Abstinência do Twitter: veja relatos de jovens que sentem falta do app
Diversos jovens que tuitavam o dia inteiro estão sentindo falta do X, após suspensão da plataforma
Por Felipe Sena
Do comentário no post do amigo sobre a diva do pop ao comentário sobre o almoço caro e ruim num restaurante superestimado, o X, antigo Twitter, era como um amigo próximo para algumas pessoas, preparado para ouvir desde os assuntos mais triviais até as mais importantes.
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Após ser suspenso na última sexta-feira, 30, muitos jovens que usavam e acompanhavam as trends no Twitter, como ainda insistem em chamar, sentem falta da plataforma. O assunto que já virou até meme em outras redes sociais, como o Instagram, se tornou coisa séria. Alguns dizem que ligam o celular todos os dias, em um déjà vu, na expectativa do X estar de volta.
Veja relatos de jovens e rotinas após a suspensão do X:
Alexandre Simão, jornalista, 25 anos
“Sabe a síndrome do membro fantasma? Quando o paciente sente dor numa parte do corpo que foi amputada, pois é bem assim.
Todo pensamento que me vinha à cabeça, eu pensava num meme para ilustrar e tuitava, desde uma pessoa andando lento na minha frente na rua até uma decepção/frustração que eu tenha passado.
Eu entrei no finado Twitter (me recuso a chamar de X) em 2011, para acompanhar a Rihanna, que eu sou muito fã desde essa época. De lá pra cá, não saí mais, pois é a primeira rede social onde 'hitam' os memes e bordões da cultura pop como um todo. Usava a rede para reclamar de tudo, relatar besteiras do dia a dia, postar links de música, comentar reality shows, séries, novelas e até para paquerar. Boa parte de meus dates vieram de lá. Hoje em dia não apaguei o app, porque cultivo a esperança de um dia voltar, então diversas vezes no dia me pego pegando entrando lá e dando de cara com a timeline travada .
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Como eu fui um usuário antigo, vi diversas mudanças no design e interface do app. Antigamente era muito diferente, conseguíamos personalizar o blog do nosso perfil. Quando os headers chegaram, foi um marco. Tinham os tumblrs de icons, blogs que confeccionavam artes para decorar os fã clubes, que era o meu caso”.
George Magela, Social Listening, 23 anos
“É uma situação chata. Eu era bem ativo no Twitter e encontrei outras formas de desabafar/falar do cotidiano. Então agora não tenho a facilidade de ter a rede social no círculo de amizades.
Minha presença no Twitter era constante e diária. Usava tanto para lazer quanto para trabalho. Sobre lazer, meu uso era basicamente comentar sobre coisas cotidianas, tanto minhas quanto na rede de amigos que mantinha. Mas o maior impacto do bloqueio do X acredito que tenha sido no lado profissional: atualmente trabalho com social listening, e o twitter é uma das principais redes sociais para medir o desempenho de produtos midiáticos, campanhas publicitárias, etc. Sem esse feedback do público na rede social, a gente que trabalha na área enfrenta dificuldades”.
Uma questão de responsabilidade
De acordo com a psiquiatra e presidente da Associação em Defesa das Pessoas com Transtornos Mentais, Amigos e Familiares (Afatom), Sandra Peu, as redes sociais são importantes na percepção de pertencimento para o ser humano, que é um ser social e sente prazer em ser validado pelo grupo a qual pertence, como no caso do X.
“Para o cérebro, não é clara a diferença das experiências reais das virtuais. As experiências de grupo virtuais, porém, são muito mais rápidas, frequentes e até efêmeras e superficiais”, diz a psiquiatra.
Ainda segundo a especialista, “quem necessita de maior impacto de estímulos para sentir prazer neste tipo de relação social certamente vai sofrer mais a falta da rede social X, assim como sofreria com outra a qual se identificasse”.
No entanto, Sandra Peu destaca que um dos maiores problemas das redes sociais está relacionado ao desperdício de tempo.
“A fantasia de controle de informações quando se roda o feed, lendo tudo o que o algoritmo nos propõe, alivia instantaneamente a ansiedade que, poucos instantes depois vai se apresentar, quando interrompe-se a disposição de acatar um monte de informações desnecessárias”, diz.
Para a psiquiatra, pouco vai mudar nas relações dos jovens com a suspensão do X. Ela diz que eles vão migrar para outras redes sociais parecidas, o que já está acontecendo. Alguns até já publicaram no Instagram que estão se comunicando de forma parecida com a do X, pelo Bluesky.
Contudo, a especialista salienta que é importante ter a capacidade de gerenciar o que deseja encontrar na rede social e ir direto ao objetivo, se auto responsabilizando por não satisfazer o próprio prazer em entregar o tempo e a atenção ao que a rede social lhe propõe.
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