PERIGO
Caso de motoboy agredido expõe rotina arriscada; iFood se manifesta
Caso do trabalhador, vítima de violência física e verbal, mostra ausência de normas para a atividade
Por Madson Souza

Entregador do iFood foi vítima de violência física, verbal e teve a chave de sua moto levada, no último domingo, no Cabula, em Salvador. “Me senti humilhado. Estou sem coragem de trabalhar até agora, porque ele me ameaçou de morte”, diz Samuel do Vale, 30.
O caso - ainda que com gravidade fora do comum - é apenas um dos relatos dos profissionais da categoria que afirmam que as agressões verbais fazem parte da rotina de trabalho. Há também relatos de falta de suporte de empresas como iFood e da necessidade de regulamentar a profissão.
Cobrados para que entrem em condomínios para realizar as entregas na porta do cliente, considerados culpados pela demora, a realidade de quem trabalha como entregador nessas plataformas envolve desafios na relação com o cliente.
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O ex-entregador de iFood, Filipe Borges, 27, conta que já ouviu barbaridades no chat da plataforma e presencialmente também. “Já ouvi dizerem ‘tinha que ser entregador’, ‘por isso que é pobre’, ‘demorou porque tá com tal moto’. Aquelas piadinhas chatas”.
Entenda o caso envolvendo motoboy
No caso de Samuel, o impasse surgiu, porque segundo o entregador, que possui prints da conversa, o cliente teria colocado o ponto errado como destino final da entrega. Enquanto o entregador aguardava uma resposta do aplicativo após relatar o equívoco, o cliente foi até Samuel e o agrediu verbalmente e levou a chave do veículo do entregador - que mais tarde foi recuperada. O agressor se afastou e voltou depois com uma nova leva de xingamentos e acertou um golpe no entregador.
A situação foi gravada e compartilhada nas redes sociais por terceiros e gerou resposta da categoria. Mais de 100 motociclistas pararam na frente do prédio do suspeito e se manifestaram com buzinas e fogos de artifício. Samuel conta que foi a primeira vez que uma ocorrência desse tipo aconteceu com ele. O entregador reforça que se a plataforma tivesse procedimentos de resposta mais rápidos esse equívoco poderia ter sido evitado.
“O aplicativo precisa agilizar o tempo de resposta. Se quando eu chamei o suporte e falei que o cliente colocou a localização errado, o aplicativo tivesse protocolos mais rápidos não teria acontecido nada disso. Tive que aguardar o iFood responder, porque não posso sair do local até ter a resposta e nesse tempo ele chegou”, comentou.
O que diz o iFood
Em nota, o iFood, afirmou que oferece assistência psicológica e jurídica para os entregadores vítimas de discriminação, agressão, ameaça e violência sexual durante o serviço. O texto indica que a empresa já entrou em contato com o entregador para oferecer esse suporte e afirma que já aplicou sanções ao cliente.
Em fevereiro deste ano, foi divulgado um relatório da plataforma que indica ter recebido mais de 19 mil denúncias válidas desde o lançamento de Política de Combate à Discriminação e Violência em fevereiro de 2024. Entre as ocorrências, 38% foram para estabelecimentos, 33% foram direcionadas a clientes e 28% contra entregadores e um total de 90% das denúncias válidas resultaram em sanções.
Busca por melhorias
Mesmo diante desse cenário ocasional de ofensas, há outros desafios no trabalho de entregador. Filipe aponta que há um sentimento de insegurança por falta de transparência da plataforma, que apresenta diversos dados dos entregadores e quase nenhum dos clientes; em conjunto com isso há também reclamações sobre o valor da taxa mínima do serviço, que hoje é de R$7,50 - para entregas de carro e moto. “A galera fica doze horas na rua pra fazer R$200 e depois perceber que gastou R$30 de gasolina e R$20 pra almoçar”, conta o ex-entregador.
Neste momento, segundo o presidente da Associação dos Motofretistas, Mototaxistas e Moto Entregadores da Bahia (AMMMBA), Cid Santos, a expectativa da categoria é pelo Projeto de Lei 2479/2025 que está na Câmara dos Deputados. O texto da legislação trata do valor mínimo para remuneração para serviços de trabalhadores de plataformas digitais de entregas e mototaxistas, além de estabelecer regras de transparência, cria obrigação de seguro de acidentes e outras ações.
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