a lista para que o texto seja protocolado na Câmara dos Deputados, a grande maioria faz parte da base do governo Lula (PT). Até o próprio Executivo, por meio do Ministério do Trabalho, se manifestou sobre o tema, afirmando que a mudança deve ser debatida entre trabalhadores e empregadores.
Vale destacar que a responsável por colher as assinaturas é a parlamentar Érika Hilton (PSOL-SP) e que são necessários 171 apoios para que o texto possa ser pautado no Congresso.
Enquanto isso, a maioria dos representantes mais alinhados ao bolsonarismo se calaram. O ex-presidente Jair Bolsonaro e nenhum dos seus filhos fizeram comentários. Um dos poucos que falaram sobre o assunto foi Nikolas Ferreira (PL-MG). Em um vídeo publicado nas redes sociais, o legislador mineiro colocou em dúvida a eficácia da PEC, chamou de populista, mas também classificou como um tema “complexo”.
Para o cientista político Cláudio André, embora seja um debate antigo na esquerda, a redução na jornada de trabalho ganhou força diante das redes sociais porque pauta os trabalhadores de uma maneira geral e vai gerar discussões por parte do setor patronal, já que estudos apontam a sua viabilidade econômica.
“É uma bola dentro mesmo porque a esquerda consegue pautar os trabalhadores em uma pauta que é pragmática, se as pessoas terão mais um dia ou não de folga com a manutenção do salário mínimo. É importante destacar que isso impacta aqueles setores do comércio, que tem flexibilizado há bastante tempo a jornada de trabalho para se organizar em uma jornada 6x1. Então eu vejo que é uma pauta que vai se tornar uma agenda nacional”, avaliou.
O especialista analisa que esta pode ser a grande chance da esquerda de finalmente dominar o discurso nas redes sociais e se reaproximar do eleitorado perdido para a direita nas últimas eleições.
“É muito interessante que seja uma pauta exatamente voltada para o dia a dia do trabalhador, da classe trabalhadora e eu vejo que ela tem como gerar um fôlego nas próximas semanas. A gente deve observar em que medida ela vai mobilizar a opinião pública, a classe trabalhadora e vai de alguma forma levar em consideração exatamente a condição de se tornar uma agenda nacional que coloque os trabalhadores em uma posição que seja mais próxima dos partidos de esquerda”, afirmou.
O texto propõe a redução de 44 horas semanais para 36 horas. Sendo assim, ninguém mais seria obrigado a trabalhar 8 horas por dia e ainda sugere que a escala seja realizada em quatro dias da semana, com folga nos outros três.
Caso consiga o apoio necessário dos parlamentares, a PEC será protocolada na Câmara dos Deputados, onde terá um relator. Depois disso, caso avance e seja aprovado no plenário da Casa, a proposta ainda precisará do aval do Senado e só depois irá para sanção do presidente.
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