NA BRONCA
Ministro da Saúde desiste de viagem aos EUA: 'afronta'
Alexandre Padilha afirma que condições impostas pelo governo dos EUA inviabilizam participação dele em reuniões em Washington

Por Redação

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta sexta-feira, 19, que desistiu de viajar aos Estados Unidos para participar da Assembleia Geral da ONU e de uma série de compromissos paralelos. O recuo ocorreu após o governo americano impor restrições de circulação que, segundo ele, inviabilizariam a execução de sua agenda oficial.
Padilha classificou as medidas como “inaceitáveis” e “uma afronta” ao Brasil. “Não é contra mim, Alexandre Padilha. É contra o ministro da Saúde do Brasil. Quando vou para um evento como esse, tenho que ter plena possibilidade de participar do conjunto das atividades das quais nós somos convidados”, afirmou em entrevista à GloboNews.
Entre as restrições impostas pelos EUA estavam a obrigatoriedade de permanecer em um perímetro de apenas cinco quarteirões em Nova York, limitado ao hotel, à sede da ONU e à missão brasileira; a proibição de viajar a Washington — o que o impediria de participar da Assembleia Geral da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas); e a exigência de que qualquer agenda fora do perímetro fosse autorizada com, no mínimo, 48 horas de antecedência.
Segundo o ministro, a proibição de deslocamento para Washington foi o ponto mais grave. Ele pretendia anunciar na Opas um reforço financeiro do Brasil ao fundo estratégico da entidade, que garante a compra de vacinas e medicamentos contra o câncer a preços reduzidos para países das Américas. A ausência, afirmou, frustra não apenas a presença do Brasil em debates técnicos, mas também compromissos de cooperação em saúde.
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Padilha destacou ainda que ficaria impedido de exercer funções de liderança em outros fóruns. Como presidente da parceria dos Brics na área da saúde, ele participaria de encontros paralelos na ONU. Também estavam na agenda reuniões do G20 e do Mercosul, que ocorrem frequentemente em embaixadas fora do perímetro autorizado, além de encontros bilaterais com autoridades estrangeiras e visitas a hospitais e indústrias americanas interessadas em investir no Brasil.
O ministro revelou que recebeu o visto dos EUA somente nesta semana, após atrasos que já haviam gerado preocupação no governo. Ainda assim, as condições impostas inviabilizaram a viagem. “Eles até podem impedir a presença do ministro, mas a ideia da defesa da ciência, da defesa da vacina, esse presidente dos Estados Unidos não vai conseguir impedir”, afirmou.
Padilha disse ter enviado uma “nota dura” à Organização Pan-Americana da Saúde criticando a decisão de Washington. No texto, defendeu que o espírito de cooperação internacional dos EUA “não sucumbirá à sombra de obscurantismo e de negacionismo que paira sobre o país atualmente”. Para ele, a postura americana é “absurda” e não intimidará o Brasil.
Mesmo sem a viagem, o ministro assegurou que o país continuará ampliando investimentos em ciência, tecnologia e produção nacional de vacinas. A resposta, disse, será reforçar a autonomia brasileira no setor. “Nossa ação internacional vai continuar. Eles podem até impedir a presença física do ministro, mas não a presença do Brasil no debate global em defesa da vida”, concluiu.
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